As técnicas e ferramentas Lean auxiliam no processo de minimização ou eliminação de desperdícios, trazendo resultados para a produção animal como: economia de custos, melhoria da qualidade, redução de prazos e aumento da produtividade, tornando a produção ágil e mais competitiva.

O uso intensivo de tecnologia e inovação proporciona retornos visíveis na competitividade e no dinamismo do setor agropecuário. O crescimento da atividade agropecuária no Brasil nos últimos anos provocou diversas transformações no setor, levando as atividades de subsistência a diminuíram radicalmente.

Os produtores de commodities (mercadoria em estado bruto ou com grau muito pequeno de industrialização, baixo grau de diferenciação e que podem ser estocados), precisaram investir em suporte técnico, pesquisa, desenvolvimento e tecnologia para se tornarem competitivos (PEREIRA, PAULA, 2009).

Dessa forma, redesenharam seu modo de operação, mapearam seus processos em busca de identificar os gargalos e os pontos de melhoria, adquiriram equipamentos de precisão, se atentaram para as questões ambientais e de sustentabilidade, treinaram e motivaram as equipes, e com isso conseguiram entregar produtos de qualidade, com preço diferenciado e valor agregado ao cliente.

Histórico

De acordo com os dados históricos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013), até 1900, o Brasil apresentava baixa competitividade no mercado internacional, exportando apenas açúcar e café, e não havia na ocasião investimento em pesquisa e desenvolvimento.

A partir 1900 tem início a pesquisa aplicada brasileira, com incipiente investimento em pesquisa e desenvolvimento, surgiram as primeiras exportações de mudas e sementes e o Brasil aumentou sua competitividade no mercado internacional.

Na década de 1970, tem-se total mudança no cenário agropecuário. Em 1973, o surgimento da Embrapa garantiu o planejamento da pesquisa no setor agropecuário, o que promoveu a gestão de recursos humanos associada ao desenvolvimento de novos conhecimentos. Na mesma época, diversos setores buscaram recursos para investir em pesquisa, a iniciativa privada passou a atuar na pesquisa agropecuária, observou-se avanço na transferência do conhecimento da tecnologia para o campo, e o Brasil se destacou com alta competitividade internacional.

Emprego e renda

Nos dias atuais, a propriedade rural é reconhecida como a atividade central do agronegócio, não existindo sem um planejamento contínuo, acompanhamento de mercado, previsão de demanda, de despesas e de receitas. Nesse contexto, criar estratégias para agregar valor aos produtos e reduzir custo tornaram-se indispensáveis para a sustentação do negócio (PEREIRA, PAULA, 2009).

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve um salto na população urbana de 31,3% em 1940, para 84,36% em 2010. Sendo assim, demonstrou-se um crescimento da população urbana de aproximadamente 13 milhões em 1940, para 190 milhões em 2018. A FAO (Food and Agriculture Organization) estima que a produção anual de alimentos deve ser ampliada em 70% até o ano de 2050, em função do crescimento da população (SILVA, 2018).

De acordo com os dados Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor agropecuário absorve praticamente 1 de cada 3 trabalhadores brasileiros. Em 2015, 32,3% (30,5 milhões) do total de 94,4 milhões de trabalhadores brasileiros eram do agronegócio. Em 2018, a soma de bens e serviços gerados no agronegócio chegou a R$ 1,44 trilhão ou 21,1% do PIB brasileiro. Já em 2019, o PIB do agronegócio continuou em alta e representou 21,4% do PIB brasileiro total.

Gestão e estratégia

A cadeia agroindustrial concentra os processos agrícolas, que envolvem o plantio, processamento, armazenagem e transporte de grãos; a produção animal concentra o processamento e controle de estoque nas fábricas de ração, o investimento em infraestrutura, assistência técnica animal, pesquisa e desenvolvimento, como resultante entrega carne, ovos, leite e subprodutos para a indústria; esta por fim realiza o processamento dos produtos do campo, bem como seu armazenamento e entrega ao consumidor final.

Com o advento da assessoria, dos treinamentos dentro das corporações, as empresas têm investido fortemente em boas práticas de produção, com objetivo de tornar seus processos enxutos, reduzindo custos e com prazos de entrega cada vez menores. No entanto, o que se tem percebido é que grande parte das empresas buscam os mesmos objetivos, tornando as melhorias indistinguíveis do ponto de vista do cliente. Com isso chegam na convergência estratégica, a fronteira de produtividade.

Uma oportunidade para a produção animal neste cenário de concorrência acirrada é a implantação do Sistema Lean no Agronegócio. Tal qual ocorre na indústria automobilística, onde o produto “carro” é produzido por diversas empresas, algumas se destacam e podem ter valor diferenciado por apresentar características únicas. A Toyota, após a Segunda Guerra Mundial, quando as indústrias japonesas tinham uma produção muito baixa e uma enorme escassez de recursos, desenvolveu um sistema de produção que buscava reduzir custos por meio da eliminação de desperdícios, o Sistema Toyota de Produção, e foi este o diferencial que a permitiu entrar no mercado automobilístico de forma competitiva com as montadoras americanas. Hoje este é chamado Lean Manufacturing ou “Sistema de Produção Enxuta”.

No cenário econômico mundial, com ampla concorrência e consumidores exigentes, o mercado tem ditado o preço das mercadorias. Aos produtores cabe trabalhar para eliminar todos os desperdícios e processos que não agregam valor, logo uma implantar uma produção enxuta. Os sete desperdícios considerados no Sistema Lean são: superprodução, espera, transporte, movimentação, processamento excessivo, retrabalho e estoque. Aos gestores do agronegócio cabe conhecer com clareza seus processos a fim de identificar desperdícios que estejam sorrateiramente roubando os lucros da produção.

A produção animal está num contexto muito desafiador pois lida diretamente com matérias-primas e produtos processados ​​de alta perecibilidade, além disso enfrenta variações sazonais que afetam a demanda e o consumo (SATOLO et al., 2020).

Um dos principais pilares do Lean que devem ser atendidos na produção animal é a Produção Puxada, isto é, produzir apenas o que for demandado pelo cliente. Para tanto, o produtor, a empresa integradora, a indústria, devem se atentar para as projeções do mercado e da economia, produzindo de acordo com a demanda. Com isso evita-se a superprodução, que exige recursos, tempo e custos com estoque. Quando se produz em excesso sem a certeza da venda, tem-se a Produção Empurrada, cujo problema está no fato de que se não houver comprador em tempo hábil, pode ser necessário criar promoções para escoar (empurrar) a produção, como resultado, toda previsão de lucros estimada é perdida.

Nas fábricas de ração podem ser aplicadas ferramentas como o Kanban, um sistema de cartões que sinalizam o que, quanto e quando produzir. Este tem como objetivo controlar e balancear a produção, eliminar perdas, permitir a reposição de estoques baseado na demanda e constituir-se num método simples de controlar visualmente os processos e evitar desperdícios.

Outra ferramenta que auxilia as fábricas é o Poka-Yoke, que são medidas e dispositivos que impedem a execução irregular de uma atividade, logo, acidentes, com perda de recursos humanos e financeiros.

Além destas, o 5S (senso de utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina) pode ser aplicado em todos os setores da produção, uma vez que busca organizar o espaço de trabalho, deixando peças e ferramentas nos lugares corretos, além de reforçar a necessidade de autodisciplina por parte de todos.

Como ferramenta para a administração da empresa rural, para análise técnica e precisa de toda cadeia, tem-se o VSM (Mapeamento do Fluxo de Valor). Esta ferramenta mapeia o fluxo de material e informações, além do tempo de execução dos processos (lead time). Este é o primeiro passo para se ter a visão global da operação, identificar os gargalos na produção, eliminar as perdas, a fim de obter o máximo de produtividade através da identificação e padronização dos elementos de trabalho que agregam valor.

As técnicas e ferramentas Lean auxiliam no processo de minimização ou eliminação de desperdícios, trazendo resultados para a produção animal como: economia de custos, melhoria da qualidade, redução de prazos e aumento da produtividade, tornando a produção ágil e mais competitiva.

Assim, desenha-se um novo modelo de Agrobusiness num mundo cada vez mais competitivo e dinâmico.

Referências

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Panorama do Agro. Disponível em: <https://www.cnabrasil.org.br/cna/panorama-do-agro>

IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasília. 2013. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2209/1/TD_1866.pdf>

PEREIRA, Simone; PAULA, Roberta Mafron. A inovação tecnológica como ferramenta competitiva no agronegócio. 2009. Disponível em: <http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2009/anais/arquivos/RE_1196_1203_01.pdf>

SATOLO, Eduardo Guilherme; HIRAGA, Laiz Eritiemi de Moura Hiraga; ZOCCAL, Lucas Furlani; GOES, Gustavo Antiqueira; LOURENZANI, Wagner Luiz; PEROZINI, Pedro Henrique. Técnicas e ferramentas do lean production: estudos de múltiplos casos em empresas do agronegócio brasileiro. Gestão e Produção, vol.27, São Carlos, 2020. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2020000100202&tlng=en>

SILVA, José Renato. A tecnologia no campo e a gestão efetiva do agronegócio. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2018. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/12276/1/PG_CEACP_2018_1_17.pdf>