Conta a lenda, que a primeira inseminação artificial (IA) foi realizada pelos Árabes, em 1332. Duas tribos em guerra uma das quais possuía uma tropa de cavalos com qualidade superior, o que lhe dava grande vantagem nas batalhas. A tribo que estava perdendo enviou um guerreiro ao acampamento inimigo, coletou sêmen do melhor garanhão e o levou para emprenhar as fêmeas de seu plantel. Assim, melhoraram a qualidade de sua tropa e conseguiram vencer a guerra.

A história registra a data de 1784 como sendo a da primeira inseminação artificial. O monge Lázaro Spallanzani fecundou uma cadela sem o contato direto do macho. Nascia uma técnica que iria revolucionar a reprodução artificial e o melhoramento animal. Em 1949 Polge, Smith e Parker conseguiram conservar o espermatozoide por longo tempo a baixas temperaturas, o que trouxe grande impacto socioeconômico à pecuária, permitindo a multiplicação de genética superior em grande escala, ao redor do mundo.

O progresso

Ao longo dos anos, a indústria da inseminação artificial trouxe expressiva contribuição tecnológica para a pecuária. Desenvolveu a tecnologia de sêmen resfriado, do sêmen congelado e botijões criogênicos. Isto permitiu o melhoramento animal em larga escala e possibilitou os testes de progênies. Mais recentemente, viabilizou o acesso do produtor rural às novas tecnologias de reprodução artificial, como transferência de embriões (TE), fertilização in vitro (FIV) e a facilitação das práticas de manejo reprodutivo através da tecnologia de inseminação a tempo fixo (IATF). Nas últimas décadas, desenvolveu pesquisas para os marcadores genéticos dos bovinos, que evoluiu para as avaliações genômicas. A seleção genômica permite maior intensidade de seleção e um maior progresso genético entre gerações. Também disponibilizou a tecnologia do sêmen sexado, permitindo ao pecuarista a escolha antecipada do sexo para a progênie do touro.

Uso ainda é restrito

Temos aproximadamente doze por cento (12%) das fêmeas bovinas em idade de reprodução sendo trabalhadas com a técnica da inseminação artificial (IA) no Brasil. Nossos concorrentes globais na oferta de proteína animal, de leite ou carne, possuem índices superiores na utilização desta tecnologia, chegando alguns países europeus a noventa por cento (90%) dos rebanhos de leite sendo trabalhados com IA e os EUA a setenta por cento (70%).

O custo é baixo

A inseminação artificial é o único insumo que deixa residual entre gerações. Todos os demais insumos utilizados na pecuária possuem um período determinado de benefício. Somente a utilização de genética de qualidade superior, através da IA, deixa benefícios que se perpetuam entre gerações. Além disto, o custo deste insumo é de somente dois por cento (2%) do custo de produção do leite ou da carne. Isto traz uma relação de custo x benefício extremamente positiva para utilização da inseminação artificial, pelo pecuarista.

A Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), que completou 40 anos de existência, representa noventa e dois por cento (92%) do mercado de sêmen utilizado em território nacional e trabalha em apoio ao desenvolvimento e difusão da tecnologia de inseminação artificial, alinhada aos objetivos do Ministério da Agricultura e com as associações de raça, para o melhoramento do rebanho bovino brasileiro.

ASBIA se moderniza

Carlos Vivacqua Carneiro Luz, presidente da ASBIA.

No intuito de modernizar a ASBIA um novo estatuto foi aprovado. Mais aberto às necessidades atuais do setor, trará mais controle à gestão da associação e permitirá uma maior sinergia com outros players do mercado, alinhados a nossos valores e interesses. Abriu-se espaço para as associações de raça e outros setores da reprodução artificial. Não mais será permitida a reeleição imediata de seus presidentes, mantendo um processo regular de renovação e vigor nas respectivas gestões. Foram realinhadas as funções das diretorias para que possam estar mais coerentes às demandas do mercado: presidente, diretor operacional, diretor de marketing e diretor técnico e criado o conselho de administração; que será composto por ex-presidentes e membros das empresas ativas e o conselho fiscal.

A ASBIA participa de maneira intensa na cadeia de geração de valor da pecuária bovina nacional, com impacto positivo no agronegócio e no PIB brasileiro. O setor do agronegócio, demanda a utilização de tecnologias eficientes, baratas e com boa relação custo benefício. A inseminação artificial é uma destas tecnologias e com enorme possibilidade de expansão. Temos oitenta e oito por cento (88%) do mercado para ser trabalhado e isto faz com que o Brasil seja visto como o mais importante mercado global por todas as multinacionais do setor. Está disponível ao pecuarista brasileiro o que há de melhor em genética, de todas as raças.

Maior competitividade

Com o incremento na utilização da inseminação artificial traremos maior competitividade à nossa pecuária em relação à produção/hectare, menor custo do produto, maior oferta de produtos com qualidade superior, desenvolvimento socioeconômico do homem do campo e melhor distribuição de renda.

Grandes transformações

O setor passa por grandes transformações tecnológicas e consequentemente novos desafios. No mundo, a indústria de Inseminação Artificial é caracterizada pela oferta de material genético superior, com a utilização de touros provados para as características econômicas, permitindo o melhoramento animal dos rebanhos.

No passado, a identificação destes indivíduos superiores era obtida através dos testes de progênies, onde se avaliavam os valores genéticos dos reprodutores pela produção de leite de suas filhas ou ganho de peso de seus filhos.

No processo tradicional de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), as centrais de inseminação artificial nos EUA selecionavam 1,5 mil touros de leite para teste de progênie, em centenas de fazendas, indo à comercialização 150 touros provados por ano, dez por cento (10%). Os restantes noventa por cento (90%) eram descartados. O custo médio era de US$150 mil por touro testado e chegava-se ao custo final de US$1,5 milhão por touro em coleta para comercialização (10/1). Estes custos eram distribuídos entre o valor de compra do animal jovem, aproximadamente US$15 mil, coleta e distribuição do sêmen para o teste de progênie, manutenção do animal por cinco anos nas centrais de Inseminação Artificial, etc.

Estes produtos tinham um ciclo de vida de até 10 anos e conseguiam chegar fisiologicamente a sua capacidade máxima de produção de sêmen. Ou seja, diluíam-se os custos em um grande volume de doses comercializadas durante a vida útil deste indivíduo. Neste modelo, todo o trabalho técnico de P&D estava concentrado nas empresas de inseminação e o fluxo de caixa desta operação era distribuído em longo prazo.

Com o advento da genômica na pecuária bovina; pesquisa desenvolvida pelas centrais de inseminação artificial e USDA; onde se identifica através da avaliação do DNA os indivíduos superiores, este processo foi alterado trazendo mudanças na gestão da indústria.

As avaliações genômicas são realizadas em indivíduos muito jovens e o acesso a esta técnica está disponível a todos os criadores, saindo das mãos das centrais o poder de gestão no processo de seleção e passando às mãos dos produtores. As centenas de fazendas nos Estados Unidos que ofertavam touros para os testes de progênies de leite se reduziram a menos de dez fazendas com genomas de alto nível, havendo alta concentração de poder nas mãos de poucos criadores.

Touros no centro de coleta. Fotos: Gutche Alborgheti, Grupo Publique.

Custo

O custo de compra pelas centrais, por touro jovem com alto valor genético, passou para valores que oscilam entre US$200 mil e US$300 mil. Anualmente são avaliados mais de 70 mil touros de leite nos EUA, mantendo os mesmos 150 touros colocados no mercado. Com a área de P&D tão intensificada, o ciclo de vida dos produtos caiu para intervalos entre três e quatro anos, havendo rápida substituição de touros no mercado.

Outro impacto nos custos é causado pela fisiologia dos animais jovens, imaturos sexualmente, que têm sua capacidade de produção de sêmen limitada. Um touro adulto produz até 10 mil doses de sêmen/mês e um jovem até 4 mil doses/mês.

A indústria de inseminação artificial passou a ter um aumento no custo de entrada de seu produto (touro), menor ciclo de vida de seus produtos, maior rotatividade de produtos no mix de oferta, menor número de doses produzidas e comercializadas por touro, alteração no perfil de investimentos deslocado para curto prazo e perda de seu poder na área de P&D.

Outro desafio em termos de tecnologia, produtos e custos, é o sêmen sexado. Esta tecnologia é monopólio mundial de uma empresa e, como setor monopolizado, não há concorrência e os custos são estabelecidos de maneira singular. O pagamento deste produto é contra-entrega e mediante contratação dos serviços em grande escala. Entretanto, as vendas são realizadas ao consumidor final com prazos alongados de pagamento. Assim, esta diferença traz impacto negativo nos fluxos de caixa das empresas, para um produto de baixa rentabilidade.