O crescimento populacional tem levado a um aumento na demanda por alimentos e produção animal para consumo, bem como na demanda por ração animal.No Brasil, a pecuária representa uma das atividades mais importantes, com criadores lançando mão, em sua maioria, da criação a pasto. O desafio dos produtores agropecuários é buscar novas alternativas e tecnologias que promovam uma produção sustentável e com alta produção, otimizando o espaço já utilizado para as pastagens e lavouras.Pensando em questões ambientais, sociais e econômicas é apresentado o sistema de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e suas subdivisões: Lavoura-Pecuária (ILP); Pecuária-Floresta (IPF) e Lavoura-Floresta (ILF),como possíveis soluções para melhorar a produção e a variedade de produtos em uma mesma área, incrementando a renda, reduzindo o percentual de desmatamento e promovendo a recuperação de áreas degradadas (BALBINO et al., 2011; KLUTHCOUSKI et al., 2003; MACEDO 2010).
Tais sistemas têm por objetivo a produção sustentável de carne, leite, grãos, fibras, energia e produtos florestais em uma mesma área com plantio consorciado em sistema de sucessão ou rotacionado, visando uma sinergia entre os componentes do sistema no solo (KICHEL et al., 2012).Através da adubação verde ocorre a melhoria na condição biológica por meio de plantas que possuem a capacidade de incorporar o nitrogênio atmosférico no solo e tornando-o disponível para as demais plantas (BALBINO te al., 2011).
A iLPF melhora a interação entre os ciclos biológicos das plantas, animais e seus respectivos resíduos, bem como o aproveitamento de resíduos de corretivos e nutrientes. Outros benefícios são a redução do uso de agrotóxicos e defensivos, maior eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão-de-obra, trazendo melhores condições sociais para o meio rural e reduzindo e impactos ambientais (KICHEL et al., 2014).
Esse sistema é o mais complexo por integrar maior número de componentes como lavoura, pecuária e floresta, na maioria dos casos o produtor tem estabelecido a lavoura e quer diversificar aproveitando a entressafra ou possui criação de gado e visa melhorar a qualidade da pastagem através da recuperação das áreas degradadas. É fundamental destacar e caracterizar o uso desse sistema e de suas subdivisões, visando elucidar sua importância para maior aproveitamento das áreas de produção agropecuárias de uma maneira sustentável e lucrativa.
A integração lavoura-pecuária também chamada de agropastoril é um sistema de produção que integra a parte agrícola à pecuária em rotação, consórcio ou sucessão, durante um ou mais anos em uma mesma área, visando seu melhor aproveitamento (BALBINO et al., 2011). Outras finalidades desse sistema são: a ciclagem de nutrientes, incremento da matéria orgânica do solo pela incorporação de palhada e restos culturais, além de apresentar melhor rendimento com menor custo e maior qualidade.
Outro sistema de integração que também tem muito destaque é a integração Pecuária-Floresta (iPF) ou silvipastoril, que apresenta os componentes pecuário (criação animal em pastagem) e florestal em sistema de consórcio. Geralmente esse sistema é utilizado em áreas que não apresentam condições de implantação de lavouras (BALBINO et al., 2011). Entretanto, apresenta inúmeras finalidades como: ambientação e bem-estar animal que são importantes elementos na melhoria da produção animal atual, exercendo grande influência na adaptação do animal (ALVES et al., 2019). Outros benefícios são o melhor aproveitamento da área, produção de madeira, melhoria das condições do solo e pastagem de maior qualidade.
A integração Lavoura-Floresta (iLF) ou silviagrícola é um sistema de produção que integra o componente florestal e agrícola pela consorciação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas anuais ou perenes ou a consorciação de espécies arbóreas e agrícolas (anuais) em rotação e/ou sucessão (KICHEL et al., 2014; KLUTHCOUSKI et al., 2015). O iLF pode constituir a primeira etapa do sistema iLFP, quando o sistema será silviagrícola.Após a colheita da cultura anual e o início do pastejo, o sistema será silvipastoril (BALBINO et al., 2012). O sistema com integração florestal e agrícola é baseado no arranjo espacial de aleias (em inglês, alley cropping), no qual árvores são plantadas em faixas ou renques de linhas simples ou linhas múltiplas com espaçamentos amplos, e o cultivo de culturas anuais e/ou espécies forrageiras ocorre nos espaços entre as linhas (KLUTHCOUSKI et al., 2015).
A lavoura tem como objetivo a produção de grãos ou forragem para atender a demanda animal principalmente no período da seca, podendo ser usada como silagem ou outra forma de conservação de alimento (GONTIJO NETO et al., 2018).O valor nutricional e biológico do solo é beneficiado pelas culturas anuais diminuindo os custos com a adubação das pastagens e as árvores acabam se beneficiando dos fertilizantes usados na correção do solo. Dessa forma, as lavouras ajudam a diminuir os gastos com fertilizantes químicos nas áreas de pastagens e implantação de novas árvores.
A combinação da lavoura e o componente arbóreo pode trazer malefícios à lavoura se utilizado por mais de dois a três anos, pelo sombreamento proporcionado pela copa das árvores, para isso é importante a realização da desrama e desbaste das árvores periodicamente para que possa chegar luz solar na parte inferior das árvores, desta forma não interferindo no processo fotossintético das plantas (GONTIJO NETO et al., 2018).
As gramíneas mais usadas na iLPF são as do gênero Urochloa spp (Braquiárias) e Megathirsus spp (Panicuns), porém é necessário o manejo adequado para que não haja interferência do sombreamento sobre sua produtividade. As gramíneas proporcionam produção animal, através da produção de alimento para bovinos, caprinos e ovinos, auxiliam na reciclagem dos nutrientes e na formação da matéria orgânica formada sobre o solo, principalmente para sistemas de plantio direto.
O componente arbóreo é de grande importância como fonte de renda a longo prazo, além de proporcionar bem estar animal pelo efeito do sombreamento, atuar como conservante do solo e acessar nutrientes em maior profundidade por apresentarem raízes maiores comparadas às plantas de cultura anual. Outro benefício das árvores é sua atuação no sequestro de carbono e na mitigação dos gases de efeito estufa (GONTIJO NETO et al., 2018).
Primeiramente é necessário conhecer bem a área e realizar um diagnóstico da propriedade para poder se planejar bem, escolhendo assim o maquinário apropriado, os insumos corretos, a assistência técnica necessária, os recursos financeiros disponíveis, a mão de obra e adequar às condições climáticas da região. Com um bom diagnóstico é possível realizar a escolha das cultivares que mais se adaptam e poderão ser utilizadas na área. É necessária a realização da análise da qualidade do solo física e química, avaliando possíveis compactações e espessura do solo. O resultado dessa análise será útil para a recomendação do uso de calagem e/ou gessagem, no mínimo 60 dias antes da implantação, observando as exigências das plantas escolhidas para compor o sistema (GONTIJO NETO et al., 2018).
As árvores necessitam ser plantadas de forma transversal ao declive, em linhas e serão usadas como orientação para a implantação subsequente da pastagem e da lavoura(GONTIJO NETO et al., 2018). A escolha do componente arbóreo deve ser realizada perante um estudo de cenário de mercado local para auxiliar na comercialização e escolha do produto mais adequado à realidade da região. O planejamento arbóreo deve levar em consideração toda a propriedade onde está sendo implantado o sistema, dividindo-a em glebas onde serão introduzidos anualmente os sistemas integrados, podendo fornecer exploração florestal, pecuária e lavoura ao produtor rural. A escolha das espécies corretas a serem utilizadas no sistema de integração contribuem para o sucesso da produção.
Dentre as principais dificuldades na implantação estão a falta de informação tecnológica e a resistência a novas práticas, além disso por se tratar de um projeto cujo retorno financeiro ocorre a médio ou longo prazo, os produtores se sentem desmotivados em investir nesses sistemas (KICHEL et al., 2014). Outro ponto a ressaltar é a necessidade de investimento de capital financeiro para toda implantação do projeto, para compra de insumos, maquinário e principalmente mão de obra, que comumente não é especializada o que acaba sendo mais um desafio em toda a cadeia produtiva. A falta de mão de obra e de técnicos especializados para instruir um bom projeto diminui as chances de adoção de um sistema de iLPF, mesmo com os inúmeros benefícios que adviriam com o tempo.O Brasil apresenta grande defasagem de qualificação e dedicação de profissionais agrícolas, principalmente em nível superior (GONTIJO NETO et al., 2018; BEHLING et al., 2013).
Por se tratar de um projeto complexo, que engloba diversas áreas de atuação e atividades distintas também se torna um risco muito grande aos produtos, principalmente se o manejo for realizado de maneira incorreta, portanto o diagnóstico, planejamento e acompanhamento de um sistema iLPF deve ser feito por um profissional capacitado para garantir sucesso na adoção dessa nova tecnologia (KICHEL et al., 2014).
Para romper com essas limitações é recomendado que o sistema seja implantado na área de forma gradativa, começando por pequenos módulos até que se possa ampliar para áreas maiores, sempre procurando diversificar as culturas e atender as necessidades de mercado local, utilizando de forma estratégica os recursos já disponíveis pelo produtor sob a orientação de um técnico qualificado (BEHLING, 2013).
O sistema iLPF vem sendo estudado cada vez mais e garante aos produtores que já o adotaram grande eficiência de produção e sustentabilidade nos sistemas agrícolas, podendo ser aplicado a grandes, médias e pequenas propriedades rurais, garantindo produção o ano todo de forma diversificada, proporcionando ao produtor rural um aumento da renda líquida, principalmente com o componente florestal que pode ter diversos fins, como o comércio madeireiro ou matéria prima para investimentos na infraestrutura da própria propriedade. Diante disso, podemos citar alguns benefícios desse sistema, como melhoria da condição física, química e biológica do solo; diminuição do uso de agrotóxicos e maior controle de insetos e ervas daninhas; aumento da produção anual de grãos, carne e leite a um custo reduzido e diversificação de atividades em uma mesma área, diminuindo, dessa forma, a exploração de novas áreas, garantindo maior rentabilidade ao produtor e alimento durante todo o ano para os animais.
Referências Bibliográficas
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BALBINO, L. C.; CORDEIRO, L. A. M.; OLIVEIRA, P.; KLUTHCOUSKI, J.; GALERANI, P. R.; VILELA, L. Agricultura sustentável por meio da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Informações Agronômicas IPNI, n. 138, p. 1-18, jul. 2012.
BEHLING, M. et al. Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (iLPF). Boletim de Pesquisa de Soja, 2013/2014.
GONTIJO NETO, M. M. et al. Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF. Capítulo 5 Agricultura de baixo carbono: tecnologias e estratégias de implantação. Embrapa, p. 139 – 178, Brasília, DF, 2018. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/188658/1/ILPF.pdf> Acesso em: 08 de maio de 2021.
KICHEL, A.N.; ALMEIDA, R.G.; COSTA, J.A.A. Integração lavoura-pecuária-floresta e sustenta-bilidade na produção de soja. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 6, 2012, Cuiabá, MT. Anais… Cuiabá, MT: Embrapa; Aprosoja, 2012. p. 1-3. 1 CD-ROM.
KICHEL, A. N., DA COSTA, J. A. A., de ALMEIDA, R. G., & PAULINO, V. T. Sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPP)-experiência no Brasil. Boletim de Indústria Animal, v. 71, n. 1, p. 94-105, 2014.
KLUTHCOUSKI, J., CORDEIRO, L. A. M., VILELA, L., MARCHÃO, R. L., SALTON, J. C., MACEDO, M. C. M., … & MÜLLER, M. Conceitos e modalidades da estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: o produtor pergunta, a Embrapa responde. Brasília, DF: Embrapa, p. 21-33, 2015.
KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L. F.; AIDAR, H. (Ed.). Integração lavoura-pecuária. 21 ed. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. 570 p.
MACEDO, M. C. M. Integração lavoura-pecuária-floresta:alternativa de agricultura conservacionista para os diferentesbiomas brasileiros. In: Reunião Brasileira de Manejo eConservação do Solo e da Água, 18, 2010, Teresina. NovosCaminhos para Agricultura Conservacionista no Brasil: anais. Teresina: Embrapa Meio-Norte; UFPI, 2010. 34 p. 1CD-ROM.
Foto: Gabriel Resende