Na praça principal da cidade, ao avistarem pequena e tosca cobertura de telhas, os turistas não sabem exatamente o significado. São quatro águas, cobertas com telhas de barro, bem antigas, sobre um poço de pedras; embaixo três esculturas de bronze. A velhinha, a menina e o simpático vira-lata enfeitam aquele local.

O cenário é simples e direto, não há o que cogitar profundamente, exceto pela pergunta recorrente, feita pelos visitantes: – “Quem são os personagens?”. Com um balde, a idosa parece tirar água no poço. Serviu como modelo saudosa moradora, de nome Aurélia de Souza, representando as pioneiras da cidade, que se incumbiam da tarefa cotidiana do abastecimento d’água. Ali está registrado um momento simples, lembrado pelos mais antigos. Um costume da pequena vila de pescadores, onde aportavam muitas embarcações de cabotagem, na Baía Formosa.
Jamais alguém poderia supor…, a vila iria prosperar e se tornar bela cidade! Contudo, o progresso não modificou a pacata vida praiana, aquele clima descontraído e gostoso, jeito marcante do povo local.

Bem pertinho do Poço de Pedras, há uma árvore centenária. Uma figueira retorcida pelos ventos do mar, com idade incerta e histórica presença. Contam que, sob sua sombra, D. Pedro II passou momentos de descanso, durante viagem até Campos dos Goytacazes, lá pelos anos de 1850. Sobre essa história, cada um que ouve…, ao repetir, acrescenta um ponto!

Da velha Igreja… Nada mais resta

Dez anos pós ruir o velho prédio paroquial (1950), no mesmo local da igreja erguida pelos Jesuítas (1750), foi construída a nova, consagrada à padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição. Partindo do Poço de Pedras, andando mais, seguindo a calçada da praia do centro, o turista irá passar por uma das mais velhas edificações da cidade, a Casa da Cultura Dr. Bento Costa Junior; lá funcionou antes o trapiche do pequeno porto. Continuando a andar, chega-se ao velho cemitério. Não é um local atrativo, mas não deixa de ter um ar solene e grave, com pequenas tumbas caiadas, despidas de vaidades e ostentações. Contam que nas imediações havia o ancoradouro; teria ele servido ao tráfico de escravos e para embarque de mercadorias provenientes da agricultura regional, enviadas, por mar, com destino a Niterói e ao Rio de Janeiro.

A caminhada turística segue e, mais alguns passos, chega-se às praias do Cemitério e da Boca da Barra; era ali que, com mar calmo, os barcos se reabasteciam e descansavam a tripulação, antes de voltar ao oceano.

Havia na praça da vila água potável! Canalizada, chegava até a praia, onde era acumulado no poço de pedras. Assim, o monumento faz parte da história da cidade de Rio das Ostras. Centenária na origem, a pequena vila de pescadores, se tornou cidade em 1992.

Porto de inspiração para artistas

Dentre os personagens do monumento, em tamanho real, aquele que mais desperta simpatia aos visitantes é o vira-lata!

Podem ser tocadas diretamente pelo público; embora isso não devesse ser permitido. Infelizmente, por falta de bom senso, alguns danos já foram causados ao conjunto artístico. Dizem que as esculturas só não estão depredadas, porque no local está um guardião feroz, “vigilante” …, o vira-lata! Sempre pronto a encenar uma boa rosnada, para afugentar vândalos e porcalhões.

Como todos os bons animais dessa “nobre estirpe”, os “Street dogs”, inteligentes, fiéis e rústicos, além de terem malandragem natural, são capazes de impor respeito, mesmo quando feitos de bronze. Capazes de conquistar facilmente os humanos, desde aqueles de corações moles aos mais duros, infantis ou adultos, todos os turistas gostam do cachorrinho de rua. Foi nesse simplório cenário, propício aos sonhos bem sonhados, adequado às inspirações de artistas, que foi erigido o singelo conjunto de esculturas, cuja denominação popular é “O Poço de Pedras”, importante obra dos escultores, Clara Arthaud e Roberto Sá, renomados artistas plásticos brasileiros.

 

Fotos: Jorge Ronald