Equino: hospedeiro amplificador da febre maculosa.

CID 10: A77.0

Sinonímia

Tifo transmitido pelo carrapato; Febre petequial; Febre chitada; Febre maculosa das montanhas rochosas.

Descrição

A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda e de gravidade variável, podendo apresentar-se de formas assintomáticas a severas e com alta taxa de letalidade.

A enfermidade é transmitida pelo carrapato infectado com a bactéria Rickttesia rickettsii, e seus principais sintomas iniciam-se de forma súbita, caracterizada por febre elevada, cefaléia, náuseas e vômitos, dor muscular intensa e/ou prostração, exantema máculo-papular (presença de manchas avermelhadas extensas), comumente visto nas regiões dos pés e mãos, podendo evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias.

Agente etiológico

O agente etiológico da Febre Maculosa Brasileira (FMB) é a bactéria gram negativa Rickettsia rickettsi, no qual é comumente presente no carrapato, da espécie Amblyomma sculptum, popularmente conhecido por “carrrapato-estrela”.

Carrapato A. sculptum

Essa bactéria é obrigatoriamente intracelular e replica-se indefinidamente em alguns hospedeiros: todas as rickettsioses são zoonoses com hospedeiro artrópode e/ou vertebrado. De acordo, com sua morfologia, é classificada como bacilo curto ou cocobacilo, e mede cerca de 0,3 a 1,00 µm.

Reservatórios

No Brasil, os principais vetores reservatórios da Rickettsia são os carrapatos das espécies Amblyomma sculptum, Amblyomma dubitatum e Amblyomma aureolatum. A participação dos equídeos como reservatórios no ciclo de transmissão é discutível, pois são amplificadores da bactéria Rickettsia rickettsi, ou seja, apenas transportam carrapatos potencialmente infectados de uma região para outra, além de atuarem como animais sentinelas.

Capivara: hospedeiro amplificador

A capivara também possui um importante papel epidemiológico na transmissão da doença, já que este roedor é o principal reservatório natural de R. rickettsi. O homem não participa do ciclo de transmissão, mas é frequentemente acometido.

Modo de transmissão

A Febre Maculosa é transmitida através da picada do carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsi e sua transmissão ocorre em detrimento do artrópode estar fixado ao hospedeiro, por no minimo de 4 a 6 horas.  É fundamental inspecionar o corpo a cada 3 horas, caso esteja em áreas com vegetação intensa e presença de animais, tais como, cavalos, capivaras e cães. A febre maculosa não é transmitida de uma pessoa para outra.

Periodo de incubação

Após o contato com o carrapato infectado e a permanência do mesmo fixado ao homem, os sintomas iniciais podem ocorrer, a partir do 2° dia após o contato com o vetor, podendo perdurar até o 14° dia. Em média, sete dias após o contato com o carrapato infectado já é possível observar com precisão a manifestação do primeiro sinal clínico.

Período de transmissibilidade

Todos os estágios evolutivos do carrapato como larvas, ninfas e adultos são capazes de transmitir a bactéria, podendo o carrapato permanecer infectado até 18 meses. A partir de um carrapato infectado, outros podem se infectar, através da transmissão vertical (transovariana), transmissão estágio-estágio (transestadial) ou transmissão através da cópula.

Sintomatologia clinica

Os sintomas iniciais são inespecíficos, podendo ocorrer, febre alta, cefaléia, mialgias, prostração e hiperemia das conjuntivas, comumente confundidos aos de outras doenças, tais como, gripe ou dengue. O quadro clínico inclui também náuseas, vômitos, diarreia e dor abdminal.

Entre o terceiro e quarto dia após o contato com o carrapato infectado, pode ocorrer a presença de exantema maculopapular (presença de manchas avermelhadas pela pele), apesar de ser o principal sinal clínico para realização do diagnóstico, em alguns casos, não ocorre a presença do exantema maculopapular, dificultando o diagnóstico. Estas máculas possuem coloração rósea, de bordas irregulares e geralmente aparecem nas extremidades, em torno do punho e tornozelo, de onde se irradia para o tronco, face, pescoço, palmas e solas.

Nos casos mais avançados e severos, o exantema evolui para petéquias, e posteriormente, em hemorragias cutâneas, composto principalmente por equimoses e sufusões.

Diagnóstico

A associação do histórico clínico do paciente (anamnese), com os dados epidemiológicos e resultados laboratoriais é fundamental para um diagnóstico mais preciso da enfermidade. O isolamento bacteriano em meio de cultura é o principal método de diagnóstico. Ensaios sorológicos como o RIFI (Reação de Imunofluorescência Indireta), também podem ser utilizados, considerando antígenos específicos para R. rickettsi. A RIFI é a técnica mais utilizada para o diagnóstico da doença, devendo ser um exame confirmatório.

Existem ainda outros métodos de diagnóstico mais sensíveis como a PCR (Reação em cadeia de polimerase) e a Imunohistoquímica.

Concluir um diagnóstico precoce é uma tarefa muito difícil, principalmente durante os dias iniciais da enfermidade, quando a sintomatologia clínica também pode sugerir no paciente um quadro de leptospirose, sarampo, febre tifoide, doença de Lyme e arboviroses como febre amarela, dengue, chikungunya e zika.

Tratamento

Ao se suspeitar de um caso de Febre Maculosa, a intervenção imediata da antibioticoterapia é primordial, antes mesmo da confirmação laboratorial. As drogas de eleição para o tratamento da doença são as pertencentes ao grupo das tetraciclinas como no caso da Doxiciclina.

Epidemiologia da doença

Sua prevalência se restringe a casos esporádicos, em áreas rurais e atualmente com mais incidência em áreas urbanas, sempre relacionados através do contato com o carrapato da espécie Amblyomma sculptum. Este contato mais íntimo com este carrapato se deve em muitos casos à natureza da atividade do indivíduo, como as ocupacionais (guardas ambientais, médicos-veterinários, biólogos e outros profissionais afins que estão sujeitos à exposição a estes carrapatos) e lazer (trilhas e atividades de ecoturismo).

No Brasil, são notificados casos nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

A vigilância epidemiológica da Febre Maculosa envolve a vigilância epidemiológica e ambiental do vetor transmissor (carrapato), reservatórios (principalmente capivaras e equídeos) e hospedeiros. Esta ampla vigilância tem por objetivo detectar e tratar o mais rápido possível os casos suspeitos, reduzindo assim os riscos e a letalidade, investigar surtos em determinadas regiões e adotar medidas de controle e prevenção.

É uma doença de notificação compulsória, ou seja, um agravo que por lei é obrigatório que seja comunicado às autoridades de saúde pública. É uma enfermidade de investigação epidemiológica com busca rápida e ativa, evitando assim a incidência de novos casos e óbitos.

Controle e profilaxia

A forma mais adequada de prevenção da doença é evitar os locais sabidamente infestados por carrapatos, principalmente entre os meses de maio a outubro onde as larvas e ninfas estão presentes em maior quantidade no solo e/ou nas áreas de mata. A prevenção nos animais também é de fundamental importância para o controle deste ectoparasita, já que o cão e o cavalo participam do ciclo de transmissão da doença, que, além de fonte de alimentação para os carrapatos, podem auxiliar no deslocamento de artrópodes infectados e estão próximos ao homem.

O combate aos carrapatos nos animais é fundamental, devendo-se procurar sempre o médico veterinário para receber as orientações necessárias.

Ao frequentar áreas com possível infestação de carrapatos devem-se usar sempre roupas claras para ajudar a identificar o carrapato, já que o mesmo possui coloração escura. Usar sempre calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas como em parques e trilhas ecológicas e evitando sempre andar em locais com vegetação alta.

Examine o corpo com frequência (de preferência a cada 3 horas), tendo em vista que quanto mais rápido os carrapatos forem retirados do corpo, menor o risco de infecção. Para retirada do carrapato, deve-se usar uma pinça e faça movimentos leves, puxando-o lentamente e com movimentos circulares para evitar a permanência da sua peça bucal na pele.

O encaminhamento médico nos casos suspeitos é fundamental, assim como a precocidade na identificação dos sintomas. A febre maculosa se não tratada pode levar o indivíduo ao óbito.

Referências

https://scielosp.org/pdf/rpsp/2010.v27n6/461-466/pt
http://www.fiocruz.br/bibsp/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=154&sid=106
Ministério da Saúde (BRASIL)
Secretaria de Vigilância em Saúde