O Brasil é considerado o celeiro do mundo, e isso se deve a seu clima favorável e suas amplas faixas de terras agriculturáveis. O país é o segundo maior produtor de soja e o terceiro maior produtor de milho do mundo, essas características favorecem a nossa produção de carnes, pois tais commodities são a base das rações dos animais de produção (USDA, 2018; Embrapa, 2019).
Quando falamos de produção de carnes, o cenário de destaque se repete, sendo o segundo maior produtor de carne bovina do planeta com 10.200 milhões de toneladas; segundo de aves com 12.855 milhões de toneladas; quarto de suínos com 3.974 milhões toneladas (USDA 2020; ABPA, 2019)
Números surpreendentes
Quando a série histórica da produção de carnes brasileira é avaliada, são observados números surpreendentes. Em 20 anos, a produção de carnes bovina, de aves e suínos cresceram 108%, 171% e 203% respectivamente (IBGE, 2020). Esse crescimento foi impulsionado, principalmente, pelo aumento do poder de compra do brasileiro e também pelo crescimento da China, que dentro desse período, chegou a crescer 13% ao ano. Grande parte desse avanço do agronegócio brasileiro, se deve à rigorosa regulamentação realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), visando garantir a segurança alimentar.
O exercício da profissão
A Lei 5.517 dispõe sobre o exercício da profissão do médico-veterinário, e estabelece as competências e responsabilidades deste profissional na inspeção de alimentos de origem animal e fiscalização do ponto de vista sanitário, higiênico e tecnológico, desde o campo com os cuidados com a sanidade animal até aos estabelecimentos frigoríficos, abatedouros, fábricas e indústrias de alimento.
Os profissionais com formação em Medicina Veterinária atuam de diversas formas dentro da cadeia de produção de alimentos de origem animal, seja como profissionais privados ou como médicos-veterinários oficiais do serviço de fiscalização e inspeção.
Os médicos-veterinários privados atuam realizando o controle das doenças a campo, notificando a ocorrência das mesmas e ajudando na execução dos planos de controle e erradicação das doenças, que são estipulados pelo Mapa e também pelas Secretarias de Agricultura dos Estados.
Outra área de atuação dos médicos-veterinários privados é dentro dos estabelecimentos produtores de alimentos de origem animal. Estes profissionais trabalham com gestão da qualidade dos produtos, criando autocontroles, treinando equipes e seguindo a legislação pertinente que também é desenvolvida pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) que pertence à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) que pertence ao Mapa.
Já os médicos-veterinários oficiais atuam dentro do Mapa, dentro das Secretarias de Agricultura Estaduais ou Municipais, seu papel é legislar e realizar inspeções em estabelecimentos que produzam produtos de origem animal, fiscalizar portos e aeroportos, confirmar o diagnóstico de doenças por meio dos laboratórios oficiais, assim como legislar e executar os planos de controle e erradicação das doenças a campos e receber as notificações de ocorrência de doenças realizada pelos médicos-veterinários privados.
Papel da Inspeção
O papel da inspeção é muito importante na verificação de possíveis alterações que torne os alimentos impróprios para o consumo e no controle das zoonoses, que são doenças transmitidas dos animais para os seres humanos por meio do consumo de água ou alimentos contaminados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) estimou que as doenças diarréicas transmitidas por alimentos e pela água matam cerca de 2,2 milhões de pessoas anualmente, sendo 1,9 milhões delas crianças. Nos países industrializados, a porcentagem da população que sofre de doenças transmitidas por alimentos a cada ano é de até 30%. Nos Estados Unidos (EUA), por exemplo, estima-se que ocorram anualmente cerca de 76 milhões de casos de doenças transmitidas por alimentos, resultando em 325.000 hospitalizações e 5.000 mortes. No Brasil, de 1999 a 2005, foram notificados 4.716 surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA), com 98.018 pessoas acometidas e registro de 39 óbitos, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2006).
A pandemia
Diante da pandemia que a população mundial vem enfrentando surgiu a preocupação com a saúde pública e, com ela, a importância do médico-veterinário para a sociedade e para o combate ao novo coronavírus (SARS-Cov-2). Muitas doenças podem surgir devido às práticas inadequadas de gerenciamento de doenças na produção pecuária, por exemplo, a tuberculose bovina, brucelose, cisticercose e salmoneloses.
O papel do médico-veterinário sempre foi fundamental no controle da sanidade animal, evitando, desta forma, o surto de doenças e infecções endêmicas, sendo o próprio SARS-Cov-2 um grande exemplo de microrganismo que chegou à espécie humana por meio da aglomeração e do hábito de consumo de carnes de animais silvestres sem inspeção sanitária.
Referências bibliográficas
Associação Brasileira de Proteína Animal, Relatório Anual, 2019 Embrapa, Soja em Números, 2019 https://www.embrapa.br/web/portal/soja/cultivos/soja1/dados-economicos Acessado em 05/04/2020
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação de Vigilância das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar.Disponível em: http://www.saude.gov.br/svs Acessado em 03/04/2020.
IBGE, Série Histórica Abate de Animais, 2020. https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9203-pesquisas-trimestrais-do-abate-de-animais.html?=&t=series-historicas Acessado em 05/04/2020
USDA, Livestock and Poultry: World Markets and Trade, 2020 https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/livestock_poultry.pdf Acessado em 09/04/2020