Por: Sávio Freire Bruno e Júlia de Lima Curty Borges

Introdução

A garça-branca-grande (Ardea alba), conhecida também como garça-branca, é uma das aves aquáticas mais comuns encontradas no Brasil. Pertence à ordem Pelecaniformes, ordem também dos pelicanos, colhereiros, socós, guará e afins. Com uma aparência elegante, a garça-branca-grande apresenta a plumagem totalmente branca, bico longo e amarelado (Fig.1), pernas longas e pretas, assim como suas patas, e pescoço longo e fino, que durante o voo fica encolhido em formato de “S”.

Fig. 1: A garça-branca-grande (Ardea alba) apresenta um longo bico amarelado, penas totalmente brancas e o pescoço longo. Foto: Sávio Bruno Freire, Piratininga, RJ, outubro de 2023

Na fase adulta, a garça-branca-grande mede de 65cm a pouco mais de 1 metro de comprimento total, e pesa de 700 a 1700g. Ela pode ser avistada solitariamente ou em bandos (Fig.2). Possui certas semelhanças com a garça-branca-pequena (Egretta thula), porém elas se diferem no tamanho, na cor do bico e na cor das patas (Fig.3), podendo, no entanto, integrar os mesmos ambientes.

Fig.2: Ao longo do dia, a garça-branca-grande pode ser avistada solitariamente ou em bandos. Foto: Sávio Freire Bruno. Laguna de Piratininga, junho de 2024.

Fig. 3: Enquanto a garça-branca-grande (Ardea alba) encontra-se pousada, a garça-branca-pequena (Egretta thula) ensaia seu pouso na vegetação presente às margens da laguna. Foto: Sávio Freire Bruno. Laguna de Piratininga, junho de 2024.

Distribuição Geográfica

A garça-branca-grande apresenta uma ampla distribuição geográfica, sendo considerada uma ave cosmopolita e presente em toda América do Sul e território nacional (Blake, 1977, Sigrist, 2006). É encontrada em todas as zonas úmidas de águas estuarinas, marinhas e doces, desde as margens de lagos e rios, brejos, represas, nos pântanos, manguezais (Fig.4), e até em regiões mais afastadas da costa (Mccrimmon et al., 2020). Por apresentar uma grande plasticidade, inclusive alimentar, esse animal consegue viver em ambientes diversos, incluindo parques urbanos que possuam corpos d’água.

Fig. 4: A garça-branca-grande habita diversos corpos d’água, como a Laguna de Araruama. Foto: Sávio Bruno Freire, Iguaba Grande, RJ, dezembro de 2020.

Hábitos Alimentares e Estratégias de caça

Essa espécie de Ardeidae é considerada uma ave oportunista, que apresenta como principal fonte de alimento os peixes (Fig.5). Pode, porém, se alimentar dos mais diversos tipos de organismos, como crustáceos, pequenos anfíbios e répteis, e até pequenos mamíferos (Sigrist, 2006; Lagos et al., 2018), mostrando uma grande flexibilidade em sua dieta. Apresentam diversas técnicas apuradas para capturar suas presas, mostrando que são ótimas caçadoras. Uma dessas técnicas consiste em se manter estática nas margens dos rios ou dentro d’água com seu longo pescoço encolhido à espera do momento certo para dar o bote e capturar sua presa. Além disso, podem utilizar suas patas para revirar o substrato e assim atrair os peixes para mais próximo à superfície, facilitando sua caça. Também são descritas pescando em conjunto com outros indivíduos da mesma espécie e até mesmo com outras aves aquáticas (Sigrist, 2006; Mccrimmon et al., 2020).

Fig. 5: Garça-branca-grande (Ardea alba) capturando um lambari (Astyanax bimaculatus) com seu longo bico amarelado. Foto: Sávio Bruno Freire, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, RJ, maio de 2009.

Comportamento reprodutivo e Nidificação

Durante o período reprodutivo, machos e fêmeas desenvolvem uma longa plumagem na região dorsal, chamada de egretas (Fig. 6), que ao término desse período ficam bem desgastadas. O casal pode nidificar isoladamente ou em colônias. Essas colônias podem se estabelecer, inclusive, com a presença de outras aves aquáticas. A nidificação em colônias favorece a proteção dos ovos e filhotes. Os ninhos costumam ser construídos nas regiões mais altas das árvores, e são formados por gravetos, galhos e caules de plantas aquáticas. O tamanho da ninhada varia de um a seis ovos, e tanto a fêmea quanto o macho ficam responsáveis pelo ninho, desde a incubação até o cuidado com os filhotes.

Fig. 6: A garça-branca-grande exibe longas egretas durante o período reprodutivo. Foto: Sávio Freire Bruno, Itaipuaçu, RJ, outubro de 2020.

Principais ameaças

De acordo com a lista vermelha IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) a Ardea alba se encontra na situação “pouco preocupante (LC)”. No século XIX e início do século XX, devido ao comércio de plumas, ocorreu uma intensa caça para retirada das egretas para ornamentação de roupas e acessórios. Essa ação provocou uma grande queda no número de indivíduos de garça-branca-grande e a diminuição de sua distribuição durante esse período. Porém, com o fim da comercialização das suas penas nupciais, as populações voltaram a crescer (Mccrimmon et al., 2020).

Devido ao grande impacto antrópico que ocorre massivamente nas áreas costeiras, principalmente a poluição por lixo e esgoto, urbanização e especulação imobiliária, a garça-branca-grande vem sofrendo com a perda de habitat e poluição dos recursos hídricos. Sendo assim, mesmo que suas populações não apresentem sinais de declínio evidente, são necessários esforços para que a espécie continue presente no ecossistema e siga desempenhando seu papel nas relações ecológicas e no equilíbrio da natureza.

Referências bibliográficas:

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Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF). Professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biossistemas (UFF).
Júlia de Lima Curty Borges: Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal Fluminense.
Revisão de texto: Eduardo Sánchez.
Foto de capa: Sávio Freire Bruno. Garça-branca-grande (Ardea alba). Iguaba Grande, RJ, janeiro de 2011.