Zoológicos são definidos como locais dedicados à exposição e cuidado de uma variedade de animais selvagens. Eles servem como espaços educacionais, de pesquisa, conservação e lazer, oferecendo aos visitantes a oportunidade de observar de perto e aprender sobre diferentes espécies animais, levando a uma visitação estimada de cerca de 30 milhões de pessoas por ano. Segundo a Sociedade Brasileira de Zoológicos e Aquários do Brasil, os zoológicos têm a responsabilidade de fomentar a educação ambiental e contribuir para a conservação ex-situ da fauna, em conformidade com a Lei nº 9.795/99 e os princípios constitucionais estabelecidos no Art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988.

Antes vistos como meros locais de entretenimento, os zoológicos agora possuem outros propósitos, que incluem pesquisa científica, conservação e educação ambiental, conforme estabelecido pela legislação brasileira. Muitos zoológicos se tornaram centros de conservação, trabalhando para preservar tanto espécies em cativeiro (conservação ex situ) quanto seus habitats naturais (conservação in situ). Animais resgatados de diversas origens, como caça predatória e tráfico, são reabilitados e, quando possível, reintroduzidos na natureza. Aqueles que não podem retornar à vida selvagem desempenham um papel vital em estudos científicos que auxiliam no manejo em cativeiro e na compreensão das necessidades da espécie. Além disso, contribuem para a diversidade genética, permitindo potencialmente futuras reintroduções após a redução das ameaças ambientais. Os zoológicos também desempenham um papel importante na sensibilização da população sobre questões ambientais, promovendo hábitos e atitudes positivas em relação à conservação ambiental.

Importância científica

Os zoológicos funcionam como importantes centros de pesquisa científica, nos quais especialistas investigam o comportamento, a fisiologia, a ecologia e a reprodução de uma ampla gama de espécies. Essas pesquisas não apenas promovem o bem-estar dos animais em cativeiro, mas também oferecem insights valiosos para a conservação das populações selvagens. Por meio de colaborações com universidades, instituições de pesquisa e organizações de conservação, os zoológicos contribuem significativamente para a geração de conhecimento essencial visando à proteção da biodiversidade global.

É importante destacar que os zoológicos trabalham em estreita colaboração com os aquários, por meio da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB), associação que tem como objetivo principal unir os zoológicos e aquários do Brasil, promovendo seu desenvolvimento e inserção na comunidade internacional. Através de campanhas educacionais, a AZAB visa engajar o público em questões relacionadas à conservação. Para cumprir esse compromisso, a AZAB oferece apoio técnico e facilita a cooperação, capacitação, troca de conhecimentos e realização de pesquisas nas áreas de manejo, educação e conservação. Isso garante que as instituições zoológicas brasileiras tenham uma gestão eficaz e operem dentro dos mais elevados padrões éticos e de bem-estar animal.

foto: wikimedia commons

Educação Ambiental

A educação ambiental realizada nos zoológicos é de extrema importância para a população e tem como objetivo conscientizar a população acerca da sua responsabilidade com o meio ambiente através do contato e conhecimento com as espécies de animais, a fim de torná-los críticos, hábeis e projetores de um futuro favorável para a vida na Terra, visando a proposta de soluções agregadoras ao meio, sem nenhum dano ou perda de biota.

Nos zoológicos, a educação ambiental é ofertada de várias maneiras, como através de placas informativas nos recintos contendo nome popular e científico do animal, seus hábitos comportamentais e alimentares, mapa com seu habitat e qual a classificação daquele animal na tabela da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Profissionais capacitados como biólogos e historiadores também se encontram distribuídos nos zoológicos para atender aos visitantes e apresentar informações, curiosidades, responder às dúvidas acerca das espécies e da importância e funcionamento do zoológico.

Os zoológicos também contam com visitas técnicas, realizadas principalmente por escolas e universidades. Essa visita é feita em grupo e conta com os educadores ambientais que irão guiá-los por toda a visita, e falar um pouco sobre as espécies de cada recinto com a linguagem apropriada para a idade dos visitantes.

Além disso, muitos zoológicos realizam atividades como a gestão das mídias sociais com conteúdo informativo, passeios temáticos em datas comemorativas e a oferta de atividades educativas para crianças, ampliando assim o acesso à informação

Conservação in situ/ex situ

Conforme estabelecido pela Resolução Nº 476 de 8 de junho de 2018, os zoológicos possuem autorização para estudar e contribuir para a conservação de animais, sejam eles da fauna nativa, exótica ou doméstica. Dessa forma, os zoológicos desempenham um papel crucial na conservação, pois por meio da reprodução de espécies ameaçadas é possível aumentar suas populações. Vale ressaltar que as técnicas de conservação não se limitam aos cativeiros, permitindo também o manejo da população da espécie ameaçada em seu habitat natural. Essa abordagem abrangente é fundamental para proteger a biodiversidade e garantir a sobrevivência de espécies vulneráveis.

Como dito acima, existem diferentes técnicas de conservação, a ex situ e a in situ. A conservação ex situ é referente aos meios de conservar determinada espécie fora de seu habitat natural e é desassociada da preservação da ambientação na qual o animal está inserido. Bancos de germoplasma (material genético), zoológicos, aquários, criações em cativeiro e fazendas são exemplos de conservação ex situ mais fomentados no Brasil relacionada a fauna silvestre, conquanto que são, sistematicamente, desvalorizados pela falta de conhecimento a respeito da temática inserida. Já a conservação in situ é relacionada àquela que se conserva o animal no seu habitat natural. Esta técnica é a prioridade para os institutos de conservação, já que com ela pode-se trabalhar o âmbito social, ambiental e educacional, relacionado à evolução natural dos indivíduos, sem nenhuma interferência humana. Entretanto, para feito do mesmo, é necessário que as condições do ambiente sejam favoráveis para o desenvolvimento de determinado organismo, para que, assim, ele possa expressar seus comportamentos naturais, como a predação ou a dominância territorial, isso para os topos de cadeia. A abordagem relacionada às condições favoráveis do desenvolvimento de uma espécie no seu habitat natural é necessária para a compreensão de fatores que levam ao contrário desse cenário, como exemplo o desmatamento, que é a principal causa do desaparecimento de espécies, seja pela fuga à procura de um novo abrigo ou a morte por queimaduras ocasionadas pelo fogo ou a inalação da fumaça.

Em suma, as técnicas de conservação in situ e ex situ podem estar integradas, e quando essa posição sucede, há benefícios nos 4 pilares que sustentam os jardins zoológicos – conservação, educação, pesquisa e lazer -, visto que a espécie será conservada, a educação será feita por meio de monitores espalhados nas instituições, que explicarão detalhadamente sobre o processo de reabilitação e reintrodução para a sociedade e àqueles que visitarão os zoológicos, fomentando o setor de lazer. E a pesquisa será feita com diferentes funções, seja aliada aos programas de reintrodução, ou na consulta de animais em cativeiro para construções de estratégias de conservação in situ.

Hipopótamo. Foto: Pexels

Reabilitação

A grande maioria dos animais que se encontram nos zoológicos são provenientes do tráfico ilegal, ou então, a ocorrência de acidentes que causam traumas e lesões que impossibilitam a recuperação do animal na natureza. A reabilitação consiste em uma ação planejada que visa a preparação e ao treinamento de animais que serão reintegrados ao ambiente natural. Portanto, seu objetivo é recuperar as habilidades necessárias para o retorno do animal à vida livre, visando recuperar principalmente sua anatomia, funções fisiológicas e os comportamentos para sua adequação às novas condições de sobrevivência em vida livre, como caçar por conta própria. Dessa forma, se faz ideal o fornecimento de alimentos que as espécies utilizam na natureza de acordo com sua disponibilidade sazonal, e é um processo que também demanda a recuperação de todas suas condições físicas, sejam elas musculares, cardiovasculares, dentre outras, por meio do fornecimento de recintos de grandes dimensões que disponibilizam condições para atividades físicas ideais para sua reabilitação. Também faz parte do processo de reabilitação a observação dos aspectos comportamentais do animal, possibilitando a avaliação da capacidade da espécie de sobreviver em seu ambiente natural, tendo como os aspectos mais importantes a tolerância à presença humana, capacidade da obtenção de alimento “natural” e áreas de fuga e caça. Os animais que acabam tendo como resultado a baixa tolerância a presença humana, reflexos de caça e fuga bem desenvolvidos, sucesso na obtenção de alimentos e localização e captura de presas vivas, se tornam potenciais candidatos à soltura.

Soltura

A legislação brasileira manifesta que a reintrodução à vida livre em seu ambiente natural daqueles animais que foram capturados é a melhor maneira de proceder. Entretanto, esse processo não é imediato após o resgate, deve-se atentar à passagem de reabilitação da espécie, que pode estar traumatizada ou com alguma condição que a impossibilite de viver sem cuidados humanos, exceto os casos que o espécime esteja apto a soltura imediata no ambiente em que foi resgatada e não apresente problemas que impeçam sua sobrevivência ou adaptação em vida livre.

A reintrodução possui alguns benefícios que devem ser observados: reforço populacional de espécies que sofrem a contínua pressão de captura pelo tráfico; retorno de processos ecológicos de grande importância (polinização, controle de pragas etc.); recuperação de diversidade genética; incentivo à pesquisa científica; respeito aos preceitos éticos da legislação; e outras condições favoráveis ao meio ambiente. Assim sendo, a soltura de animais silvestres torna-se fundamental, não apenas por atender as demandas das instituições ambientais das destinações das espécies, mas também formam uma base de dados para futuras organizações de reabilitação e reintrodução da fauna silvestre, de grande importância àquelas que são raras ou ameaçadas de extinção.

O processo de reintroduzir um animal silvestre ao seu ambiente natural possui etapas avaliativas do comportamento animal e da saúde do indivíduo, sendo o último estágio a reabilitação, proporcionando situações parecidas com aquelas na qual terá em vida livre. Com isso, o momento final é a reintrodução ao meio, onde este animal continuará sobre monitoramentos humanos, com finalidade de avaliar ações na qual o espécime pode realizar: estabelecimento, conflitos, dispersão, reprodução e morte. No Brasil, as instituições ambientais utilizam o método de monitoramento soft release, em português, soltura branda, que consiste em uma etapa de aclimatação no processo de reintrodução, ou seja, o animal vive um período (semanas ou meses) em um recinto instaurado no local que ele será solto, recebendo alimentação e cuidados. Após esse período determinado pela instituição que irá reintroduzir o indivíduo ou o grupo de indivíduos, o recinto será aberto e o animal sai espontaneamente, e a alimentação que antes era posta nos comedouros agora são realocadas próximas do local de soltura, assim, o espécime virá se alimentar continuamente até que se harmonize com o meio. Essa etapa de aclimatação facilita a sobrevivência da espécie e o seu monitoramento.

Considerações finais

Os zoológicos são, portanto, uma ferramenta de aproximação da vida urbana com a vida silvestre nativa e exótica, que, juntamente à educação ambiental, traz à população o conhecimento tátil para a preservação da vida selvagem. Além dos benefícios deste lazer educativo para a sociedade, as instituições que se alinham ao padrão ideal de zoológico trazem uma nova perspectiva de vida para animais que não podem ser reabilitados à vida livre (como os advindos do tráfico de animais, circos e acidentes) onde a instituição responsável trabalha para oferecer um recinto que se aproxima do habitat natural do animal, a alimentação adequada conforme a espécie, enriquecimento ambiental para diminuição do estresse do animal mantido em cativeiro e a realização da medicina preventiva como forma de monitoramento da saúde dos animais do zoológico.

Juntamente, o novo conceito de zoológico traz a pesquisa científica como um fator fundamental e de grande importância para compor o conhecimento global sobre a grande diversidade de espécies de animais selvagens, que, por ser uma área do conhecimento muito vasta, ainda há muito a ser descoberto, debatido e compartilhado.

Referências:

CULLEN JR., Laury; VALLADARES-PADUA, Cláudio; RUDRAN, Rudy (Org.). Métodos de estudos em biologia da conservação e manejo da vida silvestre. 2. ed. Rio de Janeiro: UFPR, 2006. 651 p.

PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001. 327 p.

RODRIGUES, K.; SEREIA, D. A. DE O.; HAAS, J. Potencial educativo e importância do zoológico para a conservação da fauna silvestre. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), [S. l.], v. 18, n. 3, p. 265–282, 1 abr. 2023.

VILELA, Daniel A. R.; LOPES, Alice R. S. Destinação de animais silvestres: a reintrodução como melhor alternativa. Coordenadoria Estadual de Defesa dos Animais, Minas Gerais, p. 68-84, 1 maio 2021.

 

Autores: Eduardo Fellipe Melo Santos Soares¹,³; Claiton Michel da Silva Munhoz²; Ana Carolina da Rocha Santos Elattar¹; Bruna Ricart Trivino Ribeiro¹; Matheus Italo Bassani Ramos¹; Rafaella de Medeiros e Silva¹
¹Discentes do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
²Discentes do Curso de Ciências Biológicas da UFRRJ
³edu.fellipe@live.com
Sob a Supervisão de Carlos Alexandre Rey Matias – Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Foto de capa: Leoa. Image by TravelScape on Freepik