Entrevista com Dr. Jorge Pereira, oftalmologista veterinário de sucesso
Por Luiz Octavio Pires Leal, da Academia Brasileira de Medicina Veterinária.
1. Quais conselhos que o colega daria aos interessados nessa especialidade? Como e onde aprender?
A oftalmologia veterinária é uma área fascinante e em crescimento. Para quem deseja se especializar, o primeiro passo é investir em uma base sólida em clínica geral e adquirir experiência com diferentes espécies. Participar de cursos de especialização em oftalmologia veterinária é essencial. No Brasil, várias instituições oferecem formações específicas, como a ANCLIVEPA SP, o mais tradicional, que acaba de formar sua 9a. turma, após 18 anos de existência. Frequentar Congressos e eventos internacionais de educação continuada na área, também são uma excelente fonte de aprendizado. Além disso, procure um mentor experiente para orientá-lo durante os primeiros passos da carreira.
Se for possível, concluir um programa de residência em Oftalmologia. Em nosso país, apenas a UFRRJ, no Estado do RJ e a UFPR, no Paraná, possuem estes programas.
2. Como foi a sua trajetória até chegar ao nível de um respeitado veterinário oftalmologista? Como consegue manter-se atualizado?
Minha trajetória começou com a graduação em Medicina Veterinária, mas foi durante um estágio em clínica geral que percebi minha paixão por oftalmologia. Nos primeiros 10 ajoa de carreira, acompanhei Médicos a Oftalmologistas para humanos, meu sogro, inclusive, e procurava trazer para a Oftalmologia Veterinária, aquilo que, com eles, aprendia. Após 9 anos de graduação tive a oportunidade de fazer minha primeira Pós Graduação nos EUA e, após 15 anos, a segunda, também nos EUA, desta vez, especifica em “Pesquisa Oftálmica”. Naquele tempo, retornando ao Brasil, sempre procurei trabalhar em Clinicas de referência, uma no Rio de Janeiro, do meu irmão Luiz Pereira e a outra, em Teresópolis, de minha propriedade, e da minha esposa, Amarilis, onde ganhei experiência prática e construí uma rede de contatos.
Manter-se atualizado é crucial: eu participo de congressos anuais, cursos de reciclagem e acompanho as principais publicações científicas internacionais. Claro que, até os dias de hoje, com 43 qnos de graduado, sigo acompanhando colegas, em programas de “externship” nos países onde eventualmente eu esteja para um congresso de Oftalmologia. Nestes dias, com a tecnologia, webinars e fóruns online também são recursos valiosos.
3. Quais as ocorrências principais de problemas dos olhos dos cães e dos gatos?
Nos cães, as condições mais comuns incluem úlceras de córnea, ceratoconjuntivite seca (olho seco), catarata, glaucoma e distiquíase (cílios ectópicos). Já nos gatos, infecções virais como as causadas pelo herpesvírus felino são frequentes, além de uveítes, úlceras de córnea e traumatismos. Ambas as espécies também apresentam casos de conjuntivite e alterações congênitas, como entrópio e ectrópio, entre muitas outras. Inflamações intra oculares em felinos, invariavelmente, estão ligadas a doenças sistêmicas se manifestando nos olhos.
4. É possível prestar um bom serviço com atendimento domiciliar ou é imprescindível ter um consultório especializado, fixo?
Embora o atendimento domiciliar seja uma opção interessante para alguns casos, ele é limitado em termos de diagnóstico e tratamento. Muitas condições oculares requerem equipamentos específicos, como oftalmoscópios, tonômetros e lâmpadas de fenda, que são portáteis e podem ser levados às residências, no entanto, qualquer exame complementar exige o animal no ambiente hospitalar. Portanto, para prestar um serviço de qualidade, é imprescindível ter um consultório ou uma clínica muito bem equipada. O atendimento domiciliar pode ser reservado para casos de triagem ou situações em que o transporte do animal seja inviável, apenas e, preferencialmente.
5. Pode nos dar uma ideia do investimento necessário em equipamento para montar um consultório de oftalmologia veterinária?
O investimento inicial varia, mas é significativo. Equipamentos básicos incluem um oftalmoscópio indireto (cerca de R$ 10 a 15 mil), um tonômetro (entre R$ 15 mil e R$ 27 mil) e uma lâmpada de fenda (aproximadamente R$ 15 mil a R$ 35 mil). No quesito preço, também é importante lembrar aquela máxima que diz: “não existe almoço grátis”. Por vezes, ao optar por equipamentos de custo baixo, o comprador fica “condenado” a fazer, na sequência, um segundo investimento em outro, verdadeiramente de qualidade. Outros itens, como lupas de magnificação, retinógrafos e material cirúrgico específico, podem elevar ainda mais os custos. No geral, o investimento para iniciar um consultório pode ultrapassar R$ 100 mil, mas é uma área que oferece ótimo retorno financeiro e pessoal.
Conclusão:
A oftalmologia veterinária é uma especialidade técnica e apaixonante. Com dedicação, formação continuada e investimento, sem pressa, é possível construir uma carreira sólida e fazer a diferença na saúde ocular de milhares de animais.