Problemas gastrointestinais são frequentes em criação de bovinos levando a impactos no desenvolvimento do animal bem como perdas econômicas ao produtor devido a mortalidade e gastos com o tratamento. Estima-se que 100 milhões de dólares são gastos anualmente com a criptosporidiose pelos criadores de bovinos (HARP et al., 1998). A prevalência média  do protozoário em bovinos no Brasil foi de 30,51% (10,2 a 62,5%), envolvendo as espécies C. bovis, C. parvum e C. ryanae (OLIVEIRA et al., 2022). Esta é uma doença causada pelo protozoário Cryptosporidium spp., que completa seu ciclo de vida na superfície de células epiteliais do trato gastrointestinal. (SANTOS et al., 2013). Levando em consideração o grande impacto econômico causado por este parasito, destaca-se a importância de apresentar ao produtor pontos na criação que podem favorecer o desenvolvimento da criptosporidiose e a relevância do diagnóstico desta enfermidade para seu precoce tratamento e prevenção.

Em primeira instância cabe ressaltar que, segundo O’Donoghue et al. (1995) os bezerros neonatos são mais suscetíveis à infecção clínica e os animais adultos são acometidos por infecções de natureza assintomática ou associadas a sintomas clínicos de pouca gravidade, sendo que a taxa de morbidade de bezerros varia entre 9% e 85% causando também perda de peso nestes animais (OLIVEIRA et al., 2012). Fayer et al. (2000) ainda destaca que os bovinos adultos podem atuar como reservatório de Cryptosporidium spp. O’Donoghue et al. (1995) ressalta que infecções persistentes têm sido associadas a indivíduos imunocomprometidos ou associadas a doenças graves e crônicas.

A transmissão geralmente está associada ao contato com animais e/ou por meio da contaminação alimentar ou hídrica (CHALMERS et al., 2011; RYAN et al., 2014). Portanto Sanford e Josephson (1892) e Filho et al. (2022) enfatizam que condições sanitárias precárias do ambiente e higienização, principalmente nos bezerreiros, constituem grande risco para a disseminação e contaminação dos animais, sendo fundamental a atenção nestas instalações. Ayele et al., (2018) e Thomson et al., (2019) citam a importância do manejo também de bebedouros e comedouros na contaminação. Bezerros criados acima do solo e em pisos ripados têm menor risco de infecção, o que foi demonstrado por Simensen (1982). Já bezerros mantidos em bezerreiros coletivos tiveram uma maior frequência de criptosporidiose do que animais mantidos separados (FEITOSA et al., 2004).

Segundo Fayer et al. (2000), os oocistos são importantes na dispersão e detecção do parasito, sendo que existe uma dificuldade na identificação adequada de Cryptosporidium spp. por conta de pequenas partículas presentes em amostras fecais. A microscopia de contraste de fase em solução de Sheather (MCF) pode ser utilizada para diagnóstico de criptosporidiose em amostras com grande quantidade de oocistos, por ser de baixo custo, rápida e de fácil visualização do parasito. No entanto, em amostras com pequena quantidade de oocistos é recomendada a utilização da imunofluorescência direta (IFD), por apresentar limiar de detecção mais baixo, evitando, assim, a ocorrência de diagnóstico falso-negativo. (TEIXEIRA et al., 2011). Boccega et al. (2020) frisa que as técnicas moleculares de diagnóstico coproparasitológicos continuam sendo muito empregadas.

Para o tratamento da criptosporidiose bovina a Halofuginona tem obtido bons resultados em alguns experimentos (OLIVEIRA et.al. 2012). Sua ação inibe o desenvolvimento do protozoário e sua reprodução, reduzindo os sinais clínicos e a carga de oocistos liberadas nas fezes. A recomendação de uso do fabricante indica que o medicamento deve ser administrado dentro das 24 horas após o início da diarreia. Contudo, não é recomendado a utilização do Halofuginona em quadros de diarreia com mais de 24 horas devido ao risco de desidratação e também não é recomendado para fêmeas produtoras de leite de consumo humano. O tratamento é feito por 7 dias consecutivos após as refeições, sendo necessário o acompanhamento da carga parasitária nas fezes do animal.

As medidas profiláticas envolvem boas práticas de higiene no manejo do rebanho como retirar fezes do ambiente onde se alimentam, trocar a cama respeitando o tempo de validade do produto utilizado, manter bebedouros e cochos limpos e elevados, isolar os enfermos dos sadios, fornecer aos neonatos colostro adequado respeitando o tempo hábil para melhor aproveitamento das imunoglobulinas.

Conclui-se por fim que a criptosporidiose é uma doença de grande importância econômica, que afeta principalmente os animais mais jovens e aqueles submetidos a má higiene e condições inapropriadas de instalação. Seu diagnóstico pode ser feito por vários métodos, mas para a escolha da técnica é necessário levar em conta a quantidade de oocistos que estão sendo liberados pelo hospedeiro. Seu tratamento é feito com Halofuginona e as medidas profiláticas envolvem o ciclo e o ambiente em que os animais estão sujeitos.

Por: Elisama Cosme Higino e Marcela Leonor de Carvalho Nogueira – Discentes da LIBOVIS – Liga de Bovinos da UFRRJ | Sob a supervisão de Ana Paula Lopes Marques e Clayton B. Gitti – Docentes coordenadores da LIBOVIS/UFRRJ

Referências:

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  2. BACCEGA, B. et al. COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DE Cryptosporidium spp. EM AMOSTRAS FECAIS DE BOVINOS. Ciência Animal, [S. l.], v. 30, n. 1, p. 36–46, 2020. Disponível em: <https://revistas.uece.br/index.php/cienciaanimal/article/view/9650>. Acesso em: 21 out. 2023.
  3. CHALMERS, R.M.; SMITH, R.; ELWIN, K.; CLIFTON-HADLEY, F.A.; GILES, M. Epidemiology of anthroponotic and zoonotic human cryptosporidiosis in England and Wales, 2004–2006. Epidemiology and Infection, v.139, p.700-712, 2001.
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