CID-10: B42
B42.0 Esporotricose pulmonar, B42.1 Esporotricose linfocutânea, B42.7 Esporotricose disseminada, B42.8 Outras formas de esporotricose.
Sinonímia
Granuloma dos jardins; doença dos jardineiros.
Etiologia
Fungos dimórficos do Complexo Sporothrix schenckii: S. brasiliensis, S. luriei, S. globosa, S. mexicana, S. schenckii e S. albicans.
Distribuição geográfica
Disseminado por todo o mundo, devido à sua natureza saprofítica. A doença, no entanto, é mais comum nas regiões tropicais, com áreas hiperendêmicas no Brasil, China e África do Sul. É a micose subcutânea mais comum da América Latina. Observa-se um avanço dos casos nos Estados brasileiros ao litoral, principalmente no Rio de Janeiro, onde desde 1998 observa-se um aumento contínuo dos casos, chegando a registrar 13.536 casos em cães e gatos e 580 casos humanos em 2016, somente na capital.
Ocorrência no homem
Antes dita de ocorrência esporádica no homem e associada ao trabalho em jardins, minas de ouro, reflorestamento e outros trabalhos sujeitos à inoculação do agente no tecido subcutâneo, sobretudo por meio de espinhos, farpas, argila, musgos, madeira em decomposição, hoje a infecção é frequente em gatos domésticos, pelos mesmos materiais outrora associados à doença ocupacional humana, sendo a disseminação de gatos para humanos relativamente comum.
Ocorrência nos animais
Antes dita ocasional e atingindo principalmente cavalos, tem se tornado doença comum em gatos e cães. Além destes, já foi reportada em roedores, bovinos, suínos, camelos, aves e espécies selvagens. Outros relatos sugerem outros mamíferos carreadores como tatus, morcegos e esquilos e mesmo invertebrados como mosquitos, formigas e aranhas.
A doença no homem
O período de incubação varia com o local e profundidade de implantação e a condição imunitária, variando de poucos dias até três meses. A forma cutânea é a mais comum, com ou sem envolvimento linfático regional. Ocasionalmente, pode ser inalado causando infecção pulmonar e em indivíduos predispostos pode se disseminar a outros órgãos, principalmente ossos, articulações, olho e sistema nervoso central.
Da lesão primária no local de implantação, geralmente um nódulo ou pústula, geralmente se dissemina pela via linfática, com o aparecimento de nódulos subcutâneos (“rosário linfático”) que podem ou não ulcerar, drenando exsudato cinzento ou amarelado.
S. brasiliensis, geralmente associado à disseminação pelo gato, apresenta maior virulência, enquanto S. schenckii e S. globosa, mais comumente relacionados à infecção pelas vias clássicas (debris vegetais) podem ficar limitados a lesão única verrucosa ou granulomatosa. Formas disseminadas afetam ossos e articulações, mas podem envolver também boca, nariz e rins. A forma pulmonar é rara e resulta geralmente da inalação de material vegetal em decomposição em condições muito específicas. Em humanos, poucas vezes causa a morte.
A doença nos animais
A doença em equídeos e muares é similar à dos humanos e deve ser diferenciada de outras causas de farcino equino, como o mormo e a linfangite epizoótica (Histoplasma capsulatum var. farciminosum): a pele que recobre os nódulos esféricos perde os pelos, escama ou ulcera, podendo deixar cicatrizes alopécicas quando se cura. Cães geralmente apresentam a forma cutâneo-linfática, frequentemente com disseminação para ossos, fígado e pulmões. A doença em gatos é importante mesmo quando se limita a lesões únicas devido ao potencial zoonótico, mas é frequente o aprofundamento a partir da disseminação linfática local, com abscedação e celulite, chegando a extensas áreas de necrose e perda tecidual, sendo comum a necessidade de amputações, enucleações e excisões faciais e auriculares. Também não é incomum que a doença seja fatal nesta espécie.
Fonte de infecção e modo de transmissão
Os reservatórios do fungo são o solo e as plantas. Materiais vegetais em decomposição – lenha, musgos, debris vegetais; bem como espinhos e farpas, podem implantar o fungo no tecido subcutâneo a partir de um trauma, ou se depositar nas unhas de felinos. O exsudato de lesões de felinos infectados apresenta tamanha quantidade de leveduras que sugere-se não necessitar implantação traumática.
Papel dos animais na epidemiologia
Gatos podem albergar material vegetal contendo o fungo em suas unhas e cavidade oral, e transmitir a outros gatos durante brigas, daí a importância da castração destes animais no controle da epidemia. São importantes na epidemiologia, também, por representar uma população altamente suscetível com potencial para disseminação massiva e eficiente. Ataques de ratos também foram relacionados à transmissão para humanos, como carreadores de restos vegetais.
Diagnóstico
Cultura com reversão para a forma leveduriforme e micelial são o diagnóstico clássico utilizado. Imunofluorescência de amostras de biopsia podem ser utilizados. Dois ensaios rápidos estão disponíveis para a detecção do DNA de Sporothrix diretamente de lesões: reações em cadeia da polimerase espécie-específico e por amplificação em círculo (rolling circle amplification). Ensaios sorológicos como ELISA e immunoblotting podem detectar anticorpos contra as proteínas gp60 e gp70 do agente e podem ajudar no acompanhamento dos pacientes, mas dependem da formação de anticorpos, não sendo tão práticos quanto a detecção do agente.
É muito importante a diferenciação da leishmaniose; mesmo o exame histopatológico exibe semelhança. Outros diagnósticos diferenciais incluem neoplasias, principalmente linfossarcoma cutâneo; outras micoses cutâneas e profundas; pênfigo, complexo granuloma eosinofílico e outros granulomas cutâneos (poxvírus, micobactérias, peste bubônica, abscessos bacterianos).
Controle
A indústria madeireira pode tratar a madeira com fungicida. Jardineiros e outros trabalhadores em contato potencial com restos vegetais devem usar luvas próprias. Veterinários e seus assistentes devem tomar as medidas necessárias para evitar arranhões e mordeduras, mesmo de gatos saudáveis. Todas as pessoas que manipulam gatos suspeitos de apresentarem esporotricose devem usar luvas. Antebraços, pulsos e mãos devem ser lavados em solução de iodo-povidona.
A população em geral deve ser educada para a diminuição do abandono de animais e manutenção de gatos saudáveis, esterilizando os animais, restringindo o acesso à rua e a exposição a agentes debilitantes como o vírus da imunodeficiência felina, bem como a ampliação da assistência veterinária, possibilitando o diagnóstico precoce, tratamento e profilaxia e destinação correta de cadáveres de animais doentes. As fontes de contágio devem ser identificadas para evitar exposições futuras e a notificação deve ser realizada às autoridades sanitárias conforme a legislação específica.