Por Sávio Freire Bruno e Maria Eduarda Peçanha
Introdução
De acordo com a região, o Martim-pescador-grande (Megaceryle torquata) é também conhecido como ariramba-grande, sacatrapa, matraca e caracaxá. Pertence à ordem Coraciiformes, e à família Alcedinidae. No Brasil, é a maior espécie da família: mede em torno de 42 centímetros e pesa de 305 a 341 gramas.
Distribuição geográfica
Habita do extremo sul dos Estados Unidos ao México e toda a América do Sul, com vasta distribuição no território brasileiro. Encontrado em habitats de água doce e em costas marinhas tropicais, em áreas abertas, rios e lagoas.
Características anatômicas
Os martins-pescadores em geral possuem o corpo atarracado, com uma cabeça robusta. O bico é grande, com porções de um amarelo fosco, principalmente em sua base inferior.
O martim-pescador-grande possui um conjunto diverso de cores: a cabeça e as partes superiores azuladas; na face (próximo aos olhos) possui a mancha loral branca; garganta e pescoço também são brancos e bem destacados, formando um colar.
No macho, o ventre e o peito são ferruginosos, e esta coloração contrasta com o branco de seu colar. O ventre ferruginoso contrasta igualmente com o branco da região do crisso (ao redor da cloaca). Branca também é a parte inferior de suas asas (Fig. 1).
Fig. 1: Martim-pescador-grande: os machos contrastam o peito ferruginoso com o colar branco da região da garganta, O branco também é visível no baixo abdome e todo o crisso. Pantanal, MS, 2018. Foto: Sávio Freire Bruno.
Já a fêmea possui o peito cinza azulado, e abaixo do peito uma faixa branca. O ventre, o baixo abdome, o crisso e a parte inferior das asas ferrugíneas (Fig. 2).
Fig. 2: Martim-pescador-grande, fêmea, destacando-se seu peito azulado. Pantanal, MS, 2018. Foto: Sávio Freire Bruno.
Os machos jovens se parecem com as fêmeas por apresentarem a faixa branca que corta o peito, e se diferenciam delas pela área ferrugínea do ventre (Brush, 2020), bem expandida e até os limites com as penas da cauda (retrizes) na fêmea, enquanto nos machos jovens, a área ferrugínea se estende normalmente até os limites com o crisso.
Hábito alimentar
Em ecossistemas nos quais as matas ciliares estão presentes, o martim-pescador-grande tem o hábito de pousar em um galho relativamente alto e tentar perceber os peixes que estão ao seu alcance de visão. Utilizando seu potente bico em mergulhos precisos, pode capturar, de acordo com Remsen (1991), peixes de até 20 cm.
Também observa suas presas pousado em pontos inusitados, como fios telefônicos e postes próximos à água. Muito paciente para aguardar sua presa, quando a localiza, mergulha com as asas dobradas ao longo do corpo e, quando submerso, usa suas asas como remos. Após capturar a presa, costuma retornar ao local de espera. Em determinadas condições, como ao investigar áreas desprovidas de pontos para pousar, podem pairar no ar, “peneirando”, um tipo de comportamento característico de algumas aves predadoras, que fixam sua visão na busca de eventuais presas, antes de se lançarem em sua direção.
Em períodos de chuva – onde as águas se tornam turvas, dificultando a visualização dos peixes – o martim-pescador-grande pode incluir insetos na sua dieta.
Jacson (2006) afirma que o martim-pescador-grande também se alimenta de pequenos répteis, batráquios e caranguejos.
Fig. 3: Martim-pescador-grande sobre um galho à beira de um córrego. Deste ponto, é capaz de identificar peixes próximos ao seu campo de visão. Pantanal, MS, 2023. Foto: Sávio Freire Bruno
Hábitos
Geralmente os martins-pescador-grandes são encontrados próximos a rios, córregos, lagunas, lagoas e açudes, manguezais e orla marítima. Não se adaptam a locais desprovidos de barrancos – ideais para a nidificação -, que tenham intensa turgidez na água ou com total ausência de poleiros próximos às margens (Remsen 1991).
Possuem um voo forte, com as batidas das asas ritmadas. Costumam voar próximos à água, e por vezes as pontas das asas chegam a tocar a superfície.
Reprodução
São animais solitários, exceto no período reprodutivo. Ao longo do ano, tanto os machos quanto as fêmeas defendem seu território. Sua voz penetrante é empregada tanto no comportamento reprodutivo quanto na defesa do território.
Machos e fêmeas participam da escavação do ninho em barrancos próximos à margem do curso d´água. O casal participa da incubação, dividindo tarefas e chegando a incubar 24h por cada turno. A troca das aves, segundo cada turno, ocorre no início da manhã. Uma das aves retorna ao ninho antes da saída do seu parceiro (Skutch ,1972).
Os ovos eclodem por volta do 22º dia. Os filhotes nascem nus, com a pele rosada e olhos fechados. Ficam emplumados cerca de 24 dias após a eclosão, e deixam o ninho em 35 a 38 dias (Skutch ,1972).
Principais ameaças
A qualidade da água, assim como a disponibilidade de locais de nidificação adequados, são essenciais para a sobrevivência e reprodução dos martins-pescadores. Logo, faz-se necessária a proteção das águas e das respectivas matas ciliares, ou seja, a proteção dos ecossistemas como um todo, garantindo a manutenção da biodiversidade. Essas aves são sensíveis a certas perturbações, e tendem a evitar áreas que são frequentadas por humanos, principalmente na reprodução.
É sabido que a alteração da dinâmica de rios decorrente da construção de barragens impacta diretamente sua biodiversidade, e para a avifauna não seria diferente. As espécies invasoras, tanto vegetais quanto animais, são também elencadas, entre tantas ameaças aos ambientes hídricos. Há de se ressaltar, igualmente, as diferentes formas de poluição, sejam físico-químicas ou orgânicas.
Referências bibliográficas:
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Wikiaves. Martim-pescador-grande (Megaceryle torquata). Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/martim-pescador-grande>. Acesso em: 12 abr. 2024.