Para que o tema Leptospirose Genital Bovina (BGL) seja abordado, faz-se necessário que iniciemos explicando brevemente a leptospirose. Leptospirose é uma doença infecciosa e zoonótica que é comumente encontrada em países de clima tropical e subtropical por serem países que oferecem maiores condições climáticas como calor e umidade. Estes são fatores benéficos para a sobrevivência e permanência da bactéria no ambiente de modo que possa encontrar seus hospedeiros e se perpetuar. Apesar de ser uma doença amplamente distribuída pelo mundo, é também uma doença endêmica no Brasil. Essa doença é causada por espiroquetas do gênero Leptospira spp., e possui grande importância tanto em ambientes urbanos quanto em ambientes rurais.

Ao falarmos da Leptospirose pensamos, a princípio, em roedores e algumas outras espécies animais que são mais comuns de adoecerem pela infecção e desenvolverem a Leptospirose. Quando esta acomete os bovinos, as bactérias têm preferência pelo trato genital, diferente das demais espécies onde o sítio primário de infecção é o trato urinário. Diante disso, surge o tema Leptospirose Genital Bovina.

A BGL é uma doença caracterizada pela presença e a colonização de bactérias do gênero Leptospira spp. no trato reprodutivo (ovários, ovidutos, útero, secreção vaginal e sêmen), e diante disso, causa problemas relacionados à reprodução desses animais, como falhas reprodutivas, que envolvem abortamentos, repetição de estro, infertilidade, subfertilidade, natimortos e bezerros fracos. Essas falhas demandam atenção dos médicos veterinários e produtores, pois falhas na reprodução significam grandes prejuízos econômicos para a pecuária. Além disso, esta doença pode se apresentar de maneira crônica e subclínica, caracterizando-se como uma síndrome silenciosa, o que faz com que alguns profissionais e até mesmo os produtores não deem a ela a devida atenção.

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Já é de grande conhecimento que o gênero Leptospira spp. possui uma ampla e diversa gama de espécies e que, por isso, as bactérias precisaram ser agrupadas em sorogrupos. Diferente das outras espécies animais, os bovinos apresentam sinais clínicos diferentes de acordo com o tipo de sorogrupo que está infectado. Na BGL, o sorogrupo Sejroe e sorovariedades Hardjo e Guaricura são as bactérias que frequentemente infectam os bovinos adultos e causam a forma crônica da doença, que apresenta manifestações clínicas brandas pois os bovinos já são adaptados a elas. Quando sorogrupos e sorovariedades diferentes a esses infectam bovinos, que não são adaptados a eles, esses animais apresentam a forma aguda da doença com manifestações graves; esses sorogrupos são então considerados como sorogrupos incidentais. No entanto, a forma aguda da doença ocorre mais em bezerros, que acabam se infectando pelo contato com a urina de roedores e/ou de animais infectados na propriedade que têm contato com esses bovinos.

A transmissão da BGL pode ocorrer por meio do contato indireto com a urina ou fluidos vaginais ou de forma direta por meio da monta natural ou sêmen de animais infectados, o que chama a atenção para o risco de transmissão por meio da inseminação artificial. Além disso, em locais onde há baixos índices pluviométricos, a transmissão da leptospirose genital entre bovinos ainda é possível, visto que as espécies Leptospira que causam a infecção genital não necessitam de água para alcançar outro hospedeiro.

O diagnóstico pode ser realizado por meio da aglutinação microscópica (MAT), teste sorológico considerado padrão ouro pela Organização Mundial de Saúde Animal para a detecção da leptospirose. Métodos diretos como cultura bacteriológica e reação em cadeia de polimerase (PCR) também podem ser utilizados.

O tratamento mais indicado até o momento é a administração de antimicrobianos e para a prevenção da doença, é recomendada a vacinação de todo o rebanho e o rastreio e controle de procedência dos animais.

Referências bibliográficas

AYMÉE, L. et al. Leptospirose Genital Bovina: uma síndrome silenciosa e com importante impacto reprodutivo. 2023.

ARAÚJO, Hugo Libonati de et al. Leptospirose bovina e sua relação com falhas reprodutivas em rebanhos leiteiros do Estado do Rio de Janeiro. 2018.

Autores: Daniel Falcão Lopes Princisval Carlos, Fernanda da Silva Freitas Campos, Jóice Andrade da Silva Rocha, Letícia Pereira da Silva e Sheila Denise de Oliveira Neves – Discentes do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ

Supervisionado por: Prof. Clayton B. Gitti – Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ.

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