Cientistas agrícolas da Austrália e especialistas de TI estão testando novas tecnologias para ajudar os criadores de gado e outros pecuaristas a entenderem melhor e gerenciar suas grandes fazendas com apenas o clique de um mouse ou o toque de um botão no seu telefone.

A tecnologia é considerada vital para o futuro da agricultura na Austrália especialmente para os criadores de gado, que estão constantemente procurando maneiras de melhorarem a produtividade e a rentabilidade, após uma década de preços estáticos e aumentos significativos nos custos de produção.

A Austrália é um país enorme, apenas atrás do Brasil em termos de tamanho, mas tem uma população pequena de 23 milhões de pessoas (equivalente a pouco mais de 10 por cento da população do Brasil), e o problema de escassez de água é uma preocupação constante na maior parte do país.

No entanto, em mais da metade de sua massa territorial (61% ou mais de 417 milhões de hectares) são cultivadas lavouras, pastagens ou florestas. Fazendeiros australianos produzem 93 por cento do abastecimento alimentar do país e 60 por cento da exportação nacional. Como no Brasil, o setor agrícola australiano é um elemento-chave na economia do país, com as exportações agrícolas superiores a 32.000 milhões de dólares no ano passado.

Portanto, é só um pequeno número de agricultores na Austrália que controla grandes extensões de terra, que contribui para o abastecimento alimentar australiano e enriquece o país. Eles são os gerentes vitais do ambiente.

Gado com o colar sem fio. Imagem: Organização para Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth

Este é certamente o caso quando se trata da produção de gado.

Todos os dias, pecuaristas ao longo do dia, do nascer ao pôr do sol gastam muito de seu tempo rastreando e observando o gado e tomando decisões com base no que eles viram com os próprios olhos. Será que os animais precisam ser movidos para novas pastagens, quais são os níveis de armazenamento de água, como as vacas ganham peso, será que o gado está pronto para o mercado e será que está em boas condições?

Embora possa parecer bastante simples, o próprio ato de observar o rebanho pode ser uma tarefa dispendiosa e difícil em várias partes da Austrália.

Stephen Andersen, por exemplo, é o gerente da Estação de pesquisa de carne ‘Spyglass’, do Departamento de Agricultura, Pesca e Silvicultura de Queensland (QDAFF) em Charters Towers. A estação tem um pouco menos de 40 mil hectares (100.000 acres), o que é bastante espaço para que as 3.500 cabeças de gado possam se espalhar. Computar, por alto, quantos destes animais estão no local nem sempre é tão simples quanto parece.

Muitas vezes, Stephen usa um helicóptero para localizar, monitorar, avaliar e reunir o gado. Isto custa mais de US$ 375 por hora. Outro custo no tempo e nas finanças de Stephen é a verificação dos níveis do tanque de água da estação. Stephen leva uma hora e meia de carro até os principais reservatórios de água da propriedade, que mantêm cinco bebedouros em três pastagens. Isto resulta em uma viagem de quatro horas.

São nestas áreas onde pesquisadores australianos acreditam que a ciência e a inovação podem desempenhar um papel crucial na fazenda e nas decisões ambientais.

Uma nova pesquisa da agência nacional de ciência da Austrália, a Commonwealth Scientific e Industrial Research Organisation (CSIRO), apoiada pela James Cook University, pelo Departamento de Agricultura, Pescas e Florestas de Queensland (QDAFF) e pela Universidade de Tecnologia de Queensland irá ajudar a mudar a maneira como pecuaristas de todo o país obtêm as informações e tomam decisões, tudo sem sair de casa.

A era digital agora oferece “olhos” que não dormem e com a capacidade de realizar tarefas que atualmente demoram para serem realizadas por seres humanos.

Na vanguarda dessas tecnologias está o “Homestead Digital ‘uma plataforma ou painel online, em fase de teste, que permitirá que os pecuaristas tenham em suas mãos um conjunto de informações sobre os seus bens e valores, bem como as previsões meteorológicas e ambientais, os preços das commodities e os mercados nacionais e internacionais.

Imagine as possibilidades. Câmeras nos tanques de água poderiam transmitir imagens ao vivo para o painel. Então, ao invés de Stephen passar quatro horas para desempenhar tal tarefa, a operação levaria apenas quatro minutos.

Stephen também seria capaz de saber a localização por GPS de cada animal através de coleiras eletrônicas, bem como o seu comportamento, peso atual e condição através do equipamento de varredura localizado nos troncos de contenção. Ele também seria capaz de acessar aos dados via satélite para determinar a qualidade da alimentação em diferentes pastagens.

“A informação é crucial”, diz Stephen, “se você pode tomar decisões de gestão sobre seus animais com base em informações que são atualizadas e precisas, salvando incontáveis horas e enormes despesas…”.

Uma das tecnologias em fase de teste é um colar sem fio à base de energia solar para o gado, que reúne informações como a localização atual do animal, bem como o seu comportamento; se o gado está caminhando, comendo, dormindo ou ruminando.

Dave Henry, Líder do Projeto CSIRO para o Homestead Digital

“Esse tipo de informação é vital para a tomada de decisões do pecuarista sobre o fornecimento de alimentos, gestão ambiental e preparação para o mercado”, disse Dave Henry, Líder do Projeto CSIRO para o Homestead Digital.

“Os diferentes fluxos de informação que estamos agregando – provenientes às vezes de milhares de quilômetros de distância podem ajudar a fazer com que fazendas sejam mais produtivas, rentáveis e ambientalmente amigáveis, bem como fornecer suporte relacionado e serviços sociais aos moradores rurais.”

Outros instrumentos tecnológicos em fase de teste pelo CSIRO são dispositivos de imagem a laser e equipamentos de imagem estéreos ambos os quais verificam automaticamente se um animal vem por meio dos apartadouros, proporcionando uma imagem tridimensional que pode ser capaz de estimar a condição do animal. Com as marcas auriculares eletrônicas, é possível identificar cada animal individualmente, fornecendo, assim, um conjunto abrangente de informações para os pecuaristas.

Se adicionarmos esta informação ao peso do animal, que também é medido, uma vez que ele se aproxima da plataforma para pesagem, o fazendeiro tem um quadro preciso dos componentes-chave de sua carne bovina.

Dr. Dave disse: “Os pecuaristas já são capazes de obter algumas dessas informações por conta própria, mas não tão facilmente e não com tanta precisão e, certamente, não a partir de um só local. A verdadeira inovação aqui é a integração desses sistemas inteligentes, que permitem que os pecuaristas tomem decisões rápidas e baseadas em dados fornecidos em tempo real”.

Para a indústria de carne bovina australiana sobreviver e prosperar, ela precisa ser sustentável econômica e ambientalmente. Fazendeiros australianos estão se voltando para tecnologias como o “Digital Homestead” para garantir o ganho de peso contínuo do gado por meio do acesso constante desses animais à água limpa e melhor qualidade de pastagens.