A origem da palavra ozônio é derivada de “ozein” que significa cheiro. O gás ozônio, assim denominado por ser um gás de odor característico, de coloração levemente azulada e instável em temperatura ambiente, é usado para diversos propósitos, tanto no tratamento de doenças como na limpeza do ar e da água. Este gás pode ser produzido naturalmente por dois mecanismos: o primeiro é a partir de descargas elétricas em tempestades; a segunda é através da radiação ultravioleta do sol, situada em um comprimento de onda de 180 a 200 nanômetros.

O gás ozônio foi descoberto em 1783 pelo médico e físico Martins Van Marum, que percebeu que ao redor de sua máquina eletrostática o ar apresentava um odor característico quando emitia descargas elétricas. Porém, somente em 1840 que Christian Friedrich Schonbein observou que a água submetida a uma descarga elétrica produzia odor estranho: se tratava de um gás semelhante ao oxigênio, que ele denominou como gás de ozon. Deste modo, Schonbein é reconhecido até os dias atuais como o pai da ozonioterapia.

A bobina de Tesla, desenvolvida pelo cientista Nikola Tesla, é um equipamento capaz de gerar raios de alta tensão, onde uma corrente elétrica constituída por elétrons e íons livres provocam choques nas moléculas de ar, quebrando o oxigênio (O2) em dois átomos livres (O) que se ligam a outras moléculas inteiras de oxigênio, formando o ozônio (O3). O químico Werner Von Siemers criou um tubo de super indução com duas placas de eletrodos interpostas geradoras de alta tensão, clivando o oxigênio e formando o gás ozônio. A partir desta descoberta, iniciou-se a desinfecção da água por meio da utilização de gás ozônio.

Foi durante a primeira Guerra Mundial que os primeiros relatos do uso clínico da ozonioterapia foram registrados no tratamento de queimaduras e feridas infectadas. No entanto, o gás passou a ser usado de forma indiscriminada, provocando embolia gasosa quando administrado em altas doses por via intravenosa. Isto levou à proibição do ozônio para uso medicinal. Só no ano de 1950, após quase quatro décadas de proibição, o dentista Edward Fisch utilizou gás ozônio para o tratamento do cirurgião Ernst Payr. Este cirurgião iniciou uma investigação para o uso do ozônio, que desencadeou a volta de seu uso terapêutico. Em 1959, Joachim Hansler e Hans Wolff desenvolveram o primeiro gerador de ozônio para uso médico, com dosagens precisas: este foi o protótipo dos geradores utilizados na atualidade.

Atualmente, a técnica é reconhecida em vários países do mundo, e seu uso na medicina veterinária está em ascensão, principalmente no tratamento das dermatopatias.

Os dois mecanismos descritos (descargas elétricas e radiação solar) agem quebrando a molécula de oxigênio (O2) em dois átomos individuais (O), que reagem com o oxigênio não clivado formando uma terceira molécula (O3), cuja ligação é covalente e apresentam um ângulo de 127º entre as moléculas de oxigênio. O gás ozônio apresenta ponto de liquefação a temperatura de -112ºC e ponto de congelamento à 251,4ºC. O ozônio medicinal é uma mistura gasosa que deve compreender 95% de oxigênio e até 5 % de ozônio.

Além das formas naturais, o gás ozônio pode ser produzido de forma artificial por geradores, que podem utilizar os sistemas de produção ultravioleta, de descargas elétricas ou de produção de plasma frio: o primeiro produz baixas concentrações de ozônio; o segundo produz concentrações maiores em alta voltagem (5 a 13 mV) e o último é utilizado somente para a produção de ar e água purificados. Os materiais usados na produção artificial devem ser compostos de silício, PVC e polietileno, pois devem ser inertes ao gás. Objetos como luvas de látex e tubos de borracha não são aconselháveis para a manipulação do gás, pois absorvem rapidamente ozônio e degradam-no.

A terapia com ozônio é indicada em doenças arteriais circulatórias, úlceras externas, lesões de pele, imunodeficiência, hepatite, terapia suporte, inflamações e tratamentos dentários. Além de ser usada para esterilização de materiais, da água e do ar (embora este último ainda seja controverso). O uso é justificado pelas propriedades bactericidas, fungicidas e viricidas do gás. O seu mecanismo de ação resulta na oxidação da membrana e componentes celulares citoplasmáticos dos microrganismos, facilitada pela alta capacidade de penetração tecidual do gás.

Estas características melhoram a circulação e a oxigenação dos tecidos, reduzindo a agregação plaquetária e melhorando as respostas imunológicas. Também auxilia na cicatrização de feridas e na regeneração de tecidos, podendo ser indicado para o tratamento de enfermidades inflamatórias, infecciosas e isquêmicas. Atua como imunomodulador, indutor de enzimas oxidantes e é um possível ativador de células troncos.

Em virtude do exposto é que se justifica o uso da ozonioterapia nas patologias de origem dermatológicas. Vale ressaltar que deve ser utilizada como um tratamento adjuvante e não só a única escolha terapêutica.

As dermatopatias podem ser classificadas por suas origens alérgicas, parasitárias, fúngicas, bacterianas, endócrinas e neoplásicas. São consideradas os problemas mais recorrentes na rotina clínica sendo, as dermatites fúngicas e bacterianas, as que mais se destacam. Nas doenças cutâneas alérgicas, as mais comuns são a dermatite atópica, a hipersensibilidade alimentar e a alergia à picada de ectoparasitas (DAPE). As principais doenças de cunho parasitário compreendem sarna sarcóptica, demodicose e leishmaniose. Já as doenças de origem fúngica, tem-se destaque para esporotricose felina, dermatofitose e Malasseziose. Dentre as patologias cutâneas de origem endócrina tem-se hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo. E, por fim, nas origens neoplásicas, destacam-se o carcinoma espinocelular e linfoma epiteliotrópico.

Seu poder biocida é devido ao alto potencial oxidativo sobre os microorganismos, sendo mais veloz que o hipoclorito de sódio. O ozônio atua em sua membrana celular, rompendo-a, causando a dispersão do citoplasma e consequentemente sua morte, que ocorre em segundos.

Nas bactérias, o ozônio provoca a lise pela ação oxidativa sobre glicolipídeos, glicoproteínas e aminoácidos presentes na membrana celular. Este efeito é maior em meio ácido, com diminuição da temperatura e alta umidade relativa do ar. As bactérias são mais sensíveis ao ozônio, seguidas das leveduras e fungos. Por esse motivo o ozônio é usado como um ótimo desinfetante e antimicrobiano.

No caso das feridas, a ozonioterapia atua favorecendo a proliferação de fibroblastos e colágenos no local de aplicação. Em casos de otite bacteriana, o ozônio atua estimulando a resposta do sistema imune e diminuindo o prurido, sinal clínico muito característico.
O ozônio atua na promoção da imunidade pois estimula a produção de citocinas, síntese de anticorpos e a ativação de linfócitos T, além de induzir a liberação de antioxidantes e modular a liberação de agentes anti-inflamatórios. Já nas enfermidades de caráter circulatório, age melhorando a oxigenação e o metabolismo celular por meio de vasodilatação e aumento da resposta enzimática antioxidativa, além de atuar reduzindo a agregação plaquetária.
O mecanismo de ação do gás ozônio atua no organismo formando as espécies reativas de oxigênio (ROS) e produtos da oxigenação de lipídios (LOP). As ROS são formadas a partir dos ácidos graxos poli-insaturados e dos compostos tiólicos das células. Já as LOPs são os produtos formados a partir do peróxido de hidrogênio. Os ROS e LOPs atuam na pele sendo reduzidos por antioxidantes enzimáticos, como a glutationa oxidase, o superóxido dismutase e a catalase, além de isoformas de vitamina E, vitamina C, ácido úrico e ubiquinol. Por isso, quando o ozônio é convertido em ROS e LOPs no plasma sanguíneo, ele atua desencadeando o processo terapêutico.

O sistema de atuação do ozônio está relacionado ao nível de NADH, pois o gás estimula o fluxo de oxigênio na membrana da mitocôndria, promovendo uma cadeia respiratória mais ativa com maior produção de ATP e aumento do metabolismo celular.

Os ROS dependem de uma baixa quantidade de ozônio (variando de 5 a 25%) e agem rapidamente no organismo: cerca de 15 a 20 minutos depois retornam aos níveis normais. Isto ocorre pela eficiência do dihidroascorbato redutase e do ácido ascórbico em reciclar compostos oxidados. O ROS atua em cada célula com um efeito bioquímico diferente, como por exemplo: nas células mononucleares do sangue, funciona ativando a enzima tirosina quinase, que provoca fosforilação do fator de transcrição nuclear, alterando a síntese proteica daquela célula. Além disso, as ROS são os agentes naturais mais efetivos contra os patógenos antibióticos resistentes.

Os LOPs, quando em quantidades razoáveis, atuam ativando mensageiros de estresse oxidativo a longas distâncias e induzem a produção de heme-oxigenase-I, gerando moléculas heme, CO e bilirrubina, o que auxilia na regulação da vasodilatação. Tanto os ROS quanto LOPs, quando em excesso nas células, podem desencadear a produção de radicais tóxicos.

A contradição é que o ozônio é um agente oxidante que pode promover estresse oxidativo, ele tem uma ação seletiva sobre compostos orgânicos, induzindo à elevação de enzimas como catalase, glutationa e superóxido dismutase (esta última sendo a única que usa radicais livres).

A ozonioterapia pode ser utilizada por diversas vias de aplicação. Dentre elas, se destacam a via subcutânea, via tópica, intramuscular, intra/periaticular, intravaginal, intramamária, intrarretal e por auto-hemoterapia maior e menor. Para dermatopatias, a técnica mais utilizada é a bag.

O uso de ozônio tópico pela técnica bag ou bolsa é um método muito eficiente para o tratamento de úlceras, escaras e lesões de origem bacteriana, viral ou fúngica. É necessário limitar a área de contato do gás com a pele, por isso se usa um sistema fechado de bolsa que deve conter materiais resistentes ao ozônio. É indicado umidificar a área lesionada com soro fisiológico ou água antes de iniciar o procedimento, para que o gás O3 tenha maior absorção pela lesão. Esta técnica deve ser utilizada com duração de 20 a 30 minutos por sessão; nas primeiras sessões já é possível observar melhora significativa nas lesões.

Outra forma de tratamento tópico é pelo uso de óleos vegetais ozonizados, como o óleo de girassol, oliva e de jojoba, que são capazes de liberar gradualmente o ozônio nas lesões, atuando como bactericida e estimulando a regeneração tecidual. Quanto maior o tempo da ação da solução ozonizada, maior será seu poder oxidativo e cicatrizante.

Um grande aliado no tratamento das dermatopatias é a administração de ozônio por insuflação retal concomitante com a técnica bag, pois a insuflação retal promove a estimulação da imunidade do animal, e ao contrário do que parece não causa desconforto ao paciente, pois a mistura de ozônio e oxigênio é absorvida diretamente na mucosa intestinal.

A administração de ozônio por via inalatória é contraindicada, pois o gás tem efeito tóxico sobre a mucosa da traqueia e dos brônquios. A administração do ozônio nos olhos também é contraindicada, visto que este órgão tem mínimas quantidades de antioxidantes e neutralizadores. Há também autores que contraindicam a ozonioterapia em casos de gestação, deficiência de glicose 6 fosfato dihidrogenase, hipertireoidismo, anemia severa, miastenia severa e hemorragia ativa. Na pele, o gás ozônio pode provocar descamação do epitélio glandular caso a terapia seja feita de forma excessiva, devido ao alto poder oxidativo do gás.

A ozonioterapia pode ser considerada uma alternativa no tratamento de diversas patologias (com principal foco para as dermatopatias) através de seu efeito cicatrizante, viricida, bactericida e fungicida. É uma técnica de baixo custo, quando comparada com aos demais tratamentos dermatológicos, de fácil aplicação e com poucos efeitos colaterais. Deve-se ressaltar que esta técnica é uma terapia adjuvante, ou seja, que deve vir acompanhada das terapias convencionais, pois somente o seu uso como tratamento de escolha não é indicado. Os resultados são promissores quando a técnica é feita corretamente e com equipamentos confiáveis, tornando a ozonioterapia uma proposta eficaz com resultados positivos.

Referências

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Yasmin da Mota de Magalhães, Marllon Vieira Barbosa, Josye Franco Leite – Discentes do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Clayton B. Gitti – Docente do curso de Medicina Veterinária da UFRRJ