Com mais de meio século de experiência, estudos e pesquisa, a ANCP é referência em melhoramento genético das raças zebuínas no Brasil

Contribuir para a evolução da pecuária brasileira através de estudos, pesquisas e inovação tecnológica é um dos compromissos da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) para garantir a evolução sustentável do segmento. Dentro dessa proposta, a missão da entidade é aumentar a produtividade da pecuária de corte, por meio do melhoramento genético das raças, sempre buscando a satisfação de todos os envolvidos na cadeia produtiva da carne, do criador ao consumidor final.

O projeto foi iniciado em 1968, com o geneticista professor Dr. Warwick Kerr, à época chefe do Departamento de Genética da Universidade de São Paulo (USP), que realizou análises estatísticas para o melhoramento genético do rebanho da raça Nelore, utilizando os dados da Fazenda Bonsucesso, de propriedade do criador Arnaldo Zancaner. A partir daí, o Departamento de Genética e Matemática Aplicada à Biologia da USP e seus pesquisadores continuaram os trabalhos de análises estatísticas voltadas à raça Nelore.

Professor Raysildo Lôbo, presidente da ANCP.

Em 1988, com o apoio dos criadores da raça, foi oficialmente fundado o primeiro programa de melhoramento genético bovino, que levou o nome de Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN). O objetivo dos pesquisadores da USP e dos criadores era melhorar geneticamente a raça Nelore e a sua lucratividade. “Em 1995, para dar continuidade ao PMGRN (agora conhecido como Nelore Brasil) e o melhoramento genético das demais raças de corte zebuínas, foi criada a ANCP, instituição sem fins lucrativos”, conta o professor Raysildo Lôbo, atual presidente da entidade.

Segundo ele, o programa, iniciado como projeto de pesquisa, também contribuiu para a formação de inúmeros mestres e doutores, e contou com o auxílio financeiro de entidades de fomento à pesquisa, tanto nacionais quanto internacionais. Desde a década de 1990, a ANCP recebe somente contribuições dos próprios criadores associados. “Portanto, é um projeto idealizado pelos pesquisadores e criadores e mantido pelos próprios criadores que acreditam na ciência e na pesquisa para o melhoramento genético e o aumento da produtividade das raças bovinas zebuínas de corte”, explica Lôbo.

O projeto iniciou com alguns pesquisadores e três fazendas de gado de corte e hoje é considerado um dos principais programas de melhoramento genético de bovinos de corte do País, com fazendas associadas em mais de 20 Estados brasileiros e de países da América Latina (Bolívia, Colômbia e Paraguai).

Processo

De acordo com o professor, como todo projeto pioneiro, em especial, no Brasil, é preciso superar alguns gargalos e dificuldades, como a de captar recursos e contar com criadores dispostos a investir no início do processo. “Com o passar do tempo, após um trabalho educacional (cursos, seminários e treinamentos), e o entendimento dos criadores e da cadeia da carne sobre as vantagens do melhoramento genético para o aumento da produtividade, essas dificuldades foram superadas”, observa. “O criador passou a ver que o que era gerado no programa, como as Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs), reproduzia muito bem o que era observado no campo, além de gerar o aumento da lucratividade”, avalia.

No entanto, Lôbo lembra que na parte de pesquisa as dificuldades foram menores, em especial porque iniciou em uma instituição de bastante renome. Além de ser um projeto muito bem estruturado cientificamente, ele foi aprovado por várias agências de fomento nacionais e internacionais, que deram o suporte financeiro nos primeiros anos. A partir da década de 1990, os criadores, agora com o entendimento e experiência do retorno econômico trazido, passaram a contribuir financeiramente. “Hoje, o projeto é financiado 100% pelos criadores associados”, afirma o presidente da entidade.

Crescimento

Como toda entidade em constante desenvolvimento, a ANCP, conta, hoje, com seis programas de melhoramento genético. São feitas as avaliações genéticas para cinco raças bovinas de corte (Nelore, Guzerá, Brahman, Tabapuã e Senepol) e mais o Programa ANCP de Melhoramento Genético de Gado Comercial (PMGC). “Também contamos com fazendas associadas em mais de 20 Estados brasileiros, além de países da América Latina como Bolívia, Colômbia e Paraguai”, cita o professor, acrescentando que, atualmente, a entidade tem uma base de dados de qualidade e bem conectada que engloba cerca de três milhões de animais.

Bovinos da raça Nelore. Foto: ANCP

Lôbo enfatiza que, como em toda empresa ou projeto, comete-se erros em sua trajetória até se alcançar os resultados pretendidos e, consequentemente, o sucesso. No entanto, ele considera que o projeto não teve erros significativos que não fosse possível seguir caminhos alternativos para superá-los. “Esse projeto está cada vez mais consolidado no mercado nacional e internacional, com boa aceitação por parte dos criadores brasileiros e de países da América Latina, além de empresas da cadeia pecuária, como as centrais de inseminação artificial”, salienta. “Essa aceitação e confiança deve-se, principalmente, ao visível retorno, em relação ao aumento da produtividade, obtido pelo criador ao utilizar as ferramentas fornecidas”, comemora.

Estrutura

Com sede em Ribeirão Preto, SP, a ANCP é administrada por sua presidência e diretoria, eleitas através de assembleia, a cada triênio, pelos criadores e pesquisadores associados, e conta com equipe técnica administrativa responsável pela gestão dos serviços realizados interna e externamente. Além da equipe locada em sua sede, a ANCP ainda tem 20 pesquisadores associados de instituições de pesquisas ou universidades nacionais e internacionais.

“Todas as ferramentas disponibilizadas pela ANCP e suas avaliações genéticas e genômicas são geradas pela equipe técnica e pesquisadores, mantendo a qualidade científica dos dados pelos quais a entidade é reconhecida”, destaca Lôbo, informando ainda que, além dos profissionais já destacados, há cerca de 30 consultores técnicos de campo, prestadores de serviços para a entidade, com graduação superior em ciências agrárias, treinados e capacitados em melhoramento genético. Esse time auxilia os criadores no entendimento e no correto uso das ferramentas e tecnologias para o melhoramento genético de seus rebanhos.

Zebuinos. Foto: ANCP

Posicionamento

Conforme explica o presidente da ANCP, um dos objetivos da entidade é tomar decisões baseadas em evidências técnicas-científicas provindas das pesquisas, atendendo, ao mesmo tempo, as demandas do mercado. “A pecuária moderna não tem espaço para erros e as tomadas de decisões do criador têm de ser precisas para que ele colha os frutos da seleção genética. Para isso, ciência e mercado têm de andar lado a lado”, alerta.

Como uma associação de classe, de acordo com o executivo, um dos papéis fundamentais da ANCP é realizar a transferência da tecnologia dos livros para o campo, aumentando a disseminação do conhecimento, de maneira que criadores de gado de corte e empresas do ramo passem a reconhecer e aplicar as tecnologias. “Do ponto de vista da pecuária de corte, as associações cumprem seu papel”, pontua.

Lôbo destaca a participação das instituições governamentais, em vários setores da produção, e entre eles, a genética. “Sem o papel das instituições de pesquisa e de pesquisadores da área de produção animal e melhoramento genético, todos financiados com recursos da União, podemos afirmar, com convicção, que a evolução genética dos rebanhos de corte brasileiros não estaria na posição que ocupa hoje no cenário mundial”, observa.

“Um grande exemplo é a própria ANCP, que hoje realiza um principais programas de melhoramento genético de bovinos de corte do País. Além disso, muitas outras pesquisas na área de melhoramento já eram realizadas em universidades e instituições públicas federais e estaduais, como o Instituto de Zootecnia (IZ), fundado em 1905”, lembra o especialista, listando ainda outros exemplos, como a criação da Embrapa e de outras instituições de pesquisa estaduais voltadas à pesquisa agropecuária na década de 1970. “Claro que não foi somente o interesse da instituição pública pelo tema, mas o trabalho conjunto dessas instituições com criadores de gado independentes culminou com os resultados hoje conhecidos. Essa simbiose foi essencial para o sucesso”, enfatiza o professor.

Missão

Como toda entidade ou empresa que pretende se tornar uma referência no seu segmento, ter missões e valores bem definidos são fundamentais para que os resultados estejam de acordo com os objetivos. De acordo com o presidente da ANCP, o tripé dos grandes diferenciais da entidade é composto pela qualidade dos dados, inovação tecnológica e disseminação do conhecimento. “A ANCP se mantém fiel à qualidade científica e ao pioneirismo das pesquisas e tendências de mercado”, salienta Lôbo.

Com uma equipe de pesquisadores das mais respeitadas instituições nacionais e internacionais, a entidade tem a capacidade técnica de transferir para o campo as mais recentes descobertas científicas. “Ao mesmo tempo, não fecha os olhos para as tendências do mercado pecuário, sempre objetivando aumentar a produtividade e rentabilidade do produtor”, arremata o presidente da entidade.