Piauí se destaca como um dos maiores produtores do País
O mel orgânico é caracterizado por ser aquele cuja técnica de produção segue normas que visam garantir que o produto esteja livre de qualquer tipo de contaminação de agrotóxicos ou antibióticos – normalmente utilizados na produção de frutas.
“É importante ressaltar que a certificação orgânica é uma certificação de processo, e não de produto. Ou seja, não necessariamente você precisa apresentar o produto livre de agrotóxicos, mas sim garantir que o processo de produção foi seguido à risca”, explica o presidente da Associação Brasileira dos Entrepostos e Exportadores de Produtos Apícolas (ABEMEL), Renato Azevedo.
Conforme comenta o especialista, atualmente, para que o produtor consiga produzir mel orgânico, ele precisa garantir uma série de requisitos, como, por exemplo, assegurar que num raio de 4km não exista produção de outra cultura que utilize agrotóxicos (visto que a abelha pode ir numa plantação de laranja que se utiliza de defensivos agrícolas e acabar levando esse defensivo para o mel que vier a produzir), ter posicionamento georreferenciado das colmeias, garantir que as caixas foram produzidas com madeira certificada, etc.
“Cumprindo com as exigências, o apicultor consegue a certificação. É evidente que se espera, seguindo todas as exigências, que o mel venha livre de defensivos ou antibióticos – e normalmente é isso que ocorre. No entanto, a conferência da qualidade do produto depende do produtor e/ou seu cliente. Habitualmente, quem adquire lotes de mel orgânico sempre pede os laudos de presença dessas substâncias”, alerta Azevedo.
Produção nacional
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Foto: Shutterstock
De acordo com o executivo, a produção de mel no Brasil é auditada pela Pesquisa da Pecuária Municipal, realizada pelo IBGE, cujos resultados são publicados sempre entre setembro e outubro do ano seguinte à produção. “Ou seja, em meados de setembro/outubro teremos a produção de mel referente ao ano de 2023. Portanto, até o presente momento temos as informações atualizadas até 2022”, ressalta.
Em 2022, segundo levantamento, o Piauí foi o 3º maior produtor de mel do Brasil, com 8.322 toneladas de mel (que representam 13,7% da produção nacional). Na frente do Piauí destacaram-se Rio Grande do Sul e Paraná, com 9.014t (14,8%) e 8.638t (14,2% da produção nacional), respectivamente.
Azevedo informa que, quando analisado um período maior, de 2018 a 2022, o Piauí ficou também como 3º colocado, mas com 12,1% da produção. A representatividade do Piauí na produção nacional tem crescido ano após ano: 2018 – 5.225t (12,3%); 2019 – 5.024t (10,9%); 2020 – 5.673t (11,0%); 2021 – 6.876t (12,3%); 2022 – 8.322t (13,7%).
“O Piauí é notadamente reconhecido pela produção de mel orgânico. Infelizmente, não há uma diferenciação fiscal ou de NCM entre mel convencional e orgânico, de modo que não temos como segmentar quanto dessa produção é convencional e quanto é orgânica. Entretanto, quem atua no mercado sabe que o estado é tradicional fornecedor de mel orgânico”, argumenta Azevedo.
Tipos de abelhas e diferentes coloração do mel
Habitualmente, a espécie mais utilizada na produção do mel é a abelha APIS, considerada uma espécie africanizada por ser uma mistura entre a abelha europeia e a africana, única do Brasil. Entretanto, de alguns anos para cá, tem aumentado a criação de abelhas sem ferrão, as abelhas nativas. Entre elas, a Jataí e a Mandaçaia.
“No entanto, dentro do volume produzido pela APIS (que é grande produtora de mel), as abelhas nativas são quase que um nicho. Enquanto uma caixa de APIS produz algo em torno de 60 a 80kg/ano, a mesma caixa de abelha nativa produz menos de 10% disso”, destaca Azevedo.
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Abelha sem ferrão. Foto: Pixabay
Já em relação à produção de méis de cores e sabores diferentes, além de valores também diferentes, o executivo comenta que a variação de cores e sabores está diretamente ligada ao pólen de onde a abelha está. “Para a produção do mel, a abelha vai até as flores, coleta o pólen, leva até a colmeia, e produz o mel. O mel traz traços do pólen da flor que a abelha coletou, e é esse pólen o grande responsável pela variação de cores e sabores do mel”, detalha.
Segundo ele, a produção de mel no Piauí é a soma dos muitos pequenos produtores familiares, uma vez que a apicultura brasileira tem o perfil de ser produzida por pequenos apicultores, e o Estado é um exemplo nítido desse perfil, que é comum em todo o país.
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Abelha colhendo pólen. Foto: Pixabay
Exportação, destinos e consumo interno
Na questão do volume e valor das exportações anuais (ou mensais) de mel do Piauí, Azevedo conta que o Estado é um dos grandes exportadores nacionais do produto. Dados do ComexStat, do MDIC mostram que, em 2023, o Piauí exportou 10.123 t de mel, equivalente a 35,4% da exportação brasileira.
Dentre os países que são grandes consumidores de mel de abelha brasileiro, Azevedo conta que o principal deles é os EUA. Ele cita que, tradicionalmente, cerca de 70% a 80% das nossas exportações vão para o mercado americano.
“Já o consumo per capita no Brasil, é medido de forma indireta, visto que não temos auditoria desse mercado por aqui. Sendo assim, fazemos da seguinte forma: Consumo interno = Produção Nacional + Importação – Exportação”, explica o executivo.
Tradicionalmente, conforme relata, o Brasil não importa mel. Isso significa que o consumo nacional é dado pela produção, menos a exportação. Seguindo esse raciocínio, o consumo anual per capta foi de aproximadamente 112g em 2022, e entre 27g e 64g entre 2018 e 2021 (variando esse número de acordo com as exportações).
“Se seguirmos essa lógica, os EUA têm um consumo per capta de mais de 500g por ano. Em outras palavras, não temos hábito de consumir mel, infelizmente. O consumo de mel no Brasil está muito associado ao uso medicinal (quando temos dor de garganta, por exemplo), enquanto nos EUA o mel está na mesa do café da manhã”, complementa.
A importância do mel como alimento
Na avaliação de Azevedo, são inúmeros os benefícios do uso do mel, pois além de ser um adoçante natural, ele possui diversas características antibióticas e anti-inflamatórias, também é fonte de diversas vitaminas e minerais, boa fonte de antioxidantes, etc.
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Foto: Wirakorn Deelert _ Shutterstock
Por fim, ele alerta sobre por quais motivos as crianças pequenas não devem consumir mel de abelha. “O mel, quando não adequadamente processado e controlado, e a depender de como e onde foi produzido, pode conter a bactéria Clostridium botulinum, que causa botulismo. Por conta disso, o Ministério da Agricultura recomenda que não seja consumido por crianças menores de 1 ano”, finaliza o executivo.