Por André Casagrande
Além de poder ocasionar o óbito do animal, enfermidade requer intervenção proativa e foco na prevenção
Considerada um dos principais desafios da pecuária mundial, especialmente nos sistemas mais intensivos de produção, a Doença Respiratória Bovina (DRB), com origem multifatorial, ocorre por um desequilíbrio entre as defesas naturais das vias respiratórias superiores dos bovinos, o que favorece a proliferação local dos agentes infecciosos e sua migração para os pulmões.
Situações que promovem o estresse dos animais como a formação de novos lotes, transportes por longas distâncias, restrição de água e comida, a mistura de animais de origens diversas e a acidose metabólica que pode ocorrer pela troca da dieta são fatores que predispõem à DRB.
Além disso, o excesso de poeira e a formação de gases tóxicos (amônia), produzidos pelo acúmulo de material orgânico (urina, fezes e alimentos) e umidade promovem a irritação das vias aéreas superiores dos bovinos, favorecendo a queda da imunidade local e a ocorrência da doença.
Conforme explica o médico veterinário e gerente de serviços veterinários para bovinos da Ceva Saúde Animal, Marcos Malacco, a DRB é uma doença multifatorial que normalmente acontece por um desequilíbrio nas defesas naturais nas vias respiratórias superiores dos bovinos.
“Isso favorece a proliferação de agentes infecciosos oportunistas, principalmente bactérias que habitam naturalmente estes locais do trato respiratório. Essa proliferação bacteriana e a migração destes agentes para os pulmões promovem um quadro inflamatório local, que é agravado com a produção de toxinas”, detalha.
Características
De acordo com o especialista, nos confinamentos onde há casos de DRB, o ganho de peso médio diário (GMD) dos animais afetados e que não vão a óbito, é severamente comprometido, obrigando um maior tempo para o alcance do peso desejado para o abate e reduzindo o rendimento e a qualidade das carcaças. Ele acrescenta ainda que o período de maior incidência de surtos de DRB nos confinamentos de bovinos de corte correspondem aos primeiros 45 dias de confinamento do gado, especialmente nas duas ou três primeiras semanas.
“Durante esse período, é recomendado que as rondas sanitárias ocorram pelo menos duas vezes ao dia e que elas sejam mais criteriosas, estimulando os animais a levantar e caminhar, a fim de perceber sinais como, cansaço, relutância em caminhar, tosse, espirros, chiados e roncos ao respirar, lacrimejamento, corrimento nasal e ‘olhos fundos’, que é um importante indicativo de desidratação”, alerta o veterinário.
Outra advertência feita pelo especialista é que, quando a intervenção para o tratamento da doença não é rápida e eficaz, o quadro progride com agilidade e o animal vai a óbito em poucos dias. Nesses casos, o controle rápido e adequado ao processo inflamatório pulmonar é essencial para a recuperação dos animais acometidos, sendo tão importante quanto o controle eficaz dos agentes infecciosos.
Métodos de combate
Segundo Malacco, a utilização do meloxicam (potente anti-inflamatório não esteroidal) junto ao florfenicol (antibiótico altamente efetivo sobre os principais agentes bacterianos envolvidos na DRB), em formulação que permita rápido início e controle duradouro da infecção e da inflamação, é primordial para a regressão do quadro e o retorno do animal ao seu estado de saúde adequado.
Diante desse cenário, entender sobre a doença, sua prevenção e tratamento possibilita que os pecuaristas evitem perdas financeiras significativas. “São muitos os fatores contribuem para a redução da incidência da DRB nos confinamentos, como o emprego de técnicas de pré-condicionamento ou socialização prévia do gado antes de entrar no sistema intensivo, estratégias nutricionais adequadas para evitar estresse nutricional que interfira negativamente na sua imunidade, vacinações contra os principais agentes infecciosos associados à DRB, a metafilaxia em alguns casos e o tratamento rápido e adequado dos bovinos acometidos pela doença”, lista o profissional.
Para este último fator, o especialista cita que é importante ter em mente que, além da infecção bacteriana propriamente, a reação inflamatória pulmonar determinada pela infecção costuma ser grave. “Portanto, a combinação de um potente anti-inflamatório não esteroidal (AINE) com baixos índices de reações indesejáveis, junto a um antibiótico efetivo e com baixas taxas de resistência bacteriana, é o caminho ideal para o tratamento da DRB”, recomenda.