A ocorrência de doenças emergenciais em animais de produção exige respostas rápidas, coordenadas e eficazes. Entre as medidas mais importantes está a desinfecção, que, quando bem executada, atua como uma barreira invisível, interrompendo rotas de transmissão e protegendo a sanidade dos rebanhos.

O papel estratégico da desinfecção

Em situações de emergência sanitária — como nos surtos de influenza aviária, febre aftosa ou peste suína africana — a desinfecção vai muito além da limpeza. Ela representa uma ação técnica, planejada e direcionada para eliminar agentes patogênicos e evitar que a doença se espalhe para outras propriedades.

A experiência recente com surtos em países vizinhos reforçou a necessidade de protocolos preventivos sólidos. A simples presença de veículos, equipamentos ou pessoas contaminadas é suficiente para comprometer todo um plantel. Por isso, a manutenção de rotinas de higienização é fundamental em qualquer sistema de produção.

Pontos críticos e medidas práticas

As áreas mais sensíveis são aquelas com maior circulação de animais e pessoas. Nessas zonas, o cuidado precisa ser redobrado:

Instalações e currais: devem ser lavados e desinfetados com regularidade, principalmente após o trânsito de animais.

Veículos de transporte: devem passar por barreiras de desinfecção ao entrar e sair das propriedades.

Pedilúvios e rodolúvios: precisam conter soluções ativas e ser trocados com frequência.

Utensílios e equipamentos: o uso compartilhado sem higienização adequada pode se tornar uma via de contaminação cruzada.

Essas práticas, simples à primeira vista, são as que mais fazem diferença em momentos de risco. O acúmulo de matéria orgânica e o descuido no preparo das soluções reduzem drasticamente a eficácia dos produtos desinfetantes.

Fonte: Gemini

A escolha e o uso correto dos produtos

O sucesso da desinfecção depende da escolha correta do agente químico e da forma de aplicação. Cada tipo de produto tem um modo de ação e limitações específicas.

Entre os mais utilizados estão:

  • Hidróxido de sódio (soda cáustica): muito eficiente contra vírus resistentes, mas exige cuidado no manuseio.
  • Cal virgem (óxido de cálcio): tradicionalmente utilizado nas barreiras sanitárias, tem ação prolongada e custo baixo.
  • Compostos de amônio quaternário: ideal para áreas internas, com boa ação bactericida.
  • Hipoclorito de sódio: de uso amplo e eficaz na maioria das situações de campo.

Independentemente do produto, é indispensável seguir três princípios básicos: limpeza prévia, concentração correta e tempo de contato adequado. Ignorar qualquer um deles compromete todo o processo.

Biosseguridade como cultura de prevenção

A desinfecção é apenas uma das engrenagens da biosseguridade. Somada a medidas como controle de acesso, isolamento de animais recém-chegados e descarte adequado de resíduos, forma um sistema robusto de proteção coletiva.

No cotidiano das propriedades, o que faz diferença é a rotina — o compromisso diário com práticas simples, mas consistentes. A manutenção das barreiras sanitárias, o uso de equipamentos exclusivos e a conscientização das equipes reduzem riscos e mantêm a atividade produtiva segura.

Fonte: Gemini

Desafios e aprendizados recentes

Os focos de doenças registradas nos últimos anos deixaram lições valiosas. Muitos surtos foram contidos justamente por causa da adoção rápida de medidas de desinfecção e restrição de trânsito.

Em contrapartida, falhas de comunicação e improvisos em campo mostraram como a falta de padronização pode agravar situações críticas.

O desafio está em transformar a desinfecção em um hábito técnico contínuo, e não apenas uma ação emergencial. Assim, o controle sanitário se torna parte da rotina, fortalecendo a produção e protegendo a saúde animal e humana.

Conclusão

A desinfecção é uma ferramenta silenciosa, mas poderosa. Executada com método e constância, ela garante segurança biológica, estabilidade produtiva e confiança nos mercados.

Mais do que uma obrigação, é um ato de responsabilidade coletiva — de quem compreende que saúde animal e segurança alimentar caminham lado a lado.

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6.CENTER FOR FOOD SECURITY AND PUBLIC HEALTH (CFSPH), IOWA STATE UNIVERSITY.

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Por Maria Eduarda Vianna Paquelet de Barros e João Vitor Felizardo de Freitas – Discentes da Disciplina de Defesa Sanitária Animal do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Supervisionado por Clayton B. Gitti – Prof. Titular da UFRRJ
Foto: Wikimedia Commons