Por Eduardo Fellipe Melo Santos Soares; Marcos Paulo Gonzaga Nascimento Nazareth; Thayna Nascimento Bispo – Discentes do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Sob a supervisão de Prof. Clayton Bernardinelli Gitti – Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ

INTRODUÇÃO

A ultrassonografia, também conhecida como ecografia, é um procedimento comum na área da saúde utilizado para criar imagens internas do corpo. Durante o exame, um profissional de saúde, como um médico veterinário radiologista ou um técnico em radiologia, desliza um dispositivo chamado transdutor sobre a região do corpo a ser examinada. Esse transdutor emite ondas sonoras de alta frequência, que penetram nos tecidos e órgãos internos. As ondas sonoras refletidas são então captadas e processadas, resultando em imagens em tempo real exibidas em um monitor de computador. Essa técnica é segura e não invasiva, pois não utiliza radiação ionizante, como os raios X, e é geralmente indolor, com duração que varia de 15 a 60 minutos, dependendo da área do corpo examinada.

Essas técnicas são amplamente empregadas em diversas especialidades médicas, como cardiologia, obstetrícia, urologia e gastroenterologia, possibilitando o diagnóstico de uma ampla gama de condições, desde tumores até alterações nos órgãos internos e problemas vasculares, além de permitir o acompanhamento da evolução da gravidez.

A anestesia regional, por sua vez, consiste na aplicação de anestésicos em uma área específica do corpo, bloqueando a sensação de dor naquela região. É comumente utilizada em procedimentos cirúrgicos menores, como biópsias, suturas de feridas e remoção de pequenos tumores. No entanto, também pode ser empregada em intervenções mais extensas, para assegurar uma analgesia adequada junto com a anestesia geral. A precisão na administração do anestésico é crucial para garantir a eficácia do procedimento e minimizar o desconforto do paciente.

Quando começou a ser utilizada na anestesia?

A utilização da ultrassonografia na anestesia teve seu marco inicial em 1978, durante a execução de um bloqueio de plexo braquial. Anteriormente, os bloqueios de nervos periféricos dependiam exclusivamente de referências anatômicas e da percepção de parestesia. A integração da ultrassonografia na prática anestésica visava a visualização direta das estruturas anatômicas, incluindo nervos, vasos sanguíneos e músculos, proporcionando maior precisão na introdução da agulha e, consequentemente, aumentando a eficácia do bloqueio, ao mesmo tempo em que reduzia o risco de complicações. Inicialmente, os equipamentos de ultrassonografia eram volumosos e pouco portáteis, porém, com o avanço tecnológico, tornaram-se mais compactos, convenientes e com melhor resolução de imagem, permitindo sua utilização rotineira durante os procedimentos anestésicos.

Atualmente, o uso do ultrassom é considerado o padrão-ouro para a realização de diversos bloqueios de nervos periféricos, como o bloqueio do plexo braquial, femoral e ciático. Isso se deve ao desenvolvimento de técnicas guiadas por imagem, que aumentaram significativamente a taxa de sucesso e reduziram a incidência de complicações. Paralelamente, estão sendo realizadas pesquisas para o aprimoramento de equipamentos capazes de gerar imagens tridimensionais (3D), o que poderia proporcionar ainda mais precisão aos procedimentos anestésicos.

Como vantagens da utilização da ultrassonografia no auxílio da anestesia regional, podemos citar:

  1. Precisão Anatômica Avançada:

A capacidade da ultrassonografia em oferecer imagens minuciosas das estruturas internas do corpo é essencial para o êxito da anestesia regional veterinária. Ao visualizar os nervos, vasos sanguíneos e outras estruturas pertinentes em tempo real, os veterinários conseguem identificar os pontos de aplicação com uma precisão de milímetros. Isso reduz ao mínimo o risco de lesões em estruturas adjacentes e assegura que o anestésico seja administrado diretamente no local desejado.

Arquivo pessoal / MV Ana Paula Morel / Zoológico Municipal de Canoas – RS

  1. Guiamento em Tempo Real:

Durante o procedimento de anestesia regional, a capacidade de orientação em tempo real através da ultrassonografia é altamente vantajosa. Os veterinários podem monitorar a distribuição do anestésico enquanto é aplicado, ajustando a técnica conforme necessário para assegurar uma cobertura abrangente e uniforme da área específica. Isso não apenas aprimora a eficácia da anestesia, mas também diminui a probabilidade de complicações pós-operatórias.

Arquivo pessoal / MV Ana Paula Morel / Zoológico Municipal de Canoas – RS

  1. Bloqueios Nervosos Avançados:

Os bloqueios nervosos direcionados por ultrassonografia representam uma técnica avançada na aplicação de anestesia regional veterinária. Direcionando precisamente o nervo responsável pela transmissão da dor em uma região específica do corpo, os veterinários podem proporcionar um alívio eficaz da dor utilizando doses mínimas de anestésico. Essa abordagem é particularmente benéfica em cirurgias ou procedimentos realizados em áreas sensíveis, onde a precisão é fundamental para evitar danos aos tecidos ao redor.

Arquivo pessoal / MV Ana Paula Morel / Zoológico Municipal de Canoas – RS

  1. Redução de doses de anestésicos gerais:

As técnicas anestésicas locorregionais têm sido amplamente adotadas na prática da anestesia veterinária para o gerenciamento da dor no período perioperatório. Seus principais objetivos incluem fornecer analgesia preventiva e multimodal durante o período em torno da cirurgia, combinando diferentes medicamentos analgésicos para diminuir a resposta ao estresse causado pelo trauma cirúrgico. Isso ajuda a reduzir o potencial desenvolvimento de sensibilização central e minimizar a quantidade de anestésicos necessários, além de diminuir as respostas autonômicas aos estímulos cirúrgicos. Essas abordagens visam garantir uma recuperação mais rápida e confortável para os pacientes, ao mesmo tempo em que reduzem o tempo de recuperação pós-operatória e evitam a exposição desnecessária de tecidos saudáveis a agentes anestésicos.

Arquivo pessoal / MV Ana Paula Morel / Zoológico Municipal de Canoas - RS

Arquivo pessoal / MV Ana Paula Morel / Zoológico Municipal de Canoas – RS

  1. Aplicações em Diferentes Especialidades:

Seu uso é amplo, estendendo-se por diversas áreas clínicas, desde cirurgias de tecidos moles, ortopedia e odontologia veterinária até procedimentos intervencionistas. Essa flexibilidade faz da ultrassonografia uma ferramenta essencial em clínicas veterinárias modernas, permitindo um cuidado personalizado e de qualidade superior para uma variedade abrangente de pacientes.

Em conclusão, a combinação da ultrassonografia com a anestesia regional representa um avanço significativo na prática veterinária moderna. Essa abordagem inovadora proporciona um manejo mais seguro, preciso e eficaz da dor e do desconforto em animais de estimação, garantindo uma recuperação suave e livre de complicações. Como resultado, os veterinários conseguem oferecer um cuidado mais elevado e confortável aos seus pacientes, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida em todas as fases do tratamento veterinário.

Referências:

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