Considerada uma ferramenta singular na melhoria genética e expansão do rebanho nacional, a biotecnologia da reprodução animal desempenha um papel essencial para a pecuária brasileira e, apesar de já ocupar posição de destaque na produção de embriões bovinos, o aprimoramento das técnicas e o desenvolvimento de novas abordagens são contínuos no Brasil e no mundo.
Importante instrumento para o melhoramento genético dos rebanhos, técnica de superovulação (SOV) das vacas e coleta de embriões, que permite a disseminação da genética da vaca de forma mais abrangente e rápida, tem se destacado dentre as biotecnologias mais difundidas no setor.
Conforme esclarece Marcos Malacco, médico-veterinário e gerente de serviços veterinários para bovinos da Ceva Saúde Animal, a vaca naturalmente é mono-ovulatória, capaz de liberar apenas um oócito por ciclo estral e gerar apenas um descendente por período, ou seja, as gestações gemelares não são desejadas, pois podem comprometer o desempenho do animal e gerar diversos problemas na fase final da gestação.
“Quando utilizamos a técnica de superovulação, que induz o amadurecimento de vários folículos e a liberação de vários oócitos para serem fecundados, temos mais descendentes desses animais em um período reduzido”, explica o especialista.
Metodologia
De acordo com Malacco, para que ocorra a ovulação múltipla, os protocolos de SOV utilizam doses consecutivas de FSH (Hormônio Folículo Estimulante), que bloqueia o efeito inibitório do folículo dominante, permitindo que todos os folículos recrutados no início de uma onda de desenvolvimento folicular naquele ciclo amadureçam e liberem oócitos de boa qualidade.
“Os protocolos de SOV normalmente empregados envolvem aplicações repetidas do hormônio, duas vezes ao dia, durante 4 dias, e duas inseminações artificiais consecutivas. Além de induzir a liberação de diversos oócitos para a fertilização, a técnica também conta com o segundo passo importante, que é a transferência dos embriões no estágio de blastocistos para a implantação em outras vacas, conhecidas como receptoras”, explica.
“Essas vacas, por sua vez, são responsáveis por gestar e parir os bezerros e bezerras. Os embriões gerados também podem ser criopreservados para implantação futura”, completa o veterinário.
De acordo com Malacco, quando bem-feita, a SOV é capaz de proporcionar a produção de 40 bezerros por ano a partir da mesma matriz, o que faz com que os ganhos genéticos para o rebanho sejam perceptíveis em um tempo muito menor pelo produtor, mas a complexidade protocolar a torna passível de apresentar falhas e menos êxito.
“Um ponto de atenção para os protocolos que utilizam o FSH de origem animal é que demandam pelo menosoito aplicações subsequentes no animal. São quatro dias, duas vezes ao dia (manhã e tarde). Isso demanda mais estresse às doadoras e maior mão de obra. Também podem ocorrer falhas no protocolo, por conta do esquecimento de uma ou outra aplicação ou aplicação em horário inadequado para o êxito. É bastante desgastante aos animais e aos funcionários”, pondera Malacco.
Tecnologia
O refinamento do protocolo de SOV conta atualmente com a ripafolitropina alfa bovina (rbFSH), análogo do FSH bovino produzido em laboratório por meio de tecnologia recombinante, sem depender da disponibilidade de glândulas pituitárias de outros animais.
Segundo o especialista, o que difere o uso do rbFSH para o FSH convencional é que uma única aplicação do rbFSH é suficiente para promover a superovulação nas matrizes bovinas e atingir os melhores resultados reprodutivos, facilitando o manejo e aumentando o bem-estar animal, ao mesmo tempo em que apresenta uma maior precisão e menos riscos de falhas no protocolo.
“A inseminação das vacas tratadas com rbFSH é mais precisa e tem maiores chances de gerar embriões, o que pode ser um salto gigante para a reprodução bovina e para a melhoria genética dos rebanhos nacionais”, arremata o médico-veterinário.
Com informações da Ceva Saúde Animal