Nas últimas décadas, a pecuária brasileira tem enfrentado um novo desafio: mostrar ao mercado que é possível produzir carne e leite com eficiência, respeito ao meio ambiente, responsabilidade social e transparência. É nesse contexto que ganha força o conceito de ESG, uma sigla que está cada vez mais presente nas exigências de consumidores, investidores e políticas públicas.

ESG é a abreviação de Environmental, Social and Governance — em português, Ambiental, Social e Governança. Trata-se de um conjunto de práticas que avalia o desempenho das empresas e cadeias produtivas não apenas pelo resultado financeiro, mas também pelo impacto que geram no meio ambiente, nas pessoas e na forma como são geridas.

Na bovinocultura, isso se traduz em ações como:

  • Reduzir a emissão de gases de efeito estufa nos sistemas de produção,
  • Garantir boas condições de trabalho para funcionários rurais,
  • Implementar rastreabilidade animal e transparência nos processos de gestão da fazenda.

Mais do que uma tendência, o ESG vem se tornando um critério decisivo de acesso a mercados internacionais, financiamentos e certificações. Países importadores exigem comprovação de origem sustentável; bancos já oferecem linhas de crédito mais vantajosas para propriedades que atendem requisitos socioambientais; e frigoríficos estão criando programas de fidelização baseados em desempenho ESG.

Neste artigo, vamos explorar como os três pilares do ESG estão transformando a pecuária brasileira — e como produtores de todos os portes podem se adaptar, inovar e prosperar nesse novo cenário.

Na pecuária de leite, os princípios do ESG podem ser aplicados de forma prática e acessível. No pilar ambiental, destaca-se o uso de biodigestores para o aproveitamento de dejetos, reduzindo custos com energia e adubação, além do manejo rotacionado de pastagens, que melhora a produtividade e conserva o solo. A integração lavoura-pecuária também otimiza o uso da terra, elevando a produção por hectare.

No aspecto social, investir na capacitação de trabalhadores e no bem-estar animal — com conforto, manejo adequado e nutrição balanceada — resulta em rebanhos mais saudáveis e produtivos. Na governança, a adoção de ferramentas simples de gestão e rastreabilidade garante maior controle sobre custos e produção, facilitando o acesso a certificações como o BPA-Leite. Com essas práticas, produtores de leite podem reduzir perdas, melhorar a rentabilidade e atender a um mercado cada vez mais exigente por responsabilidade e qualidade.

Além disso, práticas ESG na bovinocultura de corte vêm sendo implementadas com sucesso em propriedades que apostam em tecnologias de baixo carbono, como o plantio direto, o uso de forrageiras adaptadas e o confinamento estratégico para reduzir a pressão sobre as pastagens. Com isso, o meio ambiente é menos degradado, a nutrição dos animais aumenta e mais carne é produzida por área com menos danos à natureza.

A rastreabilidade tem se mostrado um ponto-chave para agregar valor à carne bovina brasileira, permitindo comprovar boas práticas de manejo, sanidade e respeito às normas trabalhistas. Da mesma forma, programas de bem-estar animal, que incluem transporte humanitário, redução do estresse durante o manejo e abate, têm ganhado relevância junto a consumidores conscientes e grandes redes varejistas.

As vantagens do ESG na pecuária vão além da fazenda, fortalecendo toda a cadeia. Uma produção mais consciente gera credibilidade, melhora a imagem do setor e aumenta as chances de negócio em mercados que pagam mais por produtos com selo de qualidade e ecologicamente corretos. Assim, investir em ESG não é só uma questão de ética ou lei, mas uma tática inteligente para assegurar competitividade e durabilidade no agronegócio.

Sendo assim, produzir com preocupação ambiental, responsabilidade social e transparência é o futuro da pecuária. Ao adotarem ações de ESG, os pecuaristas brasileiros mostram que é possível crescer de forma sustentável, atendendo à procura mundial por proteína animal de qualidade sem prejudicar o planeta e as pessoas. Mais do que uma imposição do mercado, o ESG é uma chance de agregar valor ao setor e garantir um futuro promissor para a pecuária no país.

Referências:

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Tackling climate change through livestock: A global assessment of emissions and mitigation opportunities. Rome: FAO, 2013. Disponível em: https://www.fao.org/3/i3437e/i3437e.pdf. Acesso em: 21 jun. 2025.

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SEBRAE; EMBRAPA. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Programa de Boas Práticas Agropecuárias – Leite: Manual do produtor rural. Brasília: SEBRAE, 2019. Disponível em: https://www.sebrae.com.br. Acesso em: 21 jun. 2025.

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VASCONCELOS, Glaucia Fernandes; ALMEIDA, Victor. Carbon Credit and Macaúba Palm Tree: Advancing ESG in Green Cattle Production. Journal of Contemporary Administration, Rio de Janeiro, v. 28, n. 5, e240116, set/out. 2024. DOI: 10.1590/1982-7849rac2024240116.en

ESG NA AGROPECUÁRIA: como as práticas ambientais, sociais e de governança impactam o agronegócio. Canal Rural, 2023. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/noticias/esg-na-agropecuaria-como-as-praticas-ambientais-sociais-e-de-governanca-impactam-o-agronegocio/. Acesso em: 21 jun. 2025.

EMBRAPA. Bovinocultura de leite sustentável: práticas recomendadas. Brasília, DF: Embrapa Gado de Leite, 2020. Disponível em: https://www.embrapa.br/gado-de-leite/bovinocultura-de-leite-sustentavel. Acesso em: 21 jun. 2025.

Por Ana Clara Aguiar, Isabelle Antunes e Mylena Santana – Discentes da Liga de Bovinos da UFRRJ
Sob a supervisão de Ana Paula Lopes Marques – Docente do Curso de Medicina Veterinária da UFRRJ
Foto: Wikimedia