Por Sávio Freire Bruno e Emanuelle da Silva do Nascimento
Introdução
O cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), também conhecido como graxaim-do-mato, lobinho ou, no inglês, Crab-eating Fox, pertence ao gênero Cerdocyon, à ordem Carnívora e à família Canidae. É um típico canídeo de médio porte, com um comprimento de corpo que pode variar entre 60 e 70 cm. Além disso, sua cauda mede aproximadamente 30 cm, sua altura cerca de 37 cm e seu peso varia de 5 a 7 kg em indivíduos adultos (SILLERO-ZUBIRI; HOFFMANN; MACDONALD, 2004) . A pelagem é curta e bastante variável, podendo exibir uma coloração que vai do cinzento ao castanho, com uma faixa de pelos pretos que seguem desde a região da nuca até a ponta da cauda, apresentando uma coloração mais clara na área do peito e do ventre. Os membros possuem porções mais escurecidas.
Distribuição geográfica
Distribui-se na América Latina, incluindo o Brasil, Colômbia, Venezuela, Guianas, Suriname, assim como leste do Peru, leste da Bolívia, Paraguai, Uruguai e norte da Argentina.
Tratando especificamente do Brasil, o cachorro-do-mato habita boa parte do país, incluindo os biomas Cerrado, Caatinga, Pantanal, Mata Atlântica e Campos sulinos. Seus avistamentos são mais comuns em bordas de matas, mas também em áreas antropizadas.
Certos erros e dificuldades podem ocorrer ao se estabelecer a real distribuição do cachorro-do-mato, principalmente devido a eventuais equívocos de identificação oriundos de registros pautados somente na sua coloração, que pode ser confundida com a de outros canídeos, como o guaxinim-do-campo (Lycalopex gymnocercus) e a raposa-do-campo (Lycalopex vetulus).
Dieta
O cachorro-do-mato tem hábito alimentar generalista, oportunista e onívoro. Desta forma, sua alimentação varia sazonalmente e inclui pequenos vertebrados, aves, répteis, insetos, frutos silvestres, crustáceos, peixes e, até mesmo, carniça.
Hábitos
Os hábitos do cachorro-do-mato são crepusculares e noturnos, o que dificulta seu avistamento na natureza. São animais solitários, mas podem ser encontrados aos pares ou em pequenos grupos familiares. Acompanhados, aumentam as chances de capturar presas. Normalmente, os adultos não compartilham o que capturam, porém os machos podem trazer alimento para as fêmeas grávidas ou lactentes.
Reprodução
São animais monogâmicos, e geralmente as fêmeas possuem duas ninhadas por ano, a cada sete ou oito meses, podendo gerar de três a seis filhotes durante o período da primavera, com uma gestação de dois meses.
Os filhotes permanecem com os pais durante os primeiros meses de vida, até conquistarem a independência, entre o quinto e o sexto mês, podendo ou não dispersar por volta dos cinco a oito meses. A partir dos nove meses, iniciam a maturidade sexual.
Conservação
Apesar da maioria dos canídeos silvestres brasileiros estarem listados oficialmente como ameaçados de extinção (MMA 2022), as populações de cachorro-do-mato ainda não são incluídas nessa categoria, inclusive pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). No entanto, a espécie tem sofrido fortemente com a perda de habitat, entre outras ameaças, que incluem o atropelamento de fauna e a presença de espécies invasoras, como cães domésticos, inclusive em Unidades de Conservação. A aproximação do cachorro-do-mato de áreas periurbanas e urbanas, em busca principalmente de alimento, potencializa os riscos de aquisição de enfermidades, abates ilegais, perseguições por cães domésticos e mesmo o já citado atropelamento. Essas condições têm diminuído o número de indivíduos e, portanto, é evidente a importância de manter uma maior atenção a essa espécie e desenvolver medidas de conservação, para que não haja um declínio maior em sua população.
Referências Bibliográficas
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SILLERO-ZUBIRI, C.; HOFFMANN, M.; MACDONALD, D.W. (eds). Canids: Foxes, Wolves, Jackals and Dogs: Status Survey and Conservation Action Plan. Reino Unido: IUCN, 2004.
Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF).
Emanuelle da Silva do Nascimento: Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal Fluminense.
Revisão de texto: Eduardo Sánchez.