Por: Sávio Freire Bruno e Bianca da Silva Tavares
Introdução
O gavião-caboclo é também conhecido popularmente como “casaca-de-couro”, “gavião-rapé”, “gavião-fumaça”, “gavião-puva”, “gavião-telha”, “gavião-mariano” e “gavião-tinga”. No campo científico, seu nome, Heterospizias meridionalis, vêm do grego, “heteros = diferente”; e “spizas = falcão, gavião”; e do latim “meridies, meridionalis = sul, do sul”.
É uma ave de rapina campestre e cosmopolita da família Accipitridae e da ordem Accipitriformes, ocorrendo do Panamá até a Argentina e em todo território do Brasil (com menor frequência na Amazônia). A espécie possui em média 55 cm de comprimento e pesa de 600 a 1000 gramas, sendo relativamente grande. Quando adulto, possui uma coloração predominante em tons marrom-ferrugem, com longas asas avermelhadas com as extremidades pretas (Fig. 1), cauda preta com uma faixa branca estreita na ponta, e suas pernas, patas e pele das narinas nuas e amarelas, bico negro e olhos marrons-avermelhados. O jovem é muito diferente, com o corpo se dividindo entre tons de creme e marrom, cinza amarronzado nas costas e barriga com uma cruz creme, com riscos verticais escuros e uma semicoleira escura. Sobre os olhos, uma faixa branco-amarelada. A cauda é creme, com finas listras escuras (Fig. 2).
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Fig. 1: Gavião-caboclo adulto em voo, mostrando o padrão avermelhado com extremidades pretas de suas asas. Foto: Sávio Freire Bruno. São Roque de Minas, MG, julho de 2015.
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Fig. 2: Gavião-caboclo jovem. Foto: Sávio Freire Bruno. Xinguara, PA, agosto de 2020.
No que diz respeito ao comportamento, o gavião-caboclo é uma espécie diurna, solitária e territorial. São carnívoros e têm a visão muito bem desenvolvida para a caça durante o dia ou no crepúsculo (Lagos et al., 2018). Preferem áreas de mata fechada ou matagal alto, onde podem se camuflar facilmente enquanto esperam pelas suas presas, que serão capturadas usando suas pernas fortes e garras raptoras através de voos planados, silenciosos e precisos, nos quais são capazes de efetuar manobras rápidas durante a caça.
Distribuição Geográfica
Essa espécie habita os campos, cerrados, caatingas, campos sujos, savanas de cupim, pastos, plantações, buritizais, pantanais, banhados, manguezais, matas de galeria, matas secas, matas ripárias (Sigrist, 2006) e pode estar tanto em beiras de estradas (áreas urbanas) quanto em pontos bem altos (Fig. 3) para permanecer sempre na vigilância da atividade de suas possíveis presas, espreitando o solo em diferentes poleiros como postes, mourões e cupinzeiros terrestres (Fig. 4).
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Fig. 3: Gavião-caboclo pousado em palmeira alta, alerta a suas presas. Foto: Sávio Freire Bruno. Pantanal, fevereiro de 2019.
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Fig. 4: Gavião-caboclo sobre cupinzeiro, alerta à presença de presas. Foto: Sávio Freire Bruno. Serra da Canastra, MG, setembro de 2005.
Hábitos Alimentares
Como ave oportunista, o gavião-caboclo preda uma gama de indivíduos de pequeno e médio porte, como aves, cobras, rãs, sapos, grandes insetos, caranguejos (em mangues, nas baixas de marés), lagartos e pequenos mamíferos, podendo roubar peixes de outras espécies de aves, como garças e jaburus (Sigrist, 2006). Sua alimentação é baseada principalmente em vertebrados. Como hábito mais notável, se aproxima e se aproveita de incêndios em campos ou florestas para capturar e abater calmamente as espécies de pequenos animais e insetos que se encontram em fuga e sem abrigo, ou mesmo moribundas ou mortas pelo fogo no solo.
Comportamento Reprodutivo
O período reprodutivo vai de julho a novembro. A nidificação ocorre em ninhos formados por grandes gravetos, e o casal geralmente nidifica em árvores baixas e isoladas ou frondes de palmeiras. A fêmea deposita no ninho um ou dois ovos brancos. Para se comunicar, o casal usa um assobio fino, longo e choroso, repetido continuamente.
Estado de Ameaça
Atualmente na condição LC (Least Concern = Menos preocupante) pela avaliação da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), esta ave é considerada uma espécie de importância ecológica, ajudando a controlar as populações de pequenos vertebrados em seu habitat. No entanto, enfrenta ameaças como a perda de habitat devido ao desmatamento e à caça ilegal em algumas áreas. Medidas de conservação são essenciais para garantir a sobrevivência desta espécie e seu papel no ecossistema.
Referências bibliográficas
ANDRADE, Marco Antonio de. Aves silvestres: Minas Gerais. Belo Horizonte: Conselho Internacional para a Preservação das Aves, 1997.
BirdLife International. Buteogallus meridionalis. The IUCN Red List of Threatened Species 2020. Disponível em: <https://www.iucnredlist.org/species/22695832/168793019>. Acesso em 3 de novembro de 2024.
LAGOS, Adriano Rodrigues, et al. Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro: FURNAS, 2018.
OLIVEIRA, Aílton Carneiro de, et al. Guia para observação das aves: do Parque Nacional de Brasília. Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, 2011.
SIGRIST, Tomas. Aves do Brasil: uma visão artística 2. ed. São Paulo: Avis Brasilis, 2006.
SILVEIRA, F. F. Fauna Digital do Rio Grande do Sul, 2018. Bird and Mammal Evolution, Systematics and Ecology Lab – UFRGS. Disponível em: https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/gaviao-caboclo-heterospizias-meridionalis/. Acesso em 20 de outubro de 2024.
WIKIAVES (2024) [Gavião-caboclo (Heterospizias meridionalis)]. WikiAves, a Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaviao-caboclo>. Acesso em 19 de outubro de 2024.