A aproximação pacífica e afetiva entre as espécies, Canis lupus familiaris e homo sapiens, perde-se no passado. Como e quando os animais foram afetivamente incorporados ao cotidiano? Vamos às conjecturas! Somente com a imaginação, podemos supor sobre primórdios dessa velha amizade; sequer compensaria consultar pinturas rupestres. Não há formas exatas nos desenhos. Ademais, as pinturas das cavernas, relativamente recentes, são imprecisas, com datações de no máximo 40 mil anos. Acredita-se que o encontro ocorreu há 500 mil anos, quando ainda existia o homus erectus. Entretanto, arqueólogos descobriram que tal relação doméstica deixou vestígios e era muito normal no ambiente de cavernas e aldeias.

Não podemos afirmar com certeza, existem apenas hipóteses, mas os caçadores pré-históricos, ao saírem das cavernas, procuravam aprender as habilidades dos outros animais. Nem sempre os homens aprenderam por tentativa e erro, também observavam táticas de caça de outros animais, aos quais imitavam nas danças rituais. Erros durante a caçada podiam significar a morte do predador. As matilhas serviram como ótimos exemplos de estratégias, com coordenação perfeita, para atacar e abater as presas.

A aproximação pacífica entre o lobo e o homo erectus, acabou acontecendo. Podemos crer, sem sonhar muito, que duas situações teriam acontecido: filhotes de lobos órfãos foram acolhidos dentro das cavernas; ou animais esfomeados, enfraquecidos, pegavam restos de alimentos dos humanos, criando assim a necessidade de vínculo afetivo e que acabou evoluindo.

Parceiros nas tarefas no habitat humano

As artes plásticas, focadas na presença de cães nas diversas atividades humanas, são muito ricas e variadas. O tempo se encarregou de mostrar que os cães poderiam ser fiéis e competentes, para a vida da tribo. A especialização dos cães, isto é, raças apropriadas para ajudar nas lidas dos seres humanos, certamente, é coisa mais recente nessa história de “amizade”; contam as más ínguas que inicialmente foi pura troca de interesses.

Museus guardam acervos que comprovam essa convivência, que resultou na domesticação do cão; há também uma vasta literatura, documentando a presença deles junto ao homem. Nas composições artísticas, há numerosas cenas, bastante significativas com imagens de cães nas caçadas de raposas, lebres, patos etc. Existem igualmente representações importantes, com diferentes temáticas e com outras raças, para companhia, guarda e segurança!

Presença de caninos nos mosaicos romanos

Escolhemos dois pequenos mosaicos, como exemplos dessa temática nas composições artísticas mais antigas. Eram usadas como decoração e sinalização nos palácios, locais públicos e residências. Eles podem ser encontrados por todos os lugares onde floresceu a cultura do Império Romano.

Os primeiros mosaicos surgem no Século Terceiro AC, com técnicas gregas e egípcias conhecidas. Roma adotava mosaicos mais discretos nas decorações de locais públicos, poucas cores, deixando os mais elaborados e coloridos para palácios e casas abastadas. A popularização levou ao empobrecimento dessa arte, quando usados em casa populares, mosaicos pequenos e serviam como saudações aos visitantes; outros, muito comuns, alertavam: “cave Canem” (Cão Bravo), portanto, a presença de cachorros de guarda era comum, mostrando haver na época algum tipo de insegurança nas cidades.

Cães em Conimbriga (Portugal) e Pompeia (Itália)

Em Conimbriga (Portugal) e Pompéia (Itália), sítios arqueológicos, podemos avaliar a grandeza de Roma, império que durou mais de 500 anos. Lá estão vestígios que possibilitam melhor entendermos a presença dos cães, na vida dos povos aculturados. Escolhemos, dentre os mosaicos romanos, duas representações marcantes, para ilustrar o texto, com o simbolismo e a importância dos cachorros na vida dos seres humanos. Das ruínas de Conimbriga, próximas de Coimbra/Portugal, selecionamos detalhe de pequena cena de caça; e das escavações de Pompeia, escolhemos um exemplar dos mais conhecidos mosaicos “Cave Canem”.