Gabriel Antonio Rodrigues Lopes1, Isabelle Ferreira Macedo1, Ana Paula Lopes Marques2 e Clayton Bernardinelli Gitti2

1- Discentes da Liga de Bovinos da UFRRJ -LIBOVIS
2- Coordenadores da Liga de Bovinos da UFRRJ -LIBOVIS

INTRODUÇÃO

O ritmo de crescimento do agronegócio brasileiro e sua posição no cenário mundial têm chamado a atenção de vários países. Por exigir maior qualidade dos produtos adquiridos, ou por competitividade, ou mesmo por senso, os países começam a impor restrições socioambientais para a produção nacional. As práticas sustentáveis viraram tendência entre países importadores, sendo um dos motivos para a adoção de melhores práticas de produção pelo agronegócio brasileiro. (PEREIRA, 2011)

Diante disso, a marcação a fogo em bovinos, uma atividade utilizada há muito tempo e em grande parte do território nacional devido à sua eficiência e custo quando comparado a outras alternativas, tem sido um motivo de questionamento nos últimos anos. As marcações são utilizadas para a identificar a raça, o proprietário do animal, o indivíduo e a realização de certas práticas de manejo, como no caso da vacinação contra a brucelose.

FORMAS DE IDENTIFICAÇÃO

Identificação a fogo

De acordo com o ponto de vista do bem-estar animal, a marcação a fogo é desaconselhada, principalmente quando realizada em partes mais sensíveis do corpo do animal, como na cara. Todavia, seu uso é ainda muito frequente e muitas vezes obrigatório, como no caso de controle da brucelose (PARANHOS, 2014).

A lei N°4.714 de 29 de junho de 1965 delimita a área de marcação no animal e o tamanho máximo da marca. Os bovinos só poderão ser marcados a ferro na cara, no pescoço e nas áreas abaixo das articulações fêmuro-rótulo-tibial (joelho) e úmero-rádio-cubital (cotovelo), para evitar danificar o “grupon” (área que mais se utiliza na indústria do couro). Ficando também proibido o uso de marca que não possa caber em círculo de onze centímetros de diâmetro (0,11 m).

Já o artigo 12º da Instrução Normativa Nº10 de 3 de março de 2017, obriga a marcação das fêmeas vacinadas entre três e oito meses de idade, utilizando-se ferro candente ou nitrogênio líquido, no lado esquerdo da cara. Sendo que as fêmeas vacinadas com a vacina B19 deverão ser marcadas com o algarismo final do ano de vacinação. E as fêmeas vacinadas com a amostra RB51 deverão ser marcadas com um V.

Tatuagem

A tatuagem é um método de marcação permanente e de fácil utilização. Normalmente é uso combinado com outros métodos por conta da sua difícil leitura e visualização, necessitando de contenção.

Para ser realizado precisa-se de uma ferramenta chamada tatuador, que nada mais é do que um alicate, onde, de um lado é composto por um material emborrachado e do outro alfinetes em formato de número para tatuar a pele da orelha do animal. Por isso é considerado um procedimento que causa dor e nem sempre marca adequadamente devido à má higienização da pele da orelha e pela qualidade da tinta utilizada (LOPES & SANTOS, 2007; SCHMIDEK ET AL., 2009).

Brincos

Os brincos são a melhor forma de marcação dos animais em relação à visibilidade. O custo é relativamente baixo e seu uso é de baixa dificuldade. Existe uma variedade de cores e formatos e meios de utilização, como o brinco macho e fêmea, que possui marcações da frente e atrás da orelha. Os procedimentos de aplicação desse método são bem simples, tendo apenas que furar a orelha em sua região central entre as nervuras evitando que fiquem frouxos, permitindo que os brincos girem livremente enquanto fixados na orelha.
Dentre as falhas, a má contenção do animal ou erros na hora da aplicação são os principais responsáveis por perdas da ferramenta e de má cicatrização.

Identificação Eletrônica

Essa técnica é baseada em um equipamento eletrônico, também conhecido como transpônder, fixado no animal que é capaz de integrar as informações mais relevantes naquele manejo para um aparelho eletrônico que faz a leitura do código para outro aparelho. É uma técnica muito eficiente e inovadora que supera os métodos tradicionais em relação à capacidade de gerar informações instantaneamente, sendo também mais seguro e confiável, garantindo mais eficiência e controle do manejo (SILVA, 2007; GIMENEZ, 2015).

Esses transpônderes são considerados passivos, não exigindo fontes de energia para funcionar, somente ondas eletromagnéticas (MACHADO E NANTES, 2000). Dentre as possibilidades de utilização para otimização do manejo, estão o controle de vacinação, dietas individuais, suplementação animal, dados de registro de raça e muitas outras funcionalidades num único aparelho (SILVA, 2007).

Sendo um dispositivo que também precisa ser implantado no animal, todos os cuidados de higiene e biosseguridade são necessários, além de serem exigidamente biocompatíveis, não podem deixar resíduos na carne e no leite, não podem migrar no corpo do animal, devem ser de fácil recuperação após o abate (locais como fundo de saco e estômago) e devem ser lidos por qualquer leitor, independente de marca e modelo.

Para o gado de leite há a possibilidade de implantação do aparelho num colar e também a “bolus intra-ruminal”, bolinhas de porcelana com alumínio depositadas no retículo do animal, favorecendo o controle e contribuindo para uma Zootecnia de Precisão (SILVA, 2007).

Identificação Biométrica

É um dos métodos de marcação mais seguros dentre as demais técnicas, uma vez que todas as outras são susceptíveis a perdas, danos, fraudes e causa de algum sofrimento aos animais. Com os avanços nas tecnologias, as técnicas biométricas ganharam forma na identificação por meio de imagem de retina, íris, DNA e espelho nasal, características que possuem padrão único em cada indivíduo (GIMENEZ, 2015).

Rastreabilidade

Rastreabilidade é um método de controle de origem de animais do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), também conhecido como SISBOV (Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos) que monitora o animal desde o nascimento até o produto final, a fim de garantir uma carne de qualidade e origem conhecida para mercados que exigem essa rastreabilidade (SILVA, 2004). As propriedades que optarem por esse registro, precisam cumprir uma série de requisitos e a identificação do animal será com a numeração única de 15 dígitos do SISBOV, fixada em um brinco que seguirá com animal mesmo em caso de venda do mesmo (SISBOV, 2006).

A principal desvantagem dessa metodologia são as dificuldades de implantação, uma vez que necessita de boa estrutura para contenção dos animais e de mão de obra qualificada para estar atenta as possíveis falhas e perdas dos brincos durante e após a implantação (REDIVO ET AL., 2012).

CONCLUSÃO

Dos vários sistemas de identificação e marcação animal temos a tatuagem no pavilhão auricular, marcações com ferro quente e os brincos, sendo as técnicas mais baratas, práticas e as mais populares. Porém as especificidades de cada rebanho, cada manejo e as demandas de cada sistema de produção vão ser balizadores na escolha da melhor forma de identificação, buscando sempre o controle dos dados, a identificação e redução dos custos.

Todas as técnicas possuem vantagens e desvantagens podendo considerar principais preocupações a serem levadas em consideração: o bem-estar animal e o prejuízo da danificação do couro na marcação com fogo; as perdas anuais dos brincos gerando custos e falhas na rastreabilidade do rebanho; o custo elevado de aquisição de aparelhos transpônderes individuais e a sua implantação nas propriedades.

Por isso, seja para cumprir a lei, para fins organizacionais ou para traçar estratégias de manejo, a identificação animal tem papel importantíssimo e muitas vezes negligenciado na rotina das fazendas, podendo trazer a redução de perdas, eficiência dos controles zootécnicos e assegurar a procedência de um produto na prateleira dos consumidores, sendo uma ferramenta fundamental na produção animal e nas ações de defesa sanitária animal pelos órgãos competentes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. IN SDA n° 10, de 3 de março de 2017: Estabelece o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal. Disponível em: https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/legislacoes/instrucao-normativa-sda-n-10-de-3-de-marco-de-2017,1138.html. Acesso em: 7 nov. 2021.
BRASIL. Lei n° 4.714, de 29 de junho de 1965: Modifica legislação anterior sobre o uso da marca a fogo no gado bovino. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.brlsislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar8tid = 89. Acesso em: 7 nov. 2021.
GIMENEZ, C. M. Identificação Biométrica de Bovinos Utilizando Imagens do
Espelho Nasal. 2015. 114 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2015.

LOPES, M. A.; SANTOS, G. Custo da implantação da rastreabilidade em bovinocultura utilizando os diferentes métodos de identificação permitidos pelo SISBOV. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 4, p. 657-664, out./dez. 2007.

MACHADO, J. G. C. F.; NANTES, J. F. D. Utilização da identificação eletrônica de animais e da rastreabilidade na gestão da produção da carne bovina. Nota técnica.
Revista Brasileira de Agroinformática, v.3, n.1, p.41-50, 2000.

PEREIRA, Vinícius Valim; MANGUALDE, Rebeca Morato; SBRISSIA, Gustavo Fischer. Práticas sustentáveis na bovinocultura de corte brasileira. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável, 2011.
REDIVO, A.; SORNBERGER, G. P.; LIMA, D. C. M.; REDIVO, A. R. O uso da rastreabilidade e certificação na produção de bovinos de corte: um estudo de caso. XXXII Encontro nacional de engenharia de produção. Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção. Bento Gonçalves, RS, 2012.
SCHMIDEK, ANITA SCHMIDEK. Boas práticas de manejo: identificação. 2009.
SILVA, I. J. O. A Rastreabilidade de Produtos Agropecuários do Brasil – Curso de
Rastreabilidade. NUPEA/ESALQ-USP. Simpósio de Construções rurais e Ambiência
(SIMCRA), Campina Grande, 40 p. 2004.
SILVA, I. J. O. Contribuições à zootecnia de precisão na produção industrial de aves e suínos no Brasil. ESALQ. Piracicaba. SP. 140 p. 2007.

SISBOV. Cartilha do novo Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de
Bovinos e Bubalinos. Brasília, 20 p. 2006.