Por Sávio Freire Bruno e Yula Fabbrin Xavier

Introdução

O gaivotão (Larus dominicanus) é uma ave costeira muito avistada nas praias da costa sul e sudeste do Brasil. Seu nome tem origem no grego, e significa gaivota (Larus) com vestimentas dominicanas (dominicanus), fazendo alusão às vestimentas pretas e brancas utilizadas pelos frades, que se assemelham ao padrão de suas penas. O gaivotão pertence à família Laridae e ao gênero Larus,assim como diversas gaivotas conhecidas, já que este é um gênero abundante, composto por 45 espécies (Harrison, 1983).

O que diferencia o gaivotão das demais gaivotas do gênero Larus são o seu rabo com penas brancas e seu bico amarelo manchado de vermelho na parte inferior. Podem alcançar até 58 cm de comprimento (Sick, 1997), e sua plumagem é majoritariamente branca, com exceção do dorso e da parte superior das asas, que são cobertas por penas da cor preta. As patas têm coloração amarelo-esverdeada, e seus olhos possuem a íris amarelada, com as bordas que variam entre o vermelho e o laranja.

Repare nas características marcantes do gaivotão, como a mancha avermelhada no bico, além da margem dos olhos, da mesma coloração. Foto: Sávio Freire Bruno, Iguaba Grande, RJ, 2009.

É uma espécie que não apresenta dimorfismo sexual. É fácil, no entanto, diferenciar os indivíduos juvenis dos adultos: quando são mais jovens, possuem as penas do corpo variando entre o marrom, preto e branco, e o bico e íris apresentam coloração negra.

Gaivotão (Larus dominicanus) jovem com sua plumagem característica. Foto: Sávio Freire Bruno, Iguaba Grande, RJ, 2011.

Distribuição Geográfica e Ambiente Específico

São aves frequentemente avistadas em bandos, e além de estarem presentes na costa brasileira, também são encontradas na Argentina e outros países, como as Ilhas Malvinas e Geórgia do Sul, África e Nova Zelândia, já que sua distribuição não está restrita à América do Sul (Sick 1997). Os grupos têm preferência por habitats marinhos, frequentando praias e estuários. Alguns indivíduos infelizmente são atraídos para longe das praias, e podem ser avistados em depósitos de lixo urbano, principalmente em busca de alimentação (Ebert, 2005).

Os gaivotões são aves marinhas que habitam predominantemente as zonas costeiras e, em especial, as praias. Foto: Sávio Freire Bruno, Itaipuaçu, RJ, 2019.

Hábito Alimentar

O gaivotão é uma ave considerada generalista e oportunista quanto a seu hábito alimentar. Em geral, obtém seus recursos alimentares na zona de arrebentação e na praia, caçando e se alimentando de pequenos peixes e animais invertebrados, além de se aproveitar de carcaças encontradas na areia (Sick 1997; Barbieri 2008). Áreas onde atividades de pesca artesanal estão presentes favorecem a ocorrência do gaivotão e outras aves marinhas, uma vez que o rejeito da pescaria é devolvido ao mar e aumenta a disponibilidade de alimento para esses animais. Fora isso, por serem aves oportunistas, acabam também explorando outros resíduos antrópicos para sua alimentação (Giaccardiet al., 1997; Branco 1999).

Gaivotão (Larus dominicanus) se alimentando em áreas de pesca artesanal. Foto: Sávio Freire Bruno, Iguaba Grande, RJ, 2009.

O gaivotão é uma ave generalista. Sua alimentação inclui pequenos invertebrados, como o tatuí (Emerita brasiliensis). Foto: Sávio Freire Bruno, Itaipuaçu, RJ, 2013.

Hábitos Reprodutivos

Estudos sugerem que o gaivotão seja uma espécie monogâmica (Dantas, 2007). Nidificam no inverno, geralmente em ilhas próximas ao continente, e a partir de março começam a migrar para a demarcação do território e construção dos ninhos. Os casais tendem a escolher locais de nidificação que tenham algum tipo de cobertura vegetal (Borboroglu; Yorio, 2004), uma vez que o calor excessivo afeta negativamente os ovos e pode causar a morte dos filhotes (Dantas, 2007). O tamanho da ninhada pode variar de 2 a 5 ovos, e ambos os pais cuidam do ninho, da incubação e da prole (Yorio, 1996).

Principais Ameaças

O gaivotão enfrenta desafios que não apenas impactam sua própria sobrevivência, mas também a de toda a biodiversidade costeira e marinha. A poluição das praias e oceanos têm um efeito direto na saúde dessas aves, que muitas vezes consomem resíduos humanos ou ficam presas em redes de pesca. Além disso, a crescente deterioração das ilhas, mudanças climáticas e a desenfreada ocupação urbana na costa ameaçam a reprodução e a subsistência da espécie.

Apesar disso, o gaivotão tem se mostrado uma espécie resiliente, com grande capacidade de adaptação e plasticidade para sobreviver em ambientes impactados. Por esse motivo, seu status de conservação segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) é “menos preocupante” (LC). No entanto, esforços ainda são essenciais para mitigar os fatores que ameaçam os ambientes e a biodiversidade marinha, garantindo a sustentabilidade dos ecossistemas costeiros.

Referências bibliográficas

BARBIERI, Edison. Diversidade da Dieta e do Comportamento do Gaivotão Antártico (Larus dominicanus) Na Península Keller, Ilha Rei George, Shetland Do Sul . 19 de junho de 2008.

BORBOROGLU, Pablo; YORIO, Pablo (2004) Habitat requirements and selection by KelpGull (Larus dominicanus) in central and northernPatagonia, Argentina. Auk 121: 243-252.

BRANCO, J. O. Biologia do Xiphopenaeuskroyeri (Heller, 1862) (Decapoda: Penaeidae), análise da fauna acompanhante e das aves marinhas relacionadas a sua pesca, na região de Penha, SC-Brasil. Tese de Doutorado. Universidade de São Carlos, SP. 147 p. 1999

BURGER, J.; GOCHFELD M; GARCIA E e KIRWAN G (2020). KelpGull (Larus dominicanus), versão 1.0. Em Birds of the World (J. delHoyo, A. Elliott, J. Sargatal, DA Christie é E. de Juana, Editores). Laboratório Cornell de Ornitologia, Ithaca, NY, EUA.https://doi.org/10.2173/bow.kelgul.01

DANTAS, G. Biologia Reprodutiva, Estrutura Populacional e Variabilidade Genética de Larus Dominicanus. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.

EBERT, Luis. Estrutura Populacional e Atividade Diária de Larus Dominicanus LICHTENSTEIN (Laridae, Aves), No Estuário do Saco da Fazenda Itajaí, SC.12 Dec. 2005.

GIACCARDI, M; YORIO, P; LIZURUME, E. Patronesestacionales de la gaivota cocinera (Larus dominicanus) enunbasuralPatagónico y sus relaciones conel manejo de residuos urbanos y pesqueros. Ornitologia Neotropical. 8: 77-84. 1997.

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SICK, H. (1997) Ornitologia Brasileira, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 912p.

SIGRIST, Tomas. Guia de campo: avifauna brasileira. 3. ed. São Paulo: Avis Brasilis, 2013. 592 p.

WIKI AVES.Gaivotão (Larus dominicanus). Disponível em:https://www.wikiaves.com.br/wiki/gaivotao. Acesso em 16 de maio. 2024.

YORIO P; BOERSMA PD; SWAN S (1996). Breeding Biology of the DolphinGullatPunta Tombo, Argentina. Condor 98: 208-215.

 

Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Professor Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF).

Yula Fabbrin Xavier: Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense.

Revisão de texto: Eduardo Sánchez.

Foto de capa: Sávio Freire Bruno. Gaivotão (Larus dominicanus), Iguaba Grande, RJ, 2009.