Produzir leite de qualidade com tradição, inovação e tecnificação transformou a Agrindus em referência no segmento

Tratar o segmento com respeito, profissionalismo, seriedade, sempre atentos às novas tendências tecnológicas exigidas pelo mercado, sem abrir mão da tradição. É dessa forma que, há 75 anos, a Agrindus, uma das maiores produtoras de leite do País, vêm se destacando na produção de leite e seus derivados.

Fundada em 1945, inicialmente, a Agrindus era uma fazenda de café. Depois, começou a produzir leite para sua agroindústria de caseinato de cálcio, além de melado de cana, produtos destinados à indústria farmacêutica. A atividade foi leiteira evoluindo ano a ano e, na década de 1950, a empresa já era uma das maiores produtoras de leite do País.

Roberto Jank Jr. Foto: Divulgação

“Nos anos de 1960, já éramos uma fazenda de leite a pasto com suplementação no cocho e, ao longo dos anos, passamos a intensificar a produção por área, confinar o rebanho, investir em tecnologia, em capacitação das pessoas e equipamentos”, conta o engenheiro agrônomo e diretor presidente da Agrindus S/A, Roberto Hugo Jank Jr.

Dando sequência ao processo de evolução da atividade, o empresário lembra que, também nos anos 1960, a empresa construiu uma fábrica de queijo, já com ordenha mecânica, algo que, à época, já denotava a preocupação em desenvolver um trabalho focado em inovação e sustentabilidade. “No início dos anos de 1970 fizemos novas instalações, sob o Serviço de Inspeção Federal (SIF), para o leite tipo B, e, cerca de dez anos depois, passamos a intensificar a produção, com três ordenhas diárias e confinamento das vacas holandesas. Na década seguinte, entramos no leite tipo A, em novas instalações que unificaram as operações de leite na atual unidade”, relata Jank Jr, acrescentando que hoje o rebanho leiteiro conta com 1,8 mil vacas em produção e um total de 4.300 fêmeas holandesas PO.

Vacas holandesas criadas em confinamento. Foto: Divulgação

Investimentos

Para dar continuidade aos negócios e à evolução da empresa, pensando sempre no desenvolvimento e na melhoria das atividades, o diretor presidente diz que todos os investimentos foram feitos por intermédio de empréstimos bancários. Nos anos 1990, o rebanho leiteiro foi todo confinado e a empresa começou a investir também em pecuária de corte, com cria, recria e engorda em confinamento. Como parte do processo de diversificação, no início de 2000, toda a terra que antes utilizada pelo rebanho de leite a pasto foi formada em laranja irrigada, atividade que passou a ocupar 40% da área útil da fazenda.

Ainda assim, segundo Jank Jr, o rebanho de leite continuou crescendo e a agricultura de transformação, usada para alimentar o rebanho, tornou-se maior e mais intensiva com a utilização de irrigação e fertirrigação, algo que ele considera fundamental para atingir esses resultados. “Para alimentar o rebanho que crescia, passamos a investir mais em irrigação para a produção de silagens e forrageiras de inverno”, justifica. “Essa evolução culminou, em 2006, com o lançamento da marca própria Letti, de leite tipo A”, acrescenta.

Letti, leite tipo A. Foto: Divulgação

Nesse viés, seguindo a trilha de evolução e inovação, em 2018, a empresa lançou o primeiro leite proveniente de vacas a2a2 do Brasil. Os produtos Agrindus estão certificados com o selo de origem a2a2, selo Kosher da comunidade Judaica e selo Verde, de boas práticas sociais e ambientais. “A nossa meta permanece sendo produzir leite fresco e laticínios de alta qualidade e pouco processados para consumo local, clean label (termo em inglês que significa rótulo limpo) e baixa pegada de carbono”, ressalta o empresário. Atualmente, a empresa produz 60 mil litros de leite por dia, com produtividade de 40 mil litros por hectare/ano, além de 900 mil caixas de laranja, 2 mil bovinos terminados e 400 mil aves por ano.

Gestão

Produção de forrageiras. Foto: Divulgação

Para gerenciar as atividades relacionadas à pecuária leiteira e seus derivados, como também todos os outros segmentos em que a empresa está envolvida, Jank Jr conta com um time de ponta, encabeçado por ele, além de outros membros da família. “Somos três gestores, meu pai Roberto na agricultura, eu na produção de laranja, leite, laticínios e pecuária de corte, e meu irmão, Jorge, exclusivamente na parte financeira e administrativa”, conta. “Na Letti já estão minhas filhas Taís (comercial) e Diana (marketing), trabalhando com nosso amigo Eduardo Eisler, gestor da Letti”, lista. Para controlar todas as operações, a Agrindus utiliza o software ERP (sigla para Enterprise Resource Planning, que significa Sistema Integrado de Gestão Empresarial).

Sobre como superar os obstáculos de uma jornada tão longeva e próspera, o empresário lembra que a gestão de uma empresa de 75 anos de idade é fruto de decisões do passado, algumas melhores, outras piores. “Sempre conseguimos dar a volta por cima nos problemas e crises enfrentadas em todo esse período e, desde o início das nossas atividades, a empresa sobreviveu com sucesso a duas reestruturações societárias e cresce todos os anos” comemora.

Segundo Jank Jr, também é preciso traçar metas e saber onde se pretende chegar, para que as decisões de que rumo seguir sejam assertivas e atinjam os resultados esperados. “Nosso objetivo sempre foi intensificar a produção por hectare e adicionar valor à produção primária, seja com a verticalização, seja com diferenciais do produto final, seja com a melhor utilização dos efluentes, criando um círculo virtuoso entre a produção de forrageiras e os fertilizantes orgânicos produzidos”, detalha. “Também agregamos valor com a comercialização de genética, fruto de investimentos em transferência de embriões, utilização de marcadores moleculares, genômica, sêmen sexado, entre outras tecnologias.”

Instalações da Agrindus. Foto: Divulgação

Obstáculos

Em relação ao segmento do leite e seus derivados, Jank Jr, que além de diretor presidente da Agrindus/SA, também é vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite – Leite Brasil, e vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), diz que há algumas observações importantes a serem consideradas para uma evolução, não apenas na forma produtiva e sustentável da atividade, como também para que o produtor saiba o que e como fazer para se garantir na atividade.

Rebanho da Agrindus. Foto: Divulgação

“O amadurecimento do setor leiteiro depende de uma associação forte e representativa. Ao contrário da soja, laranja e café, no leite temos enorme potencial de ganhos de eficiência ainda a conquistar e certamente essa meta depende de uma entidade como a Abraleite”, destaca. Segundo ele, a entidade tem um importante papel a cumprir no mercado brasileiro de leite, que é de competição pura e precisa explorar pontos convergentes também entre seus elos.

Na opinião do executivo, as instituições governamentais precisam ter consciência e saber da importância que elas têm para o desenvolvimento sustentável desse mercado, porém é preciso que atuem com objetivos definidos. “Elas ajudam quando cumprem seu papel de normatizar e fiscalizar, porém, atrapalham quando extrapolam essas funções, tentando interferir na livre economia e na burocratização sem sentido prático”, enfatiza e acrescenta que isso também ocorre em relação às instituições de classe, “que atuam sem pleno entendimento do poder que uma classe como a dos produtores de leite têm e que, ao invés de estarem unidos em seus propósitos, são absolutamente convergentes”.

Envase do leite na produção da Agrindus. Foto: Divulgação

O vice-presidente da Abraleite afirma que o Brasil já é o terceiro maior produtor mundial de leite, porém, até o momento, cresceu de maneira horizontal. Em 2019, a produção do País foi estimada em 33 bilhões de litros pela Leite Brasil. “Temos que atingir os parâmetros internacionais de qualidade e ganhar em eficiência e escala. Certamente muitos produtores deixarão a atividade nos próximos anos e esse processo é inexorável, temos que cuidar dessa transição para uma pecuária mais profissional”, observa. Jank Jr e acrescenta que, nesse sentido, é preciso investir na capacitação das pessoas, em tecnologias que permitam ganho de escala sem agredir o meio ambiente, utilizando os recursos naturais de forma eficiente.

Além disso, segundo o executivo, há outras ações importantes que precisam se colocadas em prática para mitigar alguns gargalos que dificultam um crescimento ainda mais significativo da pecuária leiteira. Nesse aspecto, a entidade tem, como meta atual, melhorar as relações contratuais entre produtor e indústrias, buscando saídas para os três graves problemas do leite no Brasil: qualidade, logística primária e fidelização.

Cenário

Apesar de se manter entre os três maiores produtores de leite do mundo, o mercado leiteiro tem sofrido com oscilações decorrentes de diversos fatores, conforme explica o zootecnista e especialista da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro. “No caso do leite, a maior parte dos lácteos produzidos no Brasil é consumida no mercado interno. Para se ter uma ideia, as exportações não representam 1% do volume total em equivalente litros de leite”, argumenta Ribeiro. Como consequência, ele diz que, em momentos de crise, o País não tem opções de escoamento no mercado externo, como ocorre no segmento de carnes e grãos, por exemplo, o que gera pressão de baixa sobre os preços.

Ainda segundo o especialista, para superar esses desafios e manter a atividade em alta, um ponto fundamental é o aumento da demanda interna e abertura de novos mercados para exportação. “Se a produção de leite brasileira crescer sem ter mercado, a tendência é que os preços ao produtor caiam”, enfatiza. Outro ponto importante, conforme Ribeiro, são os investimentos em tecnologia (nutrição, genética, sanidade, gestão, etc.), que garantem ganhos em produtividade (maior produção por área) e diluição dos custos da atividade, o que tende a melhorar a margem.

Rafael Ribeiro, Scot Consultoria. Foto: Divulgação

“Destaco, ainda, a questão da qualidade do leite (bastante atrelada ao uso de tecnologia), que hoje é essencial. Os laticínios pagam ágios por qualidade e volume, que chegam a 35% em relação ao valor base, assim, aumentando o preço de venda do leite e o volume, a receita terá incremento”, afirma o especialista.

Para manter-se na atividade, o consultor tem a mesma opinião que o vice-presidente da Abraleite, ou seja, capacitar e tecnificar é fundamental para a sobrevivência e a evolução sustentável do segmento. “Com relação as perspectivas para o produtor, quem não investir em tecnologia e melhorias dos índices zootécnicos está fadado a deixar a atividade, como temos visto nos últimos anos”, alerta. Ele destaca a importância de preciso levar informação e consultoria técnica aos produtores, além de treinar os técnicos constantemente. Nesse aspecto, ele considera o modelo do Balde Cheio, da Embrapa, muito interessante.

De acordo com Ribeiro, sem investimentos na atividade, os resultados econômicos não foram tão significativos nos últimos anos na pecuária de leite. Nesse viés, segundo ele, outro ponto importante são as linhas de financiamento para custeio e investimentos. “Por ser uma atividade essencial, porém, de margens estreitas e com muitas variáveis envolvidas, é preciso analisar uma forma de subsídio pelo governo em algum aspecto”, sugere.