Na composteira, restos de animais e resíduos decompostos geram fertilizante natural que pode ser usado nas lavouras

Uma técnica de decomposição natural pode transformar carcaças de caprinos e de ovinos mortos em adubo orgânico, para uso nas propriedades rurais. Trata-se de um processo biológico, por meio do qual restos de animais mortos e de partos são misturados a resíduos vegetais em uma composteira, gerando o fertilizante natural que pode ser usado nas lavouras ou vendido, gerando novas possibilidades de renda aos agricultores.

Segundo o médico-veterinário Marcílio Frota, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE), entre as vantagens da compostagem estão os benefícios ambientais. Ele explica que, em uma agricultura tradicional, as carcaças de caprinos e ovinos costumam ser enterradas ou mesmo abandonadas, em processos que podem ser prejudiciais.

“Enterrar traz riscos de contaminação do lençol freático, enquanto deixar o animal se decompor gera odores desagradáveis que podem servir de atrativo para insetos e animais carniceiros, que se proliferam e podem veicular doenças aos rebanhos e aos humanos”, explica.

“Já a compostagem, traz benefícios, sobretudo por transformar um material, que teria grande potencial de poluir e contaminar o ambiente, em um produto limpo, com alto valor agregado, que é o adubo orgânico”, completa.

De acordo com Frota, o produto gerado tem nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio, o que garante bom potencial de uso para finalidades diversas, como a produção de grãos, produção de mudas, recuperação de solos em áreas degradadas, reflorestamento ou jardinagem.

“A adubação com esse produto é capaz de aumentar consideravelmente o teor de matéria orgânica, melhorando propriedades no solo como a retenção de água. Além disso, possui a capacidade de elevar o PH, corrigindo, em alguns casos, a acidez encontrada rotineiramente em solos brasileiros”, explica. “Assim, é possível reduzir a aplicação de fertilizantes minerais no solo, diminuir custos de produção e promover a ciclagem de nutrientes em propriedades rurais.”

Alternativa

Além de ser uma alternativa ambientalmente adequada, o produto traz outras vantagens, como redução de custos na propriedade. “A grande vantagem do composto em relação aos fertilizantes minerais é o custo. Seu potencial de uso como fertilizante orgânico minimiza a aquisição de insumos e promove a autossuficiência e a sustentabilidade para a propriedade rural, como tecnologia acessível de inclusão social e produtiva ao agricultor familiar”, observa.

Outra alternativa para os produtores rurais que usam a compostagem é a possibilidade de venda do adubo. O valor médio da tonelada do produto é de R$ 250,00, com variação de acordo com a região do país.

O processo

A compostagem ocorre por um processo natural de fermentação que ocorre na presença de ar e umidade a alta temperatura, proporcionando a decomposição de resíduos animais e vegetais, a partir da ação de fungos e bactérias. A técnica é acessível tanto para produtores rurais (inclusive de agricultura familiar), como para agroindústrias (frigoríficos e abatedouros).

O local onde se realiza a compostagem é chamado de composteira, um galpão rústico, com piso cimentado, protegido contra água de chuva e fechado na lateral com paredes de dimensão recomendada de 1,6m de altura, feitas de tijolo ou madeira. Sua localização deve ter fácil acesso, longe do limite de propriedades e próxima ao aprisco ou abatedouro, para facilitar o transporte de carcaças ou restos de abate diariamente, sempre ao final do dia de trabalho.

“Para que o processo ocorra de forma correta, o produtor deve atentar para a montagem correta das pilhas e cama, a preparação das carcaças e a umidificação das mesmas. Também é preciso ter um material rico em carbono para realizar a montagem da cama e compor as pilhas, tais como sobra de capim triturado, cama formada de sobra de cocho e esterco ou resíduos vegetais, como palhadas, podas de árvores ou silagem mofada”, detalha Frota.

Na presença de umidade e temperatura adequada, as carcaças de caprinos e ovinos adultos se decompõem entre aproximadamente 120 dias e 150 dias. Para restos de parto, animais natimortos, vísceras, retalhos de carne e sangue, a decomposição ocorre em cerca de 30 dias.

Regulamentação

O biocomposto produzido pela compostagem é classificado como fertilizante orgânico de classe A, por utilizar matéria-prima de origem animal, sem componentes potencialmente tóxicos e de uso seguro na agricultura, de acordo com a Instrução Normativa Nº 25 de 23 de julho de 2009, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos
Foto de capa: Eduardo Oliveira/Embrapa Caprinos e Ovinos – Composteira usada para decomposição das carcaças e produção do adubo orgânico.