Dentre as muitas formas artísticas destinadas a registrar o carinho, a fidelidade e o amor dos cães, mesmo depois da morte de seus donos, encontramos uma pintura que pode ser considerada como a mais conhecida composição no gênero. Uma genuina oração “RIP” (*)! É esse o título da obra do artista inglês Briton Rivière: “REQUIESCAT”.
Por si só, o quadro diz tudo! Desnecessário comentar a cena! Ela bem representa a fidelidade canina. Acredita-se que o mérito do autor residiu na escolha da raça do animal. Tente imaginar a mesma pintura, com um cão de outra raça. Mudaria totalmente o impacto dramático que o pintor conseguiu transmitir. Possivelmente, a tela não obteria a mesma composição harmônica; e não seria tão tocante como a que Rivière pintou (1888), usando óleo sobre tela, tendo as dimensões de 1,60m altura por 2,30m de largura.
A imagem do cão de Santo Humberto
A escolha dessa raça, foi algo genial! Denominada Cão de Santo Humberto, também é chamada de Bloodhound. Assim, o artista deu ao trabalho um significado maior, para o tema da fidelidade canina. Trata-se de um cão de trabalho, excecionalmente dedicado no passado à procura de caça ferida, mas que também serve para localizar pessoas desaparecidas.
Durante séculos, foram criados por monges do Mosteiro de Andain, na Bélgica. Foi dessa maneira que ganharam a fama da grande capacidade de faro, qualidade indispensável à procura de peregrinos que se perdiam nas matas. Tempos depois, foram levados para a Inglaterra. Lá foram aperfeiçoados, com cruzamentos diversos, e resultaram na atual raça Cão de Santo Humberto.
Animais de índole calma, persistentes, não abandonam o dono em situações adversas. Por tal razão, eles são cães devotados aos donos, com lealdade inabalável. Inteligência superior, eles se mostram rápidos em responder aos estímulos de comando. Tímidos sim, mas de uma ferocidade indescritível na defesa do território e do dono.
De porte avantajado, não chegando a ser um gigante, são cães pesados e musculosos, formando perfil inconfundível, com pelagem macia e tricolor. Em razão disso, necessitam de espaços bastante confortáveis e cercas fortes.
Considerados como animais resistentes às doenças, sem grandes problemas congênitos, tornam-se fáceis para criadores, razão pela qual são conhecidos na Europa, desde a idade média.
No quadro “REQUIESCAT”, o artista retratou o corpo de um cavaleiro medieval, sobre uma mesa, numa típica pose fúnebre, vestindo armadura completa, como era usual para uma missa católica de corpo presente, revelando um cenário que remontaria ao início do século XIV. Ao lado do cavaleiro, a magnífica figura de um macho da raça Cão de Santo Humberto. O olhar do animal, apontado para o corpo, revela profunda tristeza. Transmite a ideia de que sabia ter perdido a convivência de amor, atenção e companhia do seu dono, um relacionamento que essa raça tanto aprecia.
Sobre o artista: Briton Rivière
Houve uma época de forte influência e respeitabilidade aos valores puritanos, ditados pela rainha Vitória, da Inglaterra, o chamado período vitoriano. Justamente nessa fase, o artista Rivière fez grande sucesso. O público de então apreciava as imagens dos seus quadros, especialmente, em razão da presença de animais. Dentre alguns de trabalhos daquela época, torna-se obrigatório citar, além de “Requiescat”, as obras: “The Long Sleep” (1868); “Fidelity” (1869); “Compulsory Education” (1887); bem como “Simpatia” (1878).
Em todas as suas obras, o fantástico pintor inglês, destacava-se com a expressividade do olhar dos animais retratados, associada aos estudos perfeitos de anatomia canina, tais como posições de patas, orelhas e cabeça, agito da cauda, além da pelagem brilhante. Dessa forma, ele conseguia dar movimentação muito realista aos personagens, moldando formas capazes de expressar os sentimentos desejados, para dramatização da pintura, conforme os momentos de vida ou de morte que ele transmitia nas pinceladas.
(*)”RIP” A expressão literalmente diz: “que descanse em paz”. (Wikipédia)