Também na psicologia a ligação e a colaboração da pesquisa entre medicina veterinária e medicina humana estão presentes, entrelaçadas, notadamente na psicologia comparada.

O método comparado favorece a todos os pesquisadores que defendem a teoria da continuidade entre os animais e o homem. E isso com base no princípio da analogia proposto desde a Grécia Antiga pelo filósofo Aristóteles que não aceitava nem a univocidade nem a equivocidade do ser. Esse método supõe a possibilidade plena de se transladarem os resultados de pesquisas realizadas numa faixa de complexidade biológica mínima para estágios de complexidade superior. Essa transladação é considerada pelos especialistas um recurso hábil e metodologicamente legítimo.

O estudo da conduta animal, que é muito antigo, tem dois objetivos básicos: (a) o conhecimento pormenorizado dos padrões de resposta que caracterizam e definem determinada espécie, e (b) a análise de tipos de comportamento que, ou não se revelam acessíveis em suas formas de expressão humana ou se apresentam nesse nível com extrema dificuldade, justificando sua objetivação em faixas biologicamente menos complexas. “Trata-se então de promover, com fundamento no princípio da analogia, a transposição dos resultados para o nível humano. Compõe-se, para tal fim, uma teoria geral com possibilidades de cobrir adequadamente tanto os padrões de conduta exibidos nas faixas inferiores, quanto os que se mostram em nível superior” (Encyclopaedia Britannica do Brasil – tomo17, página 9416).

Segundo o estudo de Paul Guillaume – Cinquante ans de psycologie animale (1954) as pesquisas de I.P. Pavlov sobre a formação de respostas condicionadas em cães, por exemplo, visam não ao conhecimento de um problema limitado de psicofisiologia com ocorrência nesses animais, mas a construção de uma teoria geral da aprendizagem, válida portanto para a explicação dos modos de aquisição de novas formas de comportamento também do homem.

Da mesma maneira, as pesquisas de W. Köeler sobre a inteligência dos chimpanzés tinham meta mais ambiciosa que a do simples conhecimento das estratégias de solução de problemas nesse nível biológico. Elas visavam a fundamentação de uma concepção mais abrangente sobre o comportamento inteligente, valendo para o ser humano.

Cláudio Ângelo, do Instituto de Psicologia, em matéria publicada no Jornal de Ciência (órgão da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em fevereiro de 2007, relata que um grupo internacional de pesquisadores descobriu numa floresta da Costa do Marfim um conjunto de ferramentas rudimentares de pedra com 4.200 anos de idade, o que em si não é nada de excepcional. A novidade é que os fabricantes dos instrumentos não foram caçadores-coletores humanos, mas sim um bando de chimpanzés. Esse achado muda o sentido da expressão “Idade da Pedra” e faz os olhos dos interessados nas origens do homem se voltarem às florestas tropicais do oeste da África, até então preteridas em favor das savanas.

Embora ferramentas de pedra antigas usadas por esses macacos para quebrar frutos secos já fossem conhecidas, essa foi a primeira vez que se descobriu sítios arqueológicos com vestígios milenares de uma “cultura dos macacos”. E isso traz à tona uma indagação que os antropólogos têm se feito: “O que é cultura?” Essa definição tem ficado cada vez mais nebulosa em função dos estudos sobre o comportamento animal.

Considerada num passado não muito distante uma característica humana por excelência, a transmissão cultural – que inclui o uso de ferramentas para modificar, intencionalmente, o ambiente – já está bem comprovada em grandes macacos como os chimpanzés. E há bons indícios de que ela aconteça entre golfinhos e até mesmo entre os modestos macacos-prego, separados da linhagem humana por 30 milhões de anos de evolução.

O desenvolvimento de novos conhecimentos – aí incluídos, mas não só, os da genética e os da informática – permitem antever progressos significativos tanto no campo da psicologia animal como no da psicologia comparada.