Autores: Maria Clara Rangel Dias; Maria Fernanda da Silva Prudêncio; Francisco Luidi Mota Marques de Pinho; Rafaela Mello da Silva – Discentes da Liga de Equídeos CENTAURUS da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Supervisionado por Prof. Clayton B. Gitti – Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ.
INTRODUÇÃO
A equideocultura está fortemente enraizada no país e sua cadeia produtiva gera milhões de empregos, sustentando famílias e sobretudo movimentando a economia do Brasil. O agronegócio do cavalo abrange diversos setores como lazer, trabalho, pesquisa, esporte, militar, equoterapia, entre outros. Diante disso, entende-se que aprimorar a cadeia produtiva do cavalo é um investimento e acompanhar as fases de crescimento do cavalo é de suma importância para alcançar ótimos resultados na produção e evitar perdas econômicas.
A fase do potro neonato é uma das mais importantes na vida do cavalo, pois logo que nascem, podem estar suscetíveis a inúmeras patologias e, basta um manejo incorreto, para que essas afecções aconteçam. Dentre as patologias está a síndrome da diarreia, uma causa muito comum de mortalidade em neonatos (LUCAS, 2012), acometendo quase 80 % dos potros neonatos, comprometendo o seu desenvolvimento e a sua sobrevida (TANABE, et al., 2014).
O microbioma do trato digestório dos equinos é composto por diversos microrganismos como as bactérias, archeas, protozoários, bacteriófagos, vírus e fungos (COSTA; WEESE, 2012; JULLIAND; GRIMM, 2016). No instante que nascem, os potros entram em contato com os microrganismos da vida extrauterina iniciando a colonização da microbiota. Realizar a manutenção desse ecossistema, é primordial para a sobrevivência do animal, uma vez que alterações na microflora deixam de proteger e prevenir a colonização de patógenos intestinais, os quais podem resultar no desenvolvimento de doenças que manifestam a diarreia (WEESE, 2002).
CAUSAS
A diarreia pode ter origem infecciosa, não infecciosa ou parasitária. Em casos onde a diarreia tem como origem a infecção, os principais responsáveis são os vírus e bactérias como Escherichia coli e Salmonella sp.. As causas não infecciosas da doença são ulcerações gástricas, intolerância à lactose, uso irracional de antimicrobianos, diarreia do cio do potro, dentre outros e a parasitária está associada a presença de helmintos, parasitas e coccídeos (OLIVO, 2013).
- Diarreia do cio do potro
A diarreia do cio do potro é considerada a causa mais comum de diarreia nos neonatos. De origem não infecciosa, é uma doença considerada branda, que acomete neonatos ao redor do sétimo dia de vida. Algumas causas são consideradas predisponentes para a doença como o cio da égua, composição do leite, má absorção de carboidratos e superalimentação.
A composição fecal durante a diarreia do cio do potro sugere uma diarreia do tipo secretora, onde as concentrações de eletrólitos estão mais elevadas do que o normal. Segundo MELO, et al., (2007), há uma hipersecreção na mucosa intestinal, que associada a coprofagia, causa a diarreia em resposta ao estabelecimento da flora microbiana normal. Apesar da doença ser considerada branda, os potros devem ser monitorados de perto, atentos a qualquer sinal sistêmico.
- Rotavírus
Responsável por infecções em animais jovens, o rotavírus provoca a descamação das vilosidades da mucosa do intestino delgado, no qual estimula uma hiperplasia compensatória das criptas intestinais. O sinal observado dessa situação é a má absorção, intolerância à lactose e hipersecreção intestinal. Dessa forma, a presença de lactose não digerida no intestino grosso provoca uma fermentação ácida, o que contribui para a ocorrência de diarreia no potro (HEPBURN, 2007).
- Salmonella
As bactérias do gênero Salmonella são do tipo gram-negativas, anaeróbias facultativas, e desencadeiam a salmonelose, um distúrbio que ocasiona tanto complicações entéricas como sistêmicas. A via de infecção provável é oral, havendo múltiplas formas de transmissão, tais como através de alimentos e água contaminada, contato com outros animais e ambientes que estão infectados (SLOVIS, 2003).
A bactéria causa uma reorganização do citoesqueleto das células epiteliais e suas enterotoxinas, junto à inflamação, causam um aumento da secreção pelo epitélio intestinal. Em potros mais jovens, os sintomas como diarreia severa, cólica e febre são mais graves em comparação a animais com mais de quatro meses de idade.
- Escherichia coli
Esse microrganismo é agente causador de enterites em diversas espécies de animais como equinos, bezerros, cordeiros e humanos. O diagnóstico é feito baseado nos sinais e sintomas clínicos juntamente a um isolamento e cultivo da bactéria advinda das fezes dos animais, onde sua patogenicidade é comprovada e seus fatores de virulência são identificados. Esta bactéria provoca diarreia profusa e aquosa, acometendo potros com menos de um mês de vida.
TRATAMENTO
Em casos de diarreia em potros, o principal objetivo do tratamento, independentemente da causa subjacente, consiste em assegurar um equilíbrio adequado de eletrólitos, fluidos e pH. No caso de potros recém-nascidos, enfrenta-se desafios terapêuticos adicionais, incluindo a monitorização e manutenção da função cardiovascular normal, prevenção de infecções secundárias, e garantia de uma nutrição apropriada (DUNKEL, 2008).
- Fluidoterapia
Uma alternativa para tratar os potros é a fluidoterapia. A reidratação pode ser oral, havendo uma absorção intestinal normal recomendada apenas em casos leves e ambulatoriais por curtos períodos. Entretanto, a via oral não pode ser feita em neonatos. Em outros casos, a via intravenosa pode ser usada para administrar o fluido através de catéteres (HEPBURN, 2007).
- Antimicrobianos
Essa terapia é indicada para animais que apresentam febre associada ao quadro de diarreia, visando combater a disseminação sistêmica de patógenos entéricos. Além disso, o monitoramento renal é necessário devido a possibilidade de reações nefrotóxicas pela administração desses medicamentos (HEPBURN, 2007).
PREVENÇÃO
No que tange à prevenção das diarreias, o principal objetivo é realizar a manutenção e proteção da microbiota original do trato intestinal, pois a mucosa intestinal além de digerir e absorver os alimentos funcionam também como parte do sistema imunológico crítico para a defesa do hospedeiro (TANABE, et al., 2014). Uma das opções para prevenir os casos de diarreia é o fornecimento de aditivos como os Prebióticos e Probióticos ao potro neonato desde o seu primeiro dia de vida.
O prebiótico tem como objetivo estimular o crescimento dos microrganismos que serão benéficos ao intestino. O probiótico, por sua vez, é o próprio microrganismo. Ambos têm o papel de ajudar na manutenção do ecossistema de origem, auxiliando na regulação da função intestinal e contribuindo para a prevenção da diarreia.
Além disso, um bom manejo sanitário e ambiental faz parte da prevenção da diarreia no dia a dia de um haras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, M. C., et al. Comparison of the fecal microbiota of healthy horses and horses with colitis by high throughput sequencing of the V3-V5 region of the 16S rRNA gene. PloS One, v. 7, n. 7, p. e41484, 2012.
Dunkel, B. Diagnosis and treatment of non-infectious and infectious foal diarrhoea. Pferdeheilkunde, 24(4), 529-539, 2008.
Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo – Confederação da Agri – cultura e Pecuária do Brasil. Coletânea de Estudos Gleba n°39. Brasília: CNA, 2004.
HEPBURN, Richard. Management of diarrhoea in foals up to weaning. In Practice, v. 29, p. 334-341, 2007.
JULLIAND, V.; GRIMM, P. Horse Species Symposium: The microbiome of the horse hindgut: History and current knowledge. Journal of Animal Science, v. 94, n. 6, p. 2262-2274, 2016.
LUCAS, T. Ocorrência e investigação de fatores de virulência em enteropatógenos de origem bacteriana em potros até três meses de idade, com e sem diarréia, criados no interior do Estado de São Paulo. 2012. 89 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, 2012
MAGDESIAN, K. G. Neonatal foal diarrhea. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v. 21, n. 2, p. 295-312, 2005.
MELO, U. P. de et al, DOENÇAS GASTRINTESTINAIS EM POTROS: ETIOLOGIA E TRATAMENTO. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 4, p. 733-744, out/dez. 2007.
OLIVO, Giovane. Estudo clínico e etiológico da diarreia em potros. 2013. 112. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, 2013.
SLOVIS, N. M. Gastrointestinal failure. Clinical techniques in equine Practice, Philadelphia, v. 2, n. 1, p. 79-86, 2003.
TANABE, S., et al. Anti-inflammatory and intestinal barrier–protective activities of commensal lactobacilli and bifidobacteria in thoroughbreds: role of probiotics in diarrhea prevention in neonatal thoroughbreds. Journal of equine science, v. 25, n. 2, p. 37-43, 2014.
WEESE, J. S. Probiotics, prebiotics, and synbiotics. Journal of Equine Veterinary Science, v. 22, n. 8, p. 357-360, 2002.