A cogitação do emprego de seres vivos microscópicos e macroscópicos e seus produtos derivados na Guerra Biológica, como arma de guerra, bioarmas, acelerou uma corrida armamentista mundial sem precedentes na história da humanidade após a Segunda Guerra Mundial

Grandes potencias mundiais, em várias partes do planeta, construíram anônimos programas bélicos com requintadas plantas biológicas, renomados cientistas, pesquisadores e sofisticados laboratórios, tendo por base o arsenal natural dos seres bióticos, a genômica, a manipulação do DNA e a biotecnologia. Os avanços científicos com o domínio genético e a especiação de gens para montagem de organismos artificiais, desconhecidos, com as ajudas da inteligência artificial e da biotecnologia, coloca o mundo diante de uma evolução progressiva de novos agentes biológicos bélicos, assim classificados e definidos:

  • 1ª Geração: os programas “relativamente não-científicos” criados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e logo depois dela;
  • 2ª Geração: produzidos durante e após a Segunda Guerra (1939-1945), com base em ciência e mais eficientes no final da Guerra Fria entre EUA e União Soviética;
  • 3ª Geração: dos anos 80 em diante, usando as novas técnicas de biotecnologia e engenharia genética;
  • 4ª Geração: incluindo os resultados das recentes decifrações dos genomas, isto é, do conjunto do material genético de vários seres vivos manipulados em laboratórios de, bioinformática, randomizados, “quimeras”. (Fraser & Dando, Nature Genetics)

Quem foi Erich Traub

Erich Traub. Imagem: World War II database

Considerado o pai da Guerra Biológica moderna, Erich Traub, médico veterinário alemão, com formação no Rockefeller Institute for Medical Research in Princeton, New Jersey, United States, foi um cientista virologista especializado em epizootias virais em animais de pequeno, médio e grande porte sobressaindo entres suas pesquisas a identificação viral e produção de vacinas contra a febre aftosa, a peste bovina, a doença de Newcastle, entre outras.

Principal arquiteto, mentor, estrategista e consultor de Guerra Biológica na Alemanha e Estados Unidos, de sua extensa obra tecnocientífica realizada e admirável biografia, extrai-se os seguintes trabalhos realizados:

  • 1938-1942: Professor na Universidade de Giessen, no oeste da Alemanha;
  • 1942: Ingressou no Reich Research Institute for Virus Diseases of Animals na Ilha Riems, na costa do Mar Báltico, como vice diretor, supervisionando a pesquisa de vírus e a pesquisa de guerra biológica sob a liderança geral de Otto Waldmann;
  • 1943: Administrador do Projeto de Febre Aftosa, na ilha de Riem, sob o Comando Gen Heinrich Himmler que ordenou ao vice-líder de saúde do Reich Kurt Blome que armasse a febre aftosa. Corria o boato de que o vírus da febre aftosa tinha sido usado como arma na Rússia pelo menos uma vez durante a guerra, dispersado por aeronaves;
  • 1944: Kurt Blome cientista nazista enviou Traub para pegar uma cepa do vírus Rinderpest na Turquia, mas a cepa se mostrou não-violenta e o projeto foi abandonado. Após a guerra, ele continuou seu trabalho na Ilha Riems, com supervisão soviética;
  • 1949: Foi retirado de Riems para os Estados Unidos para coordenar a Operação Paperclip, e cooptar cientistas para o desenvolvimento de armas químicas, biológicas e nucleares. Nos EEUU recebeu a cidadania americana;
  • 1949 -1953: Trabalhou no Instituto de Pesquisa Médica Naval em Bethesda, Maryland, Estados Unidos. Durante esse período, se encontrou com cientistas de guerra biológica do Exército dos EUA em Fort Detrick, Maryland várias vezes. O conhecimento que ele compartilhou, principalmente sobre a febre aftosa, bem como os procedimentos operacionais na Ilha Riems, ajudou no laboratório de pesquisa de guerra biológica offshore em Fort Detrick, a ser estabelecido em Plum Island, Nova York, Estados Unidos;
  • 1950: Durante o ano de 1950, visitou Plum Island pelo menos três vezes, estruturando, desenvolvendo e oferecendo orientação ao programa de pesquisa de guerra biológica americana;
  • 1951 -1952: Atuou como especialista em febre aftosa para as Nações Unidas em Bogotá, Colômbia. Em 1953, ele retornou à Alemanha e fundou o Loeffler Institut em Tübingen, e permaneceria seu líder até 1960;
  • 1963 e 1971: Atuou como especialista em febre aftosa para as Nações Unidas em Teerã/Irã e como especialista em febre aftosa para as Nações Unidas em Ancara, na Turquia.
  • 1972: Recebeu um doutorado honorário em Medicina Veterinária pela Universidade Ludwig Maximilians de Munique, em Munique, Alemanha.
  • 1975: Erich Traub faleceu em 8 de maio em ‎Rosenheim/Alemanha.

Guerra biológica no mundo

Apesar da Convenção Internacional de Haia, 1925 proibir o desenvolvimento, a produção , a estocagem , a aquisição , a conservação e a transferência das armas biológicas, além de exigir sua destruição; ratificada pela Assembleia Geral da ONU, Convenção de 1972, e em vigor a partir de 1975, as grandes potências mundiais e seus exércitos sempre desenvolveram suas armas de destruição em massa, incluindo nelas a Guerra Biológica, com fins estratégicos, poder de força e intimidação e supremacia tecnológica.

O maior desenvolvimento da Guerra Biológica se deu durante a Guerra Fria, tensão geopolítica entre os Estados Unidos e União Soviética, e seus Blocos aliados no oriente e ocidente, período de 1947 a 1991. Nesse tempo bases, plataformas e laboratórios foram instalados em locais isolados dos países e ilhas criando fábricas de agentes biológicos e toxinas para emprego militar. Pesquisas históricas das principais nações desenvolvidas mostram a grandeza desses locais, instalações e bioarmas experimentais desenvolvidas: (Wikipedia)

Plum Island Animal Disease Center. Imagem: Wikipedia

EEUU. Foi o país das Américas que construiu uma das maiores plataformas de pesquisa científica e tecnológica de produção de armas biológicas do planeta. Tinha sofisticados e avançados laboratórios em Terra Haute, Indiana; Pine Bluff, em Arkansas, e a maior estrutura no Fort Detrick, em Maryland. Em ilhas marítimas e oceânicas tinha laboratórios em Riems, na Germânia e Plum Island em Suffolk Country – Nova York. Nesses laboratórios desenvolveram o Programa de Guerra Bacteriológica americano, planejado em 1941 e iniciado oficialmente em 1943. Tinha o apoio do presidente Franklin Delano Roosevelt. (Wikipedia)

RÚSSIA. O programa de armas bacteriológicas soviético foi desenvolvido em 1943 pela agência “civil” Biopreparat. Considerado também um dos maiores programas do mundo suas instalações estavam assim distribuídas e localizadas: Centro Científico Estadual de Microbiologia Aplicada, em Obolensk, Instituto de Estudos Imunológicos, em Lyubuchany; Centro Científico Estadual de Virologia e Biotecnologia, (conhecido como Vetor) perto de Novosibirsk; Instituto Científico Estadual de Preparações Biológicas, em Ultrapuras, Leningrado, e a Base Científica Experimental e de Produção, em Stepnogorsk, Cazaquistão. A 15ª Diretoria do Ministério Operacional de Defesa-MOD, supervisionou o trabalho das instalações do Biopreparat e coordenou suas atividades com às dos centros biotecnológicos militares. A biopreparat empregava cerca de 30 000 pessoas entre cientistas, pesquisadores, técnicos, engenheiros e operários. (Wikipedia)

Complexo da Unidade 731, Harbin. Imagem: Wikipedia

JAPÃO. O programa japonês iniciado em 1938 foi liderado pelo Gen Shiro Ishii. Ele dirigiu a Unidade 731, a unidade japonesa secreta tratada em experimentação em humanos. A primeira grande instalação de BW foi construída em Beiyinhe, a cerca de 70 km de Harbin, conhecida localmente como “Campo de Prisão de Zhong Ma”. Os testes ao ar livre em prisioneiros chineses foram realizados na “Unidade de Purificação de Água 731”, oficialmente denominada “Unidade de Purificação de Água 731” em Pingfan, perto de Harbin, isolada na Península da Mandchúria. Os 6 quilômetros quadrados de Pingfan abrigavam mais de 150 prédios, incluindo prédios administrativos, laboratórios, dormitórios de trabalhadores e quartéis. O historiador Antony Beevor afirma que essa unidade chegou a mobilizar cerca de três mil cientistas e doutores das universidades de medicina do Japão e, além disso, contava com mais 20 mil funcionários que realizavam tarefas diversas. Em vez de serem julgados por crimes de guerra, os pesquisadores envolvidos na Unidade 731 receberam imunidade secreta dos Estados Unidos em troca dos dados que eles reuniram através da experimentação humana. (Wikipedia)

CHINA. Signatária do Protocolo de Genebra e a Convenção sobre Armas Biológicas e Tóxicas (BTWC) que proíbe o uso de Armas de Destruição em Massa, 1952 e 1984, a China afirma que não tem um Programa de Armas Biológica Ofensiva, e sim uma indústria biotecnológica avançada para produzir recursos substanciais de uso duplo que podem ser usados tanto para armas de defesa biológica quanto para armas biológicas. O relatório do Departamento de Estado dos EUA em 2005 também identifica duas instalações que têm links para um programa ofensivo de armas biológicas: o Instituto de Microbiologia e Epidemiologia (IME) da Academia de Ciências Médicas Militares do Ministério da Defesa da China, em Pequim, e o Instituto Lanzhou de Produtos Biológicos (LIBP). A China responde que a primeira é uma instalação focada em biodefesa e a segunda é uma instalação de produção de vacinas. Além desses dois laboratórios centrais, estima-se que existam pelo menos 50 outros laboratórios e hospitais em uso, como instalações de pesquisa de armas biológicas. (The Air University Comander, March 02, 2020)

ÍNDIA. A Índia não possui um Programa Ofensivo de Armas Biológica declarado, e sim um sistema sofisticado de recursos laboratoriais para retaliar a um ataque com agentes biológicos. Possui inúmeras instalações de produção farmacêutica e laboratórios de biocontenção com os Níveis de Biossegurança 3 e 4, de acordo com o NTI, um think-tank baseado em Washington DC. A Organização de Pesquisa e Desenvolvimento da Defesa, DRDO é o núcleo da indústria de biodefesa da Índia, cujo laboratório principal é o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento de Defesa (DRDE), localizado em Gwalior, em Madhya Pradesh. É a instituição preferencial da Índia para estudos em toxicologia, farmacologia, bioquímica e desenvolvimento de anticorpos contra agentes bacterianos e virais. O DRDO trabalha e se concentra no combate a ameaças biológicas, como antraz, brucelose, cólera, peste, varíola, febre hemorrágica viral e botulismo. Além disso, o governo estabeleceu diretórios de guerra nuclear, biológica e química (NBC) nas forças armadas, bem como um Comitê de coordenação entre serviços para monitorar seu treinamento e preparação. Os militares também montaram uma célula da NBC na sede do Exército. (Wikipedia).

ALEMANHA. O programa da Alemanha foi desenvolvido conjuntamente com a França durante a 1ª e 2ª Guerras Mundial. O programa alemão, mais defensivo do que ofensivo, considerava apenas patógenos anti-animais e anti-cultivos não havendo evidências de que a Alemanha tenha tentado infectar humanos com qualquer tipo de agente biológico. Os principais alvos eram as economias das nações neutras que forneciam alimentos para as Potências Aliadas. Seu programa desenvolveu-se baseado nas espionagens e informações secretas colhidas dos Programas canadense, britânico soviético e americano. Os nazistas realizaram experimentos com prisioneiros em sua concentração. Os prisioneiros foram infectados com Rickettsia prowazekii, Rickettsia mooseri, vírus da hepatite A e Plasmodia spp. Foram realizadas experiências principalmente para auxiliar no desenvolvimento de vacinas preventivas. (GlobalSEcurty.org)

Defesa biológica no Brasil

O Brasil é signatário de diversos tratados e acordos internacionais sobre não proliferação de Armas de Destruição em Massa e seus vetores (ADMV) nas áreas química, nuclear, biológica e missilística. Não possui um Programa de Guerra Biológica com objetivo ofensivo. Depois do atentado às Torres Gêmeas-EEUU, 2001 e ameaças de Bioterrorismo com o Bacillus Anthracis, feita pelo terrorista Osama Bin Laden, Chefe do Grupo Al Qaeda, às Américas e Europa, vem desenvolvendo um Programa de Defesa nas FFAA, principalmente no Exército, com apoio das instituições científicas brasileiras de pesquisa humana, animal e vegetal. Além de Regulamentos, Manuais, Normas e Portarias expedidos pelo Ministério da Defesa-MD e Comandante do Exército, a partir de 2013, possui um Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, Btl DQBRN e um Instituto de Defesa, IDQBRN, ambas Unidades técnicas operacionais de

Pesquisa e Defesa

O Instituto de Defesa, IDQBRN, inaugurado em 2018, deve seguir os modelos dos modernos Laboratórios e Institutos Europeus, exemplificando o Instituto Biológico do Exército de Portugal, inaugurado em 2006 que congrega em sua organização estrutural funcional parceiros acadêmicos, Laboratórios, indústrias farmacêuticas e empresários nacionais e internacionais, networking.

Coronavirus

Coronavirus: COVID-19. Imagem: Centers for Disease Control and Prevention (CDC)

Vírus causador da COVID-19 surgido na cidade de Wuhan, província de Hubei, China, em dezembro de 2019, sintético ou natural, é o causador da maior catástrofe pandêmica do planeta depois da Gripe Espanhola, 1918. O mundo, apesar dos extraordinários avanços científicos e tecnológicos na medicina e terapêuticas das doenças emergentes e re-emergentes conhecidas, surpreendido, vê-se diante de um misterioso vírus maligno que desafia o conhecimento humano e os recursos biomédicos modernos de combate, controle e cura.

Batizado cientificamente como Sars-CoV-2, com genoma já decifrado, por cientistas ingleses da Universidade de Oxford, o vírus chinês por sua estrutura viral parece ser uma zoonose oriunda do morcego de ferradura-grande, (Rhinolophus ferrumequinum) ou do pangolim (Manis javanica), animais asiáticos vendidos em supermercados para consumo humano e muito apreciados pelos chineses. O vírus presente nesses animais poderia ter sofrido uma mutação genética e por contaminação atingido os chineses e produzido a doença. A hipótese sintética de criação em Laboratório, é que em Wuhan existe um Laboratório Militar de Segurança Máxima, BL4, onde se trabalha e manipula vírus patógenos de doenças perigosas como Ebola, Marburg, HIV, Lassa, etc, de onde o vírus experimental poderia ter escapado. (Paul Rincon. BBC NEWS, mar, 2020)

A arma biológica

A história registra o uso de patógenos como potencializadores de recursos bélicos. Considerando os eventos bélicos da contemporaneidade, observa- se a formulação de projetos voltados para elaboração tecnológica sofisticada. Nessa categoria se incluem as armas biológicas, vinculadas aos programas de caráter coercitivo conhecidos como guerras biológicas, que pertencem à lógica da ameaça assimétrica, não definindo território e gerando repercussões econômicas, políticas e sociopsicológicas imprevisíveis e devastadoras. (Rambauske, Dora. Biossegurança aplicável ao Brasil, FIOCRUZ).

ALERTA. O Brasil não está devidamente aparelhado e estruturado com um Plano de Defesa Biológico Nacional suficientemente adequado com recursos humano, material, equipamento, medicamento e vacina para proteção dos contingentes humano, animal e vegetal de possíveis agressões com agentes biológicos de guerra-ABG, em todo o território nacional.