Comportamento agressivo intriga biólogos e assusta velejadores

Recentes ataques a barcos organizados por orcas têm intrigado cientistas, biólogos e velejadores. O fenômeno vem acontecendo desde 2020, – conforme estudo publicado na revista Marine Mammal Science com relatos de ataques de orcas a embarcações no largo da costa ibérica –  mas, este ano, se intensificou com relatos de episódios mais frequentes e da percepção de que os animais parecem estar ensinando os filhotes a agirem desta forma.

No início de junho, orcas atacaram barcos da Ocean Race. No mesmo mês, seis animais da espécie Orcinus orca atacaram um veleiro que navegava pelo estreito de Gibraltar.  Dois dias depois, no mesmo local, um grupo de três orcas atingiu um iate, perfurando o leme. “Havia duas orcas menores e uma maior”, disse o capitão Werner Schaufelberger a uma revista alemã. “Os pequenos sacudiram o leme na parte de trás, enquanto o grande repetidamente recuou e abalroou o navio com força total do lado”.

Greg Blackburn, que estava a bordo da embarcação, diz ter percebido como uma orca mãe orientava os golpes de seu filhote. “Era definitivamente alguma forma de educação, de ensino acontecendo”, disse Blackburn ao site 9news. “Os relatos de interações são contínuos desde 2020 em locais onde as orcas são encontradas, seja na Galiza [noroeste da Espanha] ou no Estreito”, disse Alfredo López Fernandez, biólogo da Universidade de Aveiro, em Portugal, e representante do Grupo de Trabalho Orca Atlântica.

Pesquisadores acreditam que um evento traumático pode ter desencadeado uma mudança no comportamento de uma orca, que o resto da população aprendeu a imitar. Especialistas suspeitam que uma orca fêmea que eles chamam de White Gladis sofreu um “momento crítico de agonia” – uma colisão com um barco ou aprisionamento durante a pesca ilegal – que virou um interruptor comportamental. “Essa orca traumatizada é que iniciou esse comportamento de contato físico com o barco”, disse Fernández. “Não interpretamos que as orcas estejam ensinando os jovens, embora o comportamento tenha se espalhado para os jovens verticalmente, simplesmente por imitação, e depois horizontalmente entre eles, porque eles consideram isso algo importante em suas vidas”.

O pesquisador acrescenta que as orcas parecem perceber o comportamento como vantajoso, apesar do risco que correm ao bater em estruturas de barcos em movimento. Desde que as interações anormais começaram, quatro orcas pertencentes a uma subpopulação que vive em águas ibéricas morreram, embora as suas mortes possam não estar diretamente relacionadas a encontros com barcos.

Outra explicação para o comportamento incomum também considera um fator lúdico ou o que os pesquisadores chamam de “modismo” – um comportamento iniciado por um ou dois indivíduos e temporariamente adotado por outros até ser abandonado. “Eles são animais incrivelmente curiosos e brincalhões e, portanto, isso pode ser mais uma coisa lúdica do que uma coisa agressiva”, disse Deborah Giles, pesquisadora de orcas da Universidade de Washington e da organização sem fins lucrativos Wild Orca.

Segundo Fernández, o censo mais recente, de 2011, registrou apenas 39 orcas ibéricas. “Se essa situação continuar ou se intensificar, pode se tornar uma preocupação real para a segurança dos marinheiros e uma questão de conservação para essa subpopulação ameaçada de baleias assassinas”

Com informações do site Olhar Digital