Descrição

A febre amarela é uma doença febril aguda, de curta duração, gravidade variável e transmitida através da picada de determinadas espécies de mosquitos vetores hematófagos. É caracterizada por possuir dois ciclos de transmissão, ou seja, silvestre e urbano. É uma arbovirose (são as doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da dengue, vírus da Zika, febre da Chikungunya e febre amarela) que possui alto impacto epidemiológico, caracterizada como uma zoonose de notificação obrigatória e devido à presença constante do mosquito da espécie Aedes aegypti em áreas urbanas, seu potencial de propagação e gravidade clínica é considerável.

Agente etiológico

O agente etiológico da febre amarela é um arbovírus, pertencente à familia Flaviviridae, gênero Flavivirus, o mesmo gênero de outros vírus responsáveis por causarem outras doenças no homem, tais como, dengue, febre do Nilo, entre outras.

Vetores reservatórios e hospedeiros

No ciclo silvestre, os principais vetores da febre amarela são os mosquitos dos gêneros Haemagogus (H. janthinomys e H. albomaculatus) e Sabethes (S. chloropterus). Neste processo, os primatas não-humanos (macacos) atuam como principais hospedeiros naturais do vírus e funcionam como animais sentinelas, sendo usados para determinar de forma mensurável, riscos ou perigos ambientais à saúde ou bem-estar humano.  O homem é caracterizado como hospedeiro acidental, podendo se infectar ao entrar em áreas de mata, sem as devidas proteções, como o uso de repelentes e vestimenta apropriado.

Vale ressaltar que no ciclo silvestre o vírus não pode ser erradicado e é mantido na natureza, sendo classificado como uma zoonose. No ciclo urbano, o principal vetor e reservatório é o mosquito Aedes aegypti. Destaca-se que neste ciclo a doença é caracterizada como uma antropozoonose, no qual não há a presença de reservatórios animais e o homem infectado atua como único hospedeiro do vírus de importância epidemiológica.

Forma de transmissão

A forma de transmissão da febre amarela é caracterizada pela picada dos mosquitos transmissores infectados com o vírus. É caracterizado um aumento do risco de transmissão às populações humanas durante o período sazonal, com maiores índices de incidência nos meses de dezembro a maio, tendo em vista que, neste período, a temperatura normalmente é mais elevada e com maiores índices de pluviosidade, potencializando e favorecendo ambientes favoráveis à reprodução desses mosquitos.

Os primatas não-humanos, agem como reservatórios ou hospedeiros naturais do vírus e não transmitem a doença ao homem, sendo fundamentais na identificação de casos (animais sentinelas), onde os mesmos adoecem e agem como sinalizadores existentes no ciclo silvestre da doença.

Apesar de apresentar ciclos diferentes, a febre amarela possui as mesmas características e sintomatologia clinica, padrão etiológico, fisiopatológico e imunológico. A principal diferença entre elas é o potencial de infecção em humanos, sendo maiores no ciclo urbano em relação ao silvestre, onde existem um maior número de indivíduos susceptíveis não imunizados e o mosquito vetor bem adaptado ao ambiente.

Periodo de incubação

O período de incubação da febre amarela é curto, e pode variar de 3 a 6 dias, após a picada do mosquito infectado.

Período de transmissibilidade

O período de transmissibilidade da febre amarela varia de 24 a 48 horas antes e até 3 a 5 dias após o aparecimento dos primeiros sintomas. O mosquito se mantém infectado por toda a vida, sendo potencialmente transmissor de 9 a 12 dias após o repasto sanguíneo.

Diagnóstico

Resumidamente, o diagnóstico da febre amarela é clínico, epidemiológico e laboratorial. O diagnóstico laboratorial consiste no isolamento viral (a partir de amostras de sangue ou fragmentos de tecido hepático), sorologia ou imunohistoquímica (detecção da reação antígeno-anticorpo no tecido). Ultimamente, técnicas moleculares como a PCR são utilizadas, embora não rotineiramente.

A febre amarela, quando manifestada clinicamente em suas formas leve ou moderada, pode ser confundida com outras viroses, sendo de suma importância a análise do histórico epidemiológico do indivíduo ou da região.

Tratamento

Não existe um tratamento antiviral específico. Os cuidados com o paciente, principalmente aqueles submetidos à hospitalização, incluem repouso absoluto, com reposição de líquidos e sangue em casos mais graves da doença. Os quadros clínicos clássicos requerem atendimento em terapia intensiva, podendo diminuir os riscos de letalidade.

Epidemiologia

No Brasil, estão delimitadas e descritas quatro áreas epidemiologicamente definidas. A área endêmica ou enzoótica (regiões Norte, Centro-Oeste e Estado do Maranhão), onde o vírus circula constantemente entre os macacos, propiciando o surgimento de casos em humanos; a área epizoótica ou de transição (onde eventualmente ocorrem surtos em macacos e consequentemente no homem, configurando os estados da Bahia, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul); a área indene (onde não há evidências epidemiológicas da circulação do vírus, porém, tem-se relatado surtos em áreas consideradas indenes como nos Estados do Sudeste e Sul, tendo o Ministério da Saúde, com o apoio da Fiocruz, viabilizando a vacinação contra a febre amarela nas populações destas áreas); e a área indene de risco potencial (zonas de maior risco potencial para a circulação do vírus, com a presença de ecossistemas que favoreçam a reprodução do mosquito vetor).

Os maiores surtos da história da febre amarela silvestre no Brasil, desde que esse ciclo de transmissão foi descrito na década de 1930, ocorreram entre os anos de 2016 e 2018, quando foram registrados cerca de 2,1 mil casos e mais de 700 óbitos pela doença. Desde maio de 2018, quando foi divulgado o último boletim epidemiológico, houve redução significativa do número de casos da doença no país. No entanto, a vigilância dos casos de febre amarela se manteve junto aos Estados, não sendo observados novos surtos.

O Ministério da Saúde sempre alerta à população para a chegada do verão, período de maior risco de transmissão da doença e a necessidade de estados e municípios reforçarem as estratégias de intensificação da vigilância em todo o país.

Material de divulgação de campanha do Ministério da Saúde (MS).

Vigilância epidemiológica

A febre amarela, nas últimas décadas, tem sido registrada além dos limites da área endêmica (região amazônica).  Este registro epidemiológico tornou necessário um estudo sobre a doença baseado na sua série histórica e dando suporte às ações de vigilância em saúde. O maior objetivo dos centros de vigilância em saúde é reduzir a incidência da transmissão silvestre e impedir a transmissão urbana, detectando a circulação viral para orientar adequadamente as medidas de controle. Por ser uma doença de notificação obrigatória, a Organização Mundial da Saúde, impõe que todos os casos suspeitos ou não sejam investigados epidemiologicamente.

Casos humanos suspeitos e/ou confirmados e a circulação viral nos mosquitos vetores são fatores que necessitam da adoção de medidas (a partir da notificação dos casos):

  • Em humanos – indivíduo apresentando síndrome febril icterohemorrágica (icterícia com sangramento) e coleta de dados de pacientes nos hospitais com esse quadro clínico nos últimos 30 dias. Vale ressaltar, que, todo caso suspeito deve ser notificado em todos os serviços de saúde da região.
  • Em primatas não-humanos (macacos) – o macaco por ser um animal sentinela, observação destes animais mortos ou doentes, podem indicar a circulação do vírus em determinada região ou localidade.
  • De vetores silvestres – a captura de mosquitos em áreas onde foram relatados casos humanos suspeitos e/ou epizootias ou de circulação viral.

Medidas de controle

A imunização (vacina) é a principal medida de controle, sendo administrada em dose única e sendo realizada a partir dos nove meses de idade, com reforço a cada 10 anos em áreas endêmicas ou para pessoas que viajam para estas áreas. A notificação imediata dos casos humanos, surtos e prevalência do vírus em vetores silvestres.

Deve-se realizar a vigilância sanitária de fronteiras, portos, aeroportos, com exigência do certificado internacional de vacina, com pelo menos 10 anos da última dose aplicada para viajantes procedentes de países ou área endêmica da doença.

Fortalecer o controle do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, reduzindo-se assim o risco de consolidação do ciclo urbano da doença; promovendo também ações de educação em saúde.

Diante de todas estas informações, vale ressaltar que, o macaco não transmite a febre amarela para o homem, tendo apenas um papel de hospedeiro natural do vírus. Agredir e matar os macacos, além de não impedir a circulação do vírus da febre amarela, pode ainda contribuir negativamente, por eliminar sua contribuição preventiva ao atuar como sentinela da doença.

Material de divulgação de campanha do Ministério da Saúde (MS).

Bibliografia

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Monitoramento do Período Sazonal de Febre Amarela no Brasil 2018/2019. Informa Nº02/2018/2019.

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VASCONCELOS, P. F. C. Febre Amarela. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, vol.36 no. 2, 2003.