A anta-brasileira (Tapirus terrestris), também conhecida popularmente como tapir (termo originado do Tupi tapi’ira), pertence à Ordem Perissodactyla, que reúne mamíferos terrestres ungulados de número ímpar de dedos nas patas. É considerada a maior espécie de mamífero da América do Sul, sendo encontrada no Brasil e também na Argentina, Equador, Bolívia, Colômbia, Guiana e Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela.

Uma diversidade de ambientes servem de habitat para as antas, que podem ocupar florestas de galeria, florestas tropicais de baixas elevações, pântanos e planícies úmidas, ou seja, ambientes florestais associados a fontes de água permanentes.

Tapirus terrestris reintroduzida na Reserva Ecológica de Guapiaçu, RJ. Foto: Joana Macedo.

A anta é um mamífero de grande porte, apresentando o corpo robusto, que atinge de 1,70 a 2m de comprimento, 1,10 m de altura nos machos e 2,20m nas fêmeas, alcançando até 300 kg. Sua cabeça é grande, com olhos pequenos e em seu focinho observa-se uma pequena tromba móvel, curvada para baixo. As patas são curtas, apresentando quatro dedos nas anteriores e três nas posteriores e sua cauda é pequenina. A pelagem nos adultos é curta e áspera, de coloração marrom-acidentada e observa-se uma crina na região dorsal do pescoço. Os filhotes nascem com pelagem mais clara e listras brancas longitudinais que os camuflam por entre a vegetação e permanecem por até de seis meses após o nascimento do animal.

São animais herbívoros de apetite voraz e olfato apurado, com uma dieta diversificada, que inclui uma variedade de espécies vegetais arbustivas, arbóreas e herbáceas. Folhas, cascas de árvores, brotos e frutos são importantes itens alimentares, principalmente os frutos de palmeiras. Como as antas apresentam grande capacidade de deslocamento durante a alimentação, são colaboradoras importantes na dinâmica das florestas, atuando como dispersoras de sementes, sendo por este motivo chamadas de “jardineiras das florestas”.

Como a maioria dos mamíferos de grande porte, descansam durante o dia e a noite saem em busca de alimento. São exímias nadadoras, possuindo o interessante hábito de defecar na água, comumente em um mesmo local, o qual é denominado latrina. Acredita-se que este comportamento esteja relacionado à demarcação territorial, no entanto há também registros de fezes destes animais em áreas secas e bordas de florestas. Estudos mostram que possuem um importante papel na regeneração de florestas degradadas na Amazônia quando depositam suas fezes em áreas com vegetação menos densa.

Tapirus terrestris reintroduzida na Reserva Ecológica de Guapiaçu, RJ. Foto: Joana Macedo.

O ciclo reprodutivo é longo, com o período de gestação durando em torno de 13 a 14 meses, dando origem a um único filhote, que nasce pesando entre 7 a 9 kg. O filhote permanece com a mãe por um período de até 12 meses após nascido e atinge a maturidade sexual com até três anos de idade.

São animais solitários na maioria das vezes, no entanto podem ser encontradas com no máximo dois ou três indivíduos aparentados. Seus predadores são as onças-pintadas e onças pardas.

Originalmente, a distribuição das antas pelo território brasileiro ocupava 13 milhões de Km2, no entanto, hoje já estão consideradas extintas em 14% desta área. Segundo a lista vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature) o status da espécie é considerado como vulnerável (VU) e adicionalmente consta no Apêndice II da CITES (CITES 2010). A avaliação do Risco de Extinção da Anta brasileira do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade traz as seguintes categorias de acordo com os biomas: Amazônia – Menos preocupante (LC), Mata Atlântica – Em perigo (EN), Pantanal – Quase ameaçada (NT), Caatinga – Regionalmente Extinta (RE), Cerrado – Em perigo (EN).

Tapirus terrestris reintroduzida na Reserva Ecológica de Guapiaçu, RJ, camuflada em meio a floresta. Foto: Joana Macedo.

Muitas são as ameaças a que estão expostas as populações de antas no Brasil. Dentre elas podemos citar a caça, o desmatamento e fragmentação do hábitat, incêndios, expansão da pecuária e monoculturas, doenças infecciosas advindas de contato com animais domésticos, tamanho reduzido e falta de monitoramento nas áreas protegidas onde são encontradas, crescimento da população humana, atropelamentos em rodovias, dentre outras. O longo período de gestação da espécie aumenta sua vulnerabilidade diante das ameaças, pois torna sua reprodução lenta para recuperar indivíduos em áreas onde há atividade prolongada de caça e o fato de utilizar trilhas já abertas também aumenta a fragilidade do animal.

Ações para a preservação da espécie têm sido adotadas. Dentre estas podemos citar o desenvolvimento e implantação dos planos de ação, as pesquisas a campo, reintrodução em locais onde já estão consideradas extintas, translocação e campanhas de educação ambiental. Apesar do esforço para conservação da espécie, ações complementares como a instituição de novas unidades de conservação, além da garantia de proteção efetiva das já existentes, redução da perda de habitat, estabelecimento de conexão dos mesmos e mitigação dos atropelamentos em rodovias são necessárias.

Tapirus terrestris equipada com colar VHF e GPS para monitoramento pelo Projeto Refauna. Foto: Joana Macedo.

 

Autores:
MSc. Aline Braga Moreno – Mestre em Ciências Veterinárias -UFRRJ
Dr. Marcio Barizon Cepeda – Doutor em Ciências Veterinárias – UFRRJ
Fotos: Joana Macedo