Histórico

Truta Arco-iris. Panorama da Aquicultura. Fábio Foresti & col.

Exótica à fauna ictiológica nativa brasileira, a truta (Oncorhyncehus, sp), da família dos salmonídeos, é um peixe de escama, de porte médio, carnívoro, de clima frio e temperado, originária do hemisfério norte – Estados Unidos e Canadá -, introduzida oficialmente no território brasileiro pela primeira vez, em caráter oficial experimental, no ano de 1949, há 70 anos atrás, no estado de São Paulo, através da Divisão do Instituto de Caça e Pesca, Ministério da Agricultura, tendo como objetivo principal explorar seu alto valor comercial, gastronômico e pesca esportiva.

Outra informação nos dá conta que esse peixe, truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) alienígeno ingressou no solo brasileiro no ano de 1913, Rio de Janeiro, por empresários que importaram ovos embrionados da Europa, conseguindo 150 alevinos que foram soltos e disseminados nos rios do Alto da Boa Vista, de águas frias, límpidas e oxigenadas, próprias e adequadas para o desenvolvimento do peixe no Rio de Janeiro.

Essas foram as primeiras tentativas de introdução desse salmonídeo realizadas no Brasil, e apesar do relativo sucesso obtido na eclosão dos ovos, em 1913, esse trabalho não teve continuidade. (Foresti, P.F. Laboratório de Biologia e Genética de Peixes, IB, UNESP, Botucatu, SP).

Espécies de trutas

A truta ocorre em 160 dos 193 países do mundo sendo predominante nos de clima temperado e frio. Há dezenas de variedades de trutas que, em algumas parte do mundo, são confundidas com o salmão (Salmo salar), tendo em vista sua semelhança anatômica, aspectos fenotípicos, hábitos e habitat. Dos gêneros e espécies naturais existentes sobressaem na natureza os gêneros Oncorhyncus, Salvelinus e Salmo.

Os primeiros, originários de rios de clima temperado e frios, de correnteza, leitos arenosos e pedregosos, característicos da América do Norte e Canadá; os segundos, Salmos, mais encontrados nos grandes lagos da Europa e Ásia, como a mais comum, truta marisca (Salmo trutta), dos ambientes lênticos. No Brasil, em cultivos intensivos, temos a truta arco-íris, (Oncorhynchus mykiss), a truta marrom ou marisca (Salmo trutta) e a truta azul (Oncorhynchus clarkii).

Biologia

Truta Arco-iris – Manejo Artificial Reprodutivo. Thaís.M.M. APTA-SAA, SP

Como todo salmonídeo, a truta na biologia, é denominada espécie eurialina por ter parte de seu ciclo biológico desenvolvido em água doce e par te em água salgada. Graças a essa propriedade fisiológica de se adaptar nesses ambientes de diferentes gradientes de salinidade, lênticos e lóticos, a truta é um dos peixes mais valorizados e cobiçados do mundo.

Com o desenvolvimento da biociência e a biotecnologia, a truta é considerada, hoje, um peixe domesticado. No mundo inteiro, pesquisadores interessados na conservação das espécies e aumento da aquicultura, aperfeiçoaram e desenvolveram métodos de sua preservação, criação natural e artificial. O ciclo biológico tem origem do ovócito das fêmeas que fecundado pelo esperma do macho, forma o embrião que se transforma em larva, pós larva, alevino, juvenil, jovem e adulto. O ciclo de larva até a truta adulta, dura em média, 1 ano, dependendo do ambiente natural ou artificial onde o animal se encontra.

Criação

Os métodos de criação da truta podem ser naturais e artificiais. Os naturais aproveitam-se os rios e riachos de altitude, normalmente das montanhas acima de 1 000m, usufruindo-se da qualidade da água, cujas características devem ser: temperatura, entre 10º e 20º C; teor de oxigênio dissolvido, mínimo de 5.5 g/l; PH entre 6.5 e 8.5, sendo o ideal 7.0, devendo-se ser livre de poluentes e contaminantes.

Dados históricos registram que a primeira experiência de criação da truta em ambiente natural no Brasil aconteceu no ano de 1947, pelo médico veterinário Dr. Ascânio de Farias, que importando 5 000 ovos embrionados da Dinamarca levou-os para a Fazenda Nova Califórnia, Serra da Bocaina- SP, que deram origem a 2 500 alevinos que foram lançados nos rios Bonito e Jacu Pintado.

Esse evento e outro que aconteceu no ano de 1950, este, melhor sucedido que o anterior de 1947, deu origem ao Posto de Criação de Trutas, às margens do rio Jacu Pintado do Ministério da Agricultura. Os artificiais, tanques escavados na terra e também cimentados, destinam-se à criação intensiva, onde os peixes são confinados, tratados com ração e monitorados, desde alevinos até a idade adulta. Esse é o método mais utilizado no Brasil para fins comerciais.

Principais trutários no Brasil e estado do Rio de Janeiro

Maior criação intensiva de truta do Brasil. Sr. Afonso Vívolo. Sapucai-Mirim-MG

Introduzida no Brasil, município de Bananal-SP, Serra da Bocaina, há mais de meio século, a truta arco-íris, a mais cultivada, adapta da e aclimatada ao clima brasileiro, ganhou rapidamente outros espaços aquáticos territoriais, expandindo-se da região montanhosa da Serra do Mar (São Paulo), para as Serras da Mantiqueira-MG e Serra dos Órgãos -RJ, Regiões Sudeste e Sul do país, onde prosperou e existem os maiores criadouros e trutários do Brasil.

Segundo pesquisas do IBGE, 2017, a aquicultura brasileira produziu 547.163 t de pescado de água doce, participando a truta com 2. 049 t. O maior estado produtor de truta é Minas Gerais, seguido de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Minas, apesar de estar em segundo lugar na produção, dos 41 municípios brasileiros produtores de truta, possui 13 dentre os primeiros colocados, todos situados na região sudoeste mineira, divisas entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Sapucaí -Mirim, na Serra da Mantiqueira e Urubici na Serra Catarinense, primeiro e segundo lugares (IBGE, 2013), disputam anualmente, a cada pesquisa estatística realizada , a hegemonia da produção de truta no Brasil. O maior produtor no país é o empresário Afonso Celso Vivolo (Afonsinho), chamado ” Rei das Trutas ” que em Sapucaí, tem o domínio técnico e comercial completo da produção e beneficiamento, sendo referência no país na truticultura. Seu objetivo comercial, agora, é produzir a truta salmonada para competir comercialmente com o salmão a níveis nacional e internacional.

 Agronegócio

O agronegócio da truta que envolve milhões de reais e mais de 200 produtores no Brasil, é um dos mais atraentes e sofisticados negócios pela exigência técnica em todos os processos da produção.

Desde o local para a implantação do projeto que exige condições ambientais adequadas como: topografia, água limpa, fria e oxigenada, altitude acima de 1 000m, etc, até o produto final, peixe produzido, envolve uma extensa cadeia produtiva como construções de tanques, laboratórios, insumos, equipamentos especiais e manejo técnico com pessoal especializado, em seus vários ciclos de vida e produção.

O monitoramento técnico e o manejo com pessoal qualificado são pontos fundamentais para o sucesso do empreendimento, em pequena e grande escala. Os dados estatísticos relativos à truta e demais peixes cultivados em cativeiro, publicados em revistas e órgãos oficiais do Brasil, não mencionam o valor em reais ou dólares das diversas atividades e sua influências na economia da nação, estados e municípios, como os divulgados no Boletim da FAO/SOFIA, 2018.

Festas e festivais da truta

Folder do III Festival da Truta de Sta Catarina – Ubirici, 2018

O maior festival da truta no Brasil é o FENATRUTA realizado anualmente nos municípios de Urubici e Bom Retiro, Santa Catarina, para promover a gastronomia, o comércio e os avanços da biotecnologia do setor. Além de Santa Catarina, festivais e festas acontecem também em Minas Gerais nas cidades de Itamonte, Delfim Moreira e Gonçalves, os mais tradicionais. Em São Paulo, as festas de Piracaia, considerada a capital da truta, Campos do Jordão, Santo Antônio do Pinhal e Cunha.

No Rio de Janeiro, não menos tradicionais e atraentes são as festas de Nova Friburgo e Penedo nas Regiões serrana e sul do estado que atraem anualmente milhares de turistas e gourmets, na busca da boa comida e apresentações de novos pratos utilizando a trutas de várias maneiras e formas, cada um com características gastronômicas próprias regionais.

9º Festival da Truta – Nova Friburgo- RJ, nov de 2015