Por Sávio Freire Bruno e Ana Cristina Fernandes Gonçalves

Introdução

O atobá-pardo (Sula leucogaster), no inglês, Brown Booby, é uma espécie de ave marinha pelecaniforme pertencente à família Sulidae, sendo o sulídeo mais comum nas costas do Brasil (Sick, 1997). É também conhecido como “mumbebo”, ou simplesmente, atobá. Enquanto Sula é uma designação comum ao gênero que compõe a ordem Suliformes, a qual inclui não só os atobás, mas também os tesourões, a biguatinga e o biguá; o epíteto específico leucogaster, vem do grego leukos = branco e gastër = barriga, em referência ao ventre branco desta ave, que contrasta com a plumagem marrom escura do restante de seu corpo.

Distribuição geográfica e habitat

Sua distribuição geográfica abrange águas tropicais e subtropicais, desde os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, além do Mar do Caribe, Mar Vermelho e mares do norte da Austrália, sendo assim considerada uma ave de distribuição pantropical. No Brasil, ele se encontra presente em grande parte da faixa litorânea nacional, desde a região Nordeste até a região Sul, habitando tanto ilhas costeiras quanto oceânicas (Schreiber; Norton, 2020), assim como as regiões praianas em geral (Fig.1). Além de pousar nas ilhas, os atobás podem descansar e interagir em bandos, pousando, não tão raramente, em águas calmas de baías (Fig. 2).

Fig. 1: O atobá-pardo é comumente avistado ao longo do litoral, seja em voos solitários ou em bando.
Foto: Sávio Freire Bruno, APA de Massambaba, Araruama, RJ, 2009.

Fig. 2: Atobás (Sula leucogaster) interagindo em bando, pousados nas águas calmas da Praia de Icaraí, Niterói, RJ. Foto: Sávio Freire Bruno, abril de 2024.

Características morfológicas

Enquanto os filhotes tem sua plumagem inteiramente branca (Fig. 5), os adultos apresentam plumagem marrom-escura, possuindo o ventre e parte da região inferior das asas com coloração branca (Schreiber; Norton, 2020). Os machos possuem bico amarelado, enquanto nas fêmeas ele é amarelo-pálido e rosado na ponta. Amarelas também são suas patas. A região ao redor dos olhos dos machos é azulada e, no caso das fêmeas, amarela (Fig. 3). Além disso, o atobá-pardo apresenta dimorfismo sexual, sendo as fêmeas maiores que os machos. Quando jovens imaturos, seu bico é acinzentado e sua plumagem é de coloração pardo-escura, sendo mais clara na região do abdome.

Fig. 3: No atobá-pardo predomina a plumagem marrom escura, sendo o ventre e parte da região inferior das asas brancos. Seu bico, assim como suas patas, é amarelado. Foto: Guilherme Serpa, Monumento Natural da Ilha das Cagarras, RJ, 2024.

Alimentação

O atobá-pardo é um exímio pescador, realizando sua pesca tanto em áreas costeiras quanto no mar. Se alimenta de uma variedade de peixes, sendo descritos como suas principais presas os peixes-voadores, mas também as lulas, que são moluscos. Para realizar seus mergulhos em busca de presas, o atobá-pardo se projeta de variadas alturas, em média entre 10 a 15 metros, em uma reta quase vertical ao despencar, mantendo as asas abertas pouco antes de entrar na água (Fig. 4), quando as une sobre as costas (Schreiber; Norton, 2020). Esta ave também consegue perseguir suas presas embaixo d’água, movimentando suas asas e pés de maneira combinada (Langteau, 2011). Ao capturar um peixe com seu forte bico e logo emergir, deglute a presa antes de levantar voo e, costumeiramente, seguir pescando. Também voa a baixa altura, capturando peixes em curtos mergulhos. Frequentemente, realiza a pesca de maneira solitária, mas também são observados em bandos. Estes, por vezes, seguem e até repousam em barcos de pesca, capturando pescados nas proximidades das redes ou que são jogados na água.

Fig. 4: A imagem ilustra o despencar do atobá-pardo para mergulhar e assim capturar sua presa. Foto: Sávio Freire Bruno, Itaipuaçu, RJ, 11 de janeiro de 2019.

Reprodução

Sula leucogaster é uma espécie monogâmica, apresentando rituais de acasalamento como o toque entre bicos e o caminhar do macho com pescoço ereto (Langteau, 2011). A nidificação ocorre em pequenas colônias, com ninhos compostos por galhos e gramíneas em solos planos ou encostas (Sigrist, 2006). O atobá-pardo se reproduz uma vez ao ano, e as ninhadas normalmente são compostas por dois ovos. Tanto o macho quanto a fêmea realizam a incubação dos ovos, e igualmente ambos participam dos cuidados do filhote (Fig. 5), incluindo a alimentação. Geralmente, apenas um dos filhotes é criado pelos pais, uma vez que um dos filhotes costuma ser empurrado pelo seu irmão para fora do ninho.

Fig. 5: Registro de um macho de atobá-pardo adulto em seu ninho, com um filhote sob sua asa. Foto: Sávio Freire Bruno, Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, BA, julho de 2013.

A disponibilidade de alimentos é um fator preponderante na determinação do período reprodutivo do atobá-pardo, e fenômenos naturais como o El Ninõ podem afetar essa disponibilidade, sendo capazes de atrasar a formação de casais e nidificação (Schreiber; Norton, 2020).

Ameaças e conservação da espécie

Segundo a IUCN (2018), o atobá-pardo permanece apresentando uma ampla distribuição nas regiões que habita, com baixos índices de declínio populacional. Por essa razão, a espécie apresenta o status de conservação de “menos preocupante” (LC). Entretanto, uma vez sensíveis às perturbações antrópicas, a conservação da espécie e de seus habitats é essencial para evitar o agravamento de seu declínio populacional. Neste sentido, toda e qualquer forma de poluição no ambiente marinho, incluindo a região costeira, praias e ilhas, é capaz de influenciar nas comunidades e populações que neste ambiente interagem.

 

Referências bibliográficas

IUCN 2024. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. Versão 2023-1. <https://www.iucnredlist.org>. Acesso em: 23. maio. 2024

LANGTEAU, J. 2011. Sula leucogaster, Animal Diversity Web. Disponível em: <http://animaldiversity.ummz.umich.edu/accounts/Sula_leucogaster/>. Acesso em: 23. maio. 2024.

SCHREIBER, E. A. e R. L. NORTON (2020). Brown Booby (Sula leucogaster), versão 1.0. em Birds of the World (S. M. Billerman, Editor). Laboratório de Ornitologia Cornell, Ithaca, NY, EUA. https://doi.org/10.2173/bow.brnboo.01

SICK, H. (1997) Ornitologia Brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 912p.

SIGRIST, Tomas. Aves do Brasil: uma visão artística. 2. ed. São Paulo: Avis Brasilis, 2006. 672p.

WIKIAVES 2024. Atobá-pardo (Sula Leucogaster). Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/atoba-pardo>. Acesso em: 23. maio. 2024.

Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF).
Ana Cristina Fernandes Gonçalves: Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense.
Revisão de texto: Eduardo Sánchez.
Foto de capa: Sávio Freire Bruno. Atobá-pardo (Sula leucogaster), Itaipuaçu, Maricá, RJ, novembro de 2013.