Parte integrante de nossas vidas, os animais de estimação nos trazem alegria, companhia e amor incondicional, porém, é importante reconhecer que nossos amigos peludos podem ser portadores de doenças que também afetam os seres humanos, as zoonoses
Elas são um dos pontos importantes contemplados no conceito de One Health ou Saúde Única, abordagem que reconhece a interconexão entre saúde humana, animal, vegetal e ambiental. “A responsabilidade pela saúde e pelos cuidados com os pets, claro, é nossa e, por isso, informação é fundamental”, destaca o médico-veterinário e líder da VetFamily no Brasil e Latam, Henry Berger
As zoonoses são causadas por bactérias, vírus, parasitas, fungos, entre outros microrganismos, e podem ser transmitidas dos animais para os seres humanos e vice-versa, de forma direta através do contato com secreções, mordeduras ou arranhaduras, e indireta, por meio de vetores como insetos e ectoparasitas.
Tipos mais comuns
Um exemplo comum e grave de zoonose é a raiva, doença viral transmitida através da mordida de um animal infectado, como cães, gatos ou morcegos. Além da raiva, a seguir, o especialista cita outras zoonoses que demandam atenção, cuidados e prevenção para evitar a infecção.
Toxoplasmose: é causada principalmente pela ingestão de água, frutas, verduras e carnes cruas ou mal passadas contaminadas. O parasita (protozoário Toxoplasma gondii) também pode estar presente nas fezes de gatos infectados e, por isso, medidas preventivas devem ser tomadas e o contato direto com as fezes, evitado. A doença pode causar sintomas leves em humanos, mas representa um risco maior para mulheres grávidas e pessoas com sistema imunológico comprometido.
Leishmaniose: é causada por protozoários do gênero Leishmania e transmitida pela picada do mosquito-palha. Pode afetar tanto cães quanto humanos, causando sintomas como feridas na pele, febre e danos em órgãos internos.
Toxocaríase: causada pela ingestão acidental de ovos do parasita Toxocara canis na água, alimento ou solo contaminados, ou por meio do consumo de vísceras e carnes mal cozidas contendo larvas infecciosas, leva à sintomatologia visceral, ocular e até mesmo neurológica.
Ancilostomíase: também conhecida como “amarelão”, é uma infecção intestinal causada por vermes parasitas do gênero Ancylostoma, o nematódeo mais frequente em cães no Brasil. Pode ser transmitida aos humanos através do contato com fezes contaminadas.
Bordetelose: a bactéria Bordetella bronchiseptica, agente causadora da chamada tosse dos canis, é uma infecção bacteriana altamente contagiosa que afeta o sistema respiratório dos cães. A forma de transmissão em seres humanos pode acontecer pelo contato direto da boca e/ou focinho durante a socialização e também por meio de secreções contaminadas que são expelidas durante a tosse e o espirro, causando sintomas similares aos da gripe. Essa zoonose tem baixo risco de contaminação, geralmente afetando imunossuprimidos e idosos com comorbidades.
Leptospirose: a leptospirose é uma doença causada pela bactéria do gênero Leptospira spp, que pode ser transmitida aos seres humanos através da urina de animais infectados. O controle de pulgas e carrapatos também é importante na prevenção dessa doença, pois esses parasitas podem servir como hospedeiros intermediários.
Esporotricose: micose causada por fungos do gênero Sporothrix, presente no solo, vegetais em decomposição, espinhos e madeira, pode ser transmitida diretamente pelo contato com o meio contaminado ou por arranhaduras, mordeduras e contato com lesões.
Outros cuidados
Expandindo um pouco o tema saúde humana e animal, Berger destaca que vale abrir um parênteses para um alerta sobre os hábitos no dia a dia, que não necessariamente envolvem zoonoses, mas que afetam a saúde dos pets também, como o tabagismo, por exemplo.
“A exposição à fumaça de tabaco compromete muito a saúde dos animais e nem todas as pessoas os enxergam como potenciais fumantes passivos, não adotando os mesmos cuidados que tomam com adultos, crianças e idosos”, alerta.
Tratamentos estéticos ou cuidados pessoais, conforme avalia o especialista também podem se tornar riscos para os animais de estimação segundo relatos vistos recentemente. O minoxidil (utilizado comumente para crescimento de pelos e cabelos) é altamente tóxico para cães e gatos, podendo até mesmo ser fatal.
“A intoxicação acontece por meio de ingestão acidental de comprimidos ou por lambeduras das regiões em que o produto foi aplicado. Da mesma forma, repelentes e outros cremes ou medicamentos de uso tópico, também podem ser tóxicos para o organismo dos nossos amigos que, numa demonstração de carinho ou por se sentirem atraídos pelo odor do produto, lambem a pele do tutor”, sinaliza.
Medidas preventivas
De acordo com o veterinário, há várias medidas que podemos tomar para proteger nossos animais de estimação e, consequentemente, nós mesmos contra zoonoses, como manter a vacinação em dia, cuidados com a higiene pessoal e dos animais, controle de parasitas, assim como com a alimentação dos pets, além de visitas veterinárias regulares e preventivas.
“É essencial estar ciente dessas doenças e adotar medidas preventivas para proteger a nós mesmos e aos nossos companheiros peludos, afinal, eles dependem de nós para receberem os devidos cuidados que vão impactar a saúde de toda a família. Com educação, conscientização e cooperação, podemos garantir um ambiente saudável e seguro para todos”, analisa Berger.
Por fim, ele ressalta que a Saúde Única prevê a necessidade de cooperação entre médicos-veterinários, médicos humanos, ecologistas, biólogos e outros profissionais da saúde e do meio ambiente para abordar questões de saúde de forma holística.
“No contexto das zoonoses, a abordagem da One Health desempenha um papel fundamental na prevenção, detecção e controle dessas doenças. Isso envolve a vigilância de doenças em animais e humanos, a educação pública sobre práticas seguras de convivência com animais de estimação, o desenvolvimento de vacinas e de tratamentos eficazes e a gestão adequada de resíduos animais”, conclui o especialista.
Fonte: Assessoria de comunicação Vet Family