Muitos avanços são notados em todas as áreas da reprodução dos equídeos, desde a avaliação seminal até a clonagem, o que implica em uma produção mais tecnificada e com resultados superiores. Esses avanços podem ser aproveitados tanto em animais de excelente qualidade genética e de esporte, quanto para conservação de recursos genéticos e ampliação de plantéis nacionais com importância sócio-economica (raça Pantaneiro, Campeiro, Baixadeiro, Marajoara, Lavradeiro, etc).

Inseminação artificial

A inseminação artificial com sêmen refrigerado e transportado é, sem dúvida, a biotécnica mais utilizada na reprodução de equídeos no Brasil. Esse material pode ser enviado para diversos lugares do País, o que permite que égua e garanhão estejam, até mesmo, em estados diferentes.

O sêmen pode ser armazenado em recipientes específicos, disponíveis com vários nomes comerciais, em duas diferentes temperaturas, 15oC e 5oC, o que mantém a sua viabilidade, na maioria dos casos, em 24 e 48h, respectivamente. O ideal, antes da comercialização de doses, é que seja feito um teste de refrigeração para decidir em qual recipiente transportar e qual a vida útil do material.

A utilização do sêmen congelado vem crescendo bastante, devido à liberação do seu uso, por grande parte das associações de criadores e à incorporação de novos diluentes de congelamento e crioprotetores alternativos. Um exemplo disso é a redução do glicerol em combinação com as amidas nos meios comerciais de congelação. Esse crioprotetor em altas concentrações, como utilizado para a criopreservação do sêmen de bovinos, apresenta toxicidade superior, o que resulta em um congelamento de baixa qualidade.

O sêmen pode ser congelado com animal ainda vivo, utilizando a vagina artificial para colheita. Em casos de animais impossibilitados de saltar no manequim, pode-se lançar mão da colheita farmacológica com a utilização de alguns medicamentos, com um índice de sucesso em torno de 40 a 50%. A última alternativa para se obter sêmen de um reprodutor é a colheita dos espermatozoides da cauda do epidídimo, que apresenta um excelente resultado. Para isso, o testículo deve ser retirado imediatamente após o óbito do animal, e transportado refrigerado (5oC) ao laboratório, em um intervalo de, no máximo, 24 horas.

Sabe-se que espermatozoides danificados, além de apresentarem padrões inadequados para fecundação do ovócito, geram substâncias que podem prejudicar os demais, entre esses elementos, temos os radicais livres.

Alguns procedimentos de manipulação seminal podem ser utilizados em uma tentativa de selecionar os melhores espermatozoides, excluindo ao máximo os danificados, seja imediatamente pós-colheita ou após refrigeração/criopreservação. Para tanto, podemos utilizar a centrifugação amortecida, a centrifugação em gradiente ou a filtração.

A centrifugação amortecida pode ser aplicada ao sêmen de garanhões para maximizar a colheita de espermatozoides sem causar lesões. Um composto iodado não iônico, chamado iodixanol, é utilizado como gradiente de densidade ou como amortecedor na centrifugação do sêmen. Pesquisas envolvendo a centrifugação do sêmen equino com este produto mostraram rendimentos excelentes em número de espermatozoides e ausência de lesões causadas pelo processo de centrifugação.

A centrifugação com solução de partículas de sílica silanizada mostrou-se promissora para a “seleção” de espermatozoides com boa motilidade, morfologia e qualidade da cromatina. O uso desse material poderia resultar em maiores taxas de prenhez. Essa biotécnica não deve ser utilizada no sêmen de garanhões de qualidade normal, uma vez que uma porcentagem relativamente alta da população espermática pode ser perdida após a centrifugação.

A retirada do plasma seminal é necessária para criopreservação e, em alguns casos, mostrou-se benéfica para refrigeração, principalmente para o sêmen de garanhões considerados de “baixa refrigeração”. A utilização da centrífuga para a retirada do plasma seminal pode interferir negativamente na motilidade, integridade de membrana plasmática e recuperação dos espermatozoides.

Uma recente técnica que permite esse processo em substituição a centrifugação, é a utilização de um filtro específico feito de membrana hidrofílica sintética. Esse material faz a retenção e preservação da viabilidade espermática, permitindo somente a passagem do plasma seminal. Após a filtragem, os espermatozoides retidos são ressuspensos no diluente específico, de refrigeração ou congelamento, de acordo com a concentração desejada.

Devido à menor viabilidade do sêmen equino criopreservado, é necessário um acompanhamento mais restrito do controle folicular. Deve-se inseminar o mais próximo possível da ovulação, em virtude da pequena viabilidade do ovócito. Para isso utilizamos hormônios indutores da ovulação, como Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG) e análogos do hormônio liberador de gonadrofinas (GnRH), como a desorelina.

Com o intuito de aumentar o número de produtos obtidos por dose inseminante, técnicas alternativas de inseminação, como a utilização de pipetas flexíveis para depositar os espermatozoides na extremidade do corno uterino, têm sido utilizadas. Essa técnica permite a deposição de uma dose inseminante menor e incrementa os índices de prenhez.

Transferência de embrião

O Brasil responde por 41% dos embriões equinos transferidos no mundo, seguido da Argentina (31%). A transferência de embrião (TE), assim como qualquer outra biotécnica, apresenta aplicações e limitações. A principal limitação desta técnica diz respeito à eficiência do programa. Em função da dificuldade de se obter receptoras de qualidade e da inconsistência dos protocolos de superovulação, os custos para a produção de um potro proveniente de TE são bastante elevados.

Também existe uma maior dificuldade em se criopreservar embriões equinos, devido à menor viabilidade pós-descongelamento e aos índices de prenhez relativamente menores do que com embriões frescos. Pesquisas são direcionadas para a vitrificação do embrião, que consiste na exposição do embrião a concentrações maiores de crioprotetores e diminuição do tempo exposição, o que possibilita a não formação de cristais de gelo, resultando em viabilidade superior. A técnica mais utilizada é a refrigeração do embrião no meio de manutenção, para transportá-lo até o local da receptora, ou para aguardar a ovulação de uma receptora atrasada.

Ultrassonografia

Apesar da ultrassonografia (US) não ser uma biotécnica recente na reprodução de equídeos, seja para controle folicular, patologias do trato reprodutor ou diagnóstico de gestação, com o advento da US colorida Doppler ou Power Doppler, foi possível reavaliar conceitos antes considerados definitivos quanto à fisiologia da reprodução.

Essa técnica demonstrou ser efetiva e prática para a avaliação não invasiva e em tempo real da perfusão vascular do trato reprodutor, tanto masculino quanto feminino. Esse tipo de avaliação permite inúmeras aplicações, entre elas, o auxílio na escolha da receptora no momento da inovulação do embrião, e a decisão para esmagamento de uma vesícula embrionária em casos de gestação gemelar.

Embora as técnicas de sexagem fetal tenham sido descobertas e aprimoradas anos atrás, ainda são pouco utilizadas na rotina dos criatórios. A identificação do sexo do feto pelo tubérculo genital (60 a 70 dias), como é realizada em bovinos, é de difícil execução em equinos, já que o feto dessa espécie apresenta uma mobilidade muito grande, extenso cordão umbilical e maior quantidade de líquidos placentários. O procedimento mais realizado com éguas é a identificação da gônada fetal (ovários ou testículos) por volta de 110 a 120 dias.

A mais moderna técnica de identificação do sexo fetal em equinos é por meio de exame laboratorial (PCR), com a colheita de sangue da égua

no terço final de gestação. Estudos estão sendo desenvolvidos para antecipar a sexagem, assim esse protocolo poderá estar disponível em fases mais precoces da prenhez.

Transferência de ovócitos (to) e transferência intrafalopiana de gametas (GiFt)

Essas técnicas são utilizadas com o intuito de se obter gestações de éguas impossibilitadas de produzir embriões devido a várias condições reprodutivas patológicas adquiridas (éguas idosas, éguas com patologias no oviduto, útero ou cérvix). O ovócito (gameta feminino) é retirado do ovário dessas éguas, através de punção folicular guiada por ultrassom, e transferido, via acesso cirúrgico pelo flanco, para o oviduto (tuba uterina) de outra égua (receptora). A receptora é inseminada com o sêmen do garanhão de escolha, de modo convencional (intrauterino) e gestará o potro.

Se a deposição do sêmen ocorrer diretamente na tuba uterina, junto com o ovócito, temos o que denominamos de GIFT, que apresenta como vantagem o uso de baixas quantidades de espermatozoides móveis.

Produção in vitro de embriões

Essa biotécnica permite a produção in vitro (em laboratório) de embriões de fêmeas que, por diversos motivos, estão impossibilitadas de produzir embriões naturalmente. Contudo, sistemas empregados em outras espécies para produção de embriões (maturar ovócitos, capacitar espermatozoides e cultivar embriões) in vitro não se adequam à espécie equina.

O único relato de potros nascidos por esta técnica foi na França, na década de 90. Porém, esses potros foram originados da fecundação de um ovócito da égua doadora maturado in vivo (dentro da própria égua), sendo posteriormente introduzido um único espermatozoide intracitoplasmático, técnica denominada de “ICSI”.

Injeção intracitoplasmática de espermatozoides (icSi)

Biotécnica que utiliza ovócitos maduros, em que, através de várias técnicas, um espermatozoide é injetado no seu citoplasma. Os ovócitos fertilizados por ICSI podem ser imediatamente transferidos para o oviduto da égua receptora, ou ficarem em cultivo por 7-8 dias para atingir o estádio de blastocisto, sendo então transferidos por método não cirúrgico para o útero das receptoras. É uma alternativa bastante promissora para a multiplicação de animais selecionados.

No Brasil, a empresa In Vitro Clonagem, por meio da Dra. Perla Fleury, noticiou o primeiro nascimento de um equino (fêmea) por esta técnica no ano de 2012. Os ovócitos foram obtidos do ovário de uma égua quarto de milha, após sua morte.

Clonagem

É definida como o processo que produz uma cópia geneticamente idêntica de uma célula ou organismo, por meio de reprodução assexuada.

No universo dos equinos, clonagem é a produção de potros que têm o mesmo material genético do animal doador da célula (seja égua, garanhão ou mesmo um equino castrado).

Para realização da clonagem, necessita-se de uma célula do animal doador (uma amostra de tecido da pele). Essa amostra vai para cultivo celular no laboratório, para estabelecer uma linhagem de células. Também há necessidade de um ovócito, que pode ser obtido de ovários equinos de abatedouro ou por aspiração folicular de animal vivo. Esse ovócito é maturado e, depois disso, tem seu material genético (DNA) retirado. Nesse ovócito é inserida uma célula do cultivo celular do animal a ser clonado (DNA do doador). O ovócito reconstruído é estimulado a se desenvolver, sendo cultivado por 6-7 dias em incubadora. Nesse período, se tudo transcorreu de forma esperada, essa estrutura se transforma num embrião, que será transferida para éguas receptoras. Se a gestação se desenvolve normalmente, o potro nascido será geneticamente idêntico ao animal que doou as células.

O primeiro registro de clones equídeos é da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos. A equipe de pesquisadores utilizou células de feto de mula, com 45 dias de idade, como células doadoras de núcleo. Foram transferidos mais de 300 ovócitos reconstruídos e foram obtidos três clones em 2003.

Poucas semanas depois, a equipe do Dr. Cesare Galli anunciou, na Itália, o nascimento de uma potra clone da raça Haflinger. Foi o primeiro registro de nascimento de equino clonado da história. As células que serviram como núcleos eram de uma fêmea adulta. Foram transferidos 17 embriões.

Em 2004 não houve registros de nascimentos de clones equinos. Em 2005 foi noticiado o nascimento de dois potros na Itália, resultado do trabalho da equipe do Dr. Galli, sendo que um veio a óbito com 48 horas de vida, em consequência de uma septicemia. O outro potro se desenvolveu normalmente. Também em 2005, o laboratório da Universidade do Texas (Texas A&M University) produziu dois clones viáveis, a partir da transferência de 11 embriões. No mesmo laboratório, em 2006, nasceram nove clones, dos quais sete eram viáveis.

A partir de 2006 houve o nascimento de vários potros clonados, além de um aumento na procura por este tipo de serviço, que é oferecido comercialmente. A empresa líder mundial na produção de clones equinos é a ViaGen, com sede no estado do Texas, e com um laboratório em Alberta, no Canadá.

No Brasil, os primeiros clones equinos nasceram em 2012, e são da raça Mangalarga. Foram desenvolvidos pela empresa In Vitro Clonagem Animal, de Mogi Mirim, SP. Um dos clones é do lendário reprodutor Turbante JO, que renasce aos 43 anos.

Conclusão

No Brasil existem vários Centros especializados em reprodução de equídeos, o Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Agronomia da Universidade de Brasília (FAV/UnB), é um deles e tem procurado desenvolver e difundir várias destas Biotécnicas ao sistema nacional de produção de equídeos.