Por João Pedro Ferreira e Rafaela da Rocha Cambraia
Introdução
A alimentação representa o principal custo em um sistema de produção animal e o uso estratégico de vitaminas é fundamental para otimizar o crescimento, a produção e a eficiência reprodutiva dos bovinos de corte. Embora as quantidades de vitaminas requeridas sejam pequenas, elas são vitais para a saúde animal. A concentração correta dessas vitaminas na dieta pode melhorar a performance, uma vez que desempenham funções-chave como co-fatores de enzimas e reguladores metabólicos. As vitaminas são componentes naturais dos alimentos, são moléculas orgânicas que diferem de carboidratos, gorduras, proteínas e água e estão presentes em quase todos os alimentos em pequenas quantidades. A ausência dessas moléculas na dieta ou sua má absorção pode resultar em deficiências específicas ou síndromes que vão afetar o desenvolvimento e ganho muscular de bovinos de corte.
As vitaminas lipossolúveis, que incluem A, D, E e K, são armazenadas nos tecidos do corpo, como o fígado e o tecido adiposo (gordura), sendo liberadas gradualmente conforme a necessidade do organismo. Já as vitaminas hidrossolúveis como a vitamina C e as do complexo B, não são armazenadas nos tecidos, exigindo uma suplementação contínua na dieta, pois são rapidamente excretadas.
Em forragens de boa qualidade, as vitaminas A, D e E estão presentes naturalmente. No entanto, em condições de forragem limitada, baixa exposição solar dos animais ou uso de substitutos do leite para bezerros, podem ocorrer deficiências vitamínicas. Assim, bovinos com o rúmen completamente desenvolvido podem depender de suplementação externa de vitaminas lipossolúveis como A, D e E em algumas situações.
Vitamina A
A vitamina A é essencial para a visão, reprodução e imunidade nos ruminantes. Ela é obtida a partir do beta-caroteno presente em forragens verdes, sendo convertida em retinol no organismo já que este não está presente nas plantas. A vitamina A é importante para a produção de rodopsina, que auxilia na visão noturna, além de influenciar no crescimento animal, espermatogênese e manutenção dos tecidos esquelético e epitelial. A deficiência de vitamina A pode causar cegueira noturna, problemas no crescimento e desenvolvimento dos ossos, desordens locomotoras, má absorção de nutrientes, perda de peso, e aumento da suscetibilidade a doenças respiratórias e digestivas. Também pode comprometer a fertilidade em machos e fêmeas, levando a absorção embrionária, abortos e outras complicações reprodutivas.
Essa vitamina é encontrada principalmente em forragens verdes, mas sua suplementação é recomendada em dietas com forragens de baixa qualidade ou em bovinos de corte confinados, que têm menos acesso a volumoso verde.
Vitamina E
A vitamina E é um antioxidante natural que atua prevenindo a formação de peróxidos e a oxidação de ácidos graxos, sendo essencial no metabolismo dos ácidos graxos essenciais. Sua deficiência pode causar distrofia muscular nutricional, que afeta os músculos estriados e pode ser subaguda, aguda ou crônica. Sintomas incluem degeneração muscular, danos ao músculo cardíaco (que podem levar à morte súbita), fraqueza, incoordenação e, em casos graves, falência cardíaca.
As principais fontes de vitamina E incluem forragens verdes, grãos, subprodutos de moinhos e sementes oleaginosas. A suplementação é necessária em dietas com forragens conservadas, como silagem, que pode perder até 80% da vitamina E. Isso é particularmente importante para bovinos de corte confinados ou durante períodos de seca em criações extensivas.
Vitamina D
A vitamina D é fundamental para a homeostase do cálcio e fósforo, além de influenciar a saúde esquelética e a fertilidade em ruminantes. Ela é encontrada em poucos alimentos, como leite integral (vitamina D3) e forragem verde (vitamina D2) e pode ser sintetizada na pele dos animais através da exposição solar. Forragens curadas ao sol ou expostas à luz ultravioleta podem suprir a necessidade de vitamina D, enquanto forragens verdes e silagem têm quantidades menores.
A deficiência de vitamina D leva à redução dos níveis de cálcio e fósforo no sangue, aumento da fosfatase sérica e pode causar raquitismo, problemas de crescimento, estreitamento da pelve e dificuldades no parto. Além disso, afeta a fertilidade, melhorando a manifestação do cio e reduzindo o intervalo entre partos e concepção. A hipocalcemia, comum em vacas leiteiras no pós-parto, pode ocorrer devido à deficiência de vitamina D, levando a uma função imunológica deprimida e aumentando a suscetibilidade a enfermidades como metrite, distocia, cetose, deslocamento de abomaso e mastite. Portanto, é crucial monitorar a ingestão de vitamina D, especialmente em situações em que a exposição solar é limitada e as forragens têm menor conteúdo dessa vitamina.
Vitamina B12
A vitamina B12, ou cobalamina, é uma vitamina hidrossolúvel do complexo B, essencial para o metabolismo dos ruminantes. Ela é sintetizada exclusivamente por microrganismos e, por isso, é encontrada apenas em alimentos de origem animal. Nos ruminantes, a vitamina B12 é produzida por bactérias presentes no rúmen e é absorvida no intestino delgado, sendo armazenada no fígado e músculos e secretada no leite.
A deficiência de cobalto, mineral essencial para a síntese da vitamina B12, resulta em dificuldades no metabolismo energético dos ruminantes, prejudicando a utilização de ácidos graxos e a produção de glicose, além de afetar a gliconeogênese. Os sinais de deficiência incluem perda de apetite, anemia, perda de peso, redução no crescimento e ganho muscular, e diminuição da produção de leite. Portanto, é fundamental garantir que a dieta dos ruminantes contenha cobalto suficiente, especialmente em regiões onde o solo e as forragens são pobres nesse mineral, para assegurar a saúde e a produtividade dos animais. A vitamina B12 também atua como cofator em enzimas importantes, como metilmalonil-CoA mutase e tetrahidrofolato-metiltransferase, além de ser crucial para a síntese de metionina e no metabolismo do propionato na gliconeogênese.
Como “volumosos” perdem vitaminas e o correto manejo nutricional
A deficiência de vitamina E, conhecida como doença do músculo branco, é mais comum do que se imagina, principalmente pelo fato de que na seca, onde são usados alimentos armazenados como silagem e processados diariamente como cana de açúcar e capiaçú. Quando as forragens são processadas em ensiladeiras, começa um processo oxidativo na planta após algumas horas levando à destruição da vitamina E. O que é muito comum são os tratadores prepararem o capim picado no dia anterior para no dia seguinte facilitar o trabalho e manejo, e esse tempo picado e exposto ao ambiente inicia esse processo oxidativo. Já a silagem, pode perder uma grande porcentagem diária da vitamina E, tendo as vezes ⅕ da quantidade necessária. Grãos armazenados também são deficientes de vitamina E e perdem diariamente a vitamina de sua composição.
Portanto, para a prevenção dessa deficiência, o capim fornecido a bovinos de corte deve ser fresco e processado na hora do trato dos animais. Em animais criados 100% no pasto, a deficiência de vitamina E só é comum em solos pobres em selênio, tendo total relação com essa vitamina.
A deficiência de vitamina A é muito comum na época da seca, pois o precursor da vitamina é abundante no capim verde. Na seca essa deficiência afeta muito os animais de corte, além de que estes têm sua alimentação complementada com silagem, feno e capineiras, nas quais tem baixa ou quase nula Vitamina A. Os animais de corte confinados e semiconfinados tem mais probabilidades de ter essa deficiência, pois são alimentados com esses alimentos citados anteriormente (silagem, feno) praticamente o ano todo, e seu organismo tem reserva de vitamina A para no máximo 3 meses quando já não se alimenta mais de capim verde.
A prevenção, portanto, deve ser feita evitando alimentar o rebanho com capim muito maduro e capineira mais verde possível. A vitamina A influência demais no aspecto reprodutivo, sendo um problema sério para os criadores de corte.
PREJUÍZOS ECONÔMICOS
A vitamina E tem sua influência no bolso do produtor principalmente pelo fato de atrapalhar o ganho muscular, causar degeneração muscular e pode até afetar o musculo cardíaco, que pode levar a morte súbita. Animais apresentam fraqueza muscular e incoordenação.
A vitamina A está ligada principalmente a reprodução, que tem muita relevância na bovinocultura de corte, pois a deficiência desta vitamina pode levar ao atraso do intervalo entre partos e fazer as vacas entrarem em anestro.
REFERÊNCIAS
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