Por Sávio Freire Bruno e Marcela Pereira dos Santos
Introdução
A fragata (Fregata magnificens), também conhecida como tesourão, é uma das aves marinhas mais encontradas no Brasil. É uma ave da ordem dos Suliformes, da família Fregatidea. As fragatas apresentam asas longas e angulares e possuem uma cauda bifurcada. O bico é longo e bem forte, com uma ponta curvada.
A espécie apresenta dimorfismo sexual na plumagem e tamanho, com fêmeas maiores e mais pesadas que os machos (Osorno, 1996). As fragatas são geralmente pretas, porém as fêmeas e os filhotes apresentam diferentes padrões de coloração na cabeça, no peito e no ventre. O macho é preto e pode ser identificado por um saco gular vermelho em época de reprodução (Fig. 1). As fêmeas têm o peito branco e a cabeça escura (Fig. 2). Os jovens de início apresentam a cabeça e o ventre brancos e, ao se desenvolverem, suas cabeças vão escurecendo (Fig. 3). Os filhotes também possuem uma faixa de cor pálida nas asas superiores. Na fase adulta, a fragata ou tesourão mede entre 85 e 100 cm de comprimento, pesa entre 1,4-1,5 kg e possui uma envergadura que varia de 217 a 224 cm, em ambos os sexos (Wikiaves, 2024).
Distribuição Geográfica
A fragata apresenta uma ampla distribuição geográfica, ocorrendo no Oceano Atlântico pela costa da América do Sul, América Central, México e África; e no Pacífico, da Colômbia ao Peru, ocasionalmente até o Chile (Sick, 1997, Diamond; Schreiber 2002). No Brasil são encontradas colônias em Fernando de Noronha, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Sick, 1997).
Essas aves marinhas habitam ilhas oceânicas tropicais. Nunca pousam sobre o mar pois não possuem gordura protetora, perdendo calor com facilidade; elas descansam planando ou pousadas em ilhas. Além disso, possuem o hábito de dormir empoleiradas ou sobre rochas. Como aves costeiras, podem ser avistadas, por exemplo, na Baía de Guanabara e região, havendo uma população que frequentemente se estabelece ao longo da Ponte Rio-Niterói.
Hábitos Alimentares e Estratégias de caça
A fragata possui um cardápio bastante diverso em função da disponibilidade de alimento e da técnica de captura utilizada (Calixto-Albarrán; Osorno, 2000; Branco 2001). A fragata alimenta-se principalmente de peixes e pequenos crustáceos. As fragatas são conhecidas como as piratas do mar, pois roubam os peixes de outras aves marinhas, como os atobás e gaivotas, e competem por alimento com outros indivíduos da espécie (Sick, 1997). Esse comportamento, característico dessa espécie, é chamado de cleptoparasitismo. Seu bico, com a ponta em forma de gancho, permite que capturem animais próximos à superfície da água (Fig. 4), realizando voos baixos para pescar seu alimento.
As fragatas são frequentemente vistas sobrevoando barcos de pesca, aproveitando a oportunidade para capturar seu alimento (Fig. 5). Além disso, elas também podem ser encontradas pescando em associação com cetáceos, como golfinhos (Fig. 6). Essa associação é caracterizada como comensalismo, onde as aves são beneficiadas ao aproveitarem o cardume previamente localizado pelos golfinhos. Os golfinhos, por sua vez, também podem associar a presença das fragatas sobrevoando uma dada porção marinha como indicativo da presença de peixes e se beneficiar numa eventual associação (Monteiro-Filho, 1992; Lodi, 1998).
Reprodução
O início do período reprodutivo pode variar entre junho e agosto, e a maioria das eclosões ocorre em novembro e dezembro. A presença de vários machos com as bolsas gulares infladas caracteriza o início da corte. Em ilhas oceânicas, os ninhos são construídos sobre arbustos e árvores. Durante o período reprodutivo, machos e fêmeas alternam-se na incubação de um único ovo (Fig. 7), como também no cuidado parental do filhote, a fêmea pode alimentar o filhote até cerca de 9 meses de idade. O tempo de incubação varia entre 45 e 56 dias.
Principais ameaças
De acordo com a lista vermelha IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) a Fregata magnificens se encontra na situação “pouco preocupante (LC)” Suas principais ameaças naturais são as predações de ovos e filhotes que ocorrem pelo urubu-comum, gavião-carrapateiro e carcará. O grande impacto antrópico que vem ocorrendo nas áreas costeiras, principalmente a poluição, seja física, química ou orgânica, vem ameaçando toda a biodiversidade, incluindo a sobrevivência e reprodução de aves marinhas e costeiras (Semedo, 2021).
Curiosidades
A fragata é a primeira ave que muitas crianças, especialmente aquelas que vivem próximas ao mar, aprendem a desenhar. Devido ao seu formato simples e marcante, ela é retratada quase sempre como um “V” ou um “W” no céu de uma ilustração. Esse fato reflete a presença da fragata nas nossas vidas e o simbolismo que criamos entre ela e a natureza a qual pertencemos. Essa familiaridade inicial que temos com as fragatas torna a conservação dessa espécie ainda mais significativa.
Referências bibliográficas
BRANCO, Joaquim Olinto. Aves marinhas das Ilhas de Santa Catarina. In: BRANCO, Joaquim Olinto (Org.). Aves marinhas e insulares brasileiras: bioecologia e conservação. Itajaí, SC: Editora da UNIVALI, 2004. p. 15-36.
BRANCO, Joaquim Olinto; FRACASSO, Hélio A. A.; MACHADO, Ivo F.; EVANGELISTA, Carlos L.; HILLESHEIM, Juliana C. Alimentação natural de Fregata magnificens (Fregatidae, Aves) nas Ilhas Moleques do Sul, Santa Catarina, Brasil. Centro de Ensino em Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, Univali, Itajaí, SC, Brasil. Recebido em: 17 mai. 2006; aceito em: 21 nov. 2006.
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LODI, Liliane; HETZEL, Bia. Grandes agregações do boto-cinza (Sotalia fluviatilis) na Baía da Ilha Grande, Rio de Janeiro. Bioikos, [S. l.], v. 12, n. 2, 1998. Disponível em: https://periodicos.puc-campinas.edu.br/bioikos/article/view/945. Acesso em: 28 out. 2024.
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SEMEDO, Gilson Manuel Lopes. Distribuição, abundância e conservação das aves marinhas de Cabo Verde. Orientador: Jaime Albino Ramos. Coorientadores: Vítor Hugo Rodrigues Paiva; Teresa Militão. Coimbra, 2021. Dissertação (Mestrado) — Universidade de Coimbra, 2021.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
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