São conhecidos popularmente por “morcegos-vampiros” as espécies de morcegos hematófagos, ou seja, aquelas se alimentam exclusivamente de sangue. Devido ao hábito alimentar diferenciado que possuem  são por vezes temidos e vistos negativamente pelas pessoas, sendo ainda relacionados a uma série de lendas e mitos.

Das 178 espécies de morcego descritas no Brasil, apenas três são hematófagas, sendo elas Desmodus rotundus, Dhiphylla ecaudata e Diaemus youngii, que pertencem à Família Phyllostomidae e Subfamília Desmodontinae. Além da hematofagia, os integrantes desta subfamília possuem como característica comum a presença de um apêndice nasal pouco desenvolvido no focinho, em formato de ferradura e polegares bem desenvolvidos.

Desmodus rotundus, conhecido como o morcego-vampiro-comum, possui porte médio, envergadura (maior distância entre as pontas das asas) variando de 35 a 40 cm, pesando aproximadamente 29g. Seu corpo robusto é coberto por pelos curtos e macios, com coloração variando de acastanhada a cinzenta, apresentando a região ventral mais clara que a região dorsal. Notam-se características morfológicas relacionadas ao seu hábito alimentar hematófago, como focinho maciço, rostro (projeção da face) reduzido, dentes caninos e incisivos grandes e afiados e lábio inferior fendido. Observa-se ausência de cauda e membrana reduzida entre as patas traseiras. Nesta espécie, o macho costuma ser menor que as fêmeas.

Suas populações se distribuem por toda a região tropical das Américas, com ocorrência do México ao norte da Argentina, ocupando áreas de floresta úmida, cerrado, campos e regiões áridas. Habitam ambientes naturais como cavernas, troncos de árvores, áreas rochosas, mas também se adaptam a ambientes artificiais, como as edificações humanas.

De acordo com a International Union for Conservation of Nature (IUCN), a espécie está classificada no status de ameaça pouco preocupante (LC).

São animais de hábito gregrário, formando colônias com cerca de 20 a 100 indivíduos machos e fêmeas, podendo chegar até 2000 animais, dependendo da oferta de alimento e das condições climáticas da área onde vivem. Nas colônias observa-se o comportamento social de limpeza e partilha de alimento.

Alguns estudos indicam que as colônias de D. rotundus consistem principalmente em grandes grupos compostos por fêmeas e seus filhotes, protegidos por um macho alfa; além de pequenos grupos que se reúnem nas proximidades, compostos predominantemente por outros machos que tentam tomar o lugar do macho alfa.

Reproduzem-se durante todo o ano, havendo indícios de que a maior incidência de nascimentos de filhotes ocorra nos meses mais quentes e úmidos. A gestação dura cerca de 7 meses, produzindo apenas um filhote por vez. Os filhotes começam a se alimentar de sangue a partir dos 2 meses de idade, através do regurgito da mãe, com quem permanecem até 5 meses, quando atingem total independência. A maturidade sexual é alcançada em torno de 9 a 10 meses após o nascimento.

Para localizar suas presas, morcegos-vampiros, assim como as demais espécies de morcegos, recorrem a ecolocalização e visão, além de percepções olfativas e auditivas.  A ecolocalização consiste na emissão de ondas de altíssima frequência, pela boca ou pelas narinas, que ao atingirem um objeto, são refletidos em forma de ecos e captados pelos ouvidos do animal, permitindo a identificação do ambiente que os circunda.

A alimentação é realizada por meio de uma pequena incisão superficial feita na pele das presas, com auxílio dos dentes incisivos extremamente afiados. Através da incisão, o morcego se alimenta por meio de lambedura do sangue liberado pela ferida, o qual não coagula devido à ação de enzimas anticoagulantes presentes na saliva do morcego. As orelhas, dedos e extremidades das presas são os locais mais utilizados na alimentação, devido ao acesso fácil e percepção mais reduzida. Durante uma noite podem ser ingeridos até 30 mL de sangue a cada alimentação.

Diferentemente de outras espécies de morcegos, o deslocamento de D. rotundus inclui movimentos terrestres com postura quadrúpede, importante na perseguição e ataque a suas presas, podendo andar, correr e saltar. Quando o animal se aproxima de suas presas, não pousa diretamente, mas sim bem próximo, se deslocando até ela, onde sobe lentamente e seleciona o local onde fará a alimentação. O movimento de saltar é também utilizado pelo morcego, como uma forma de fuga e para iniciar o voo, principalmente após o término de uma alimentação, sendo a única espécie capaz de iniciar o voo a partir de uma superfície horizontal.

Assim como as espécies D. ecaudata e D. youngi, D. rotundus pode se alimentar do sangue de aves, porém também ataca mamíferos, preferencialmente animais de grande porte, como os bovinos e equinos. Por conta desta preferência, ataques a rebanhos podem gerar importantes problemas sanitários e econômicos, como a transmissão da raiva a estes animais. Desta forma, D. rotundus é considerado o principal transmissor da raiva para bovinos e equinos, o que ocorre durante sua alimentação. Por este motivo, a vacinação dos rebanhos representa uma importante medida preventiva, uma vez que a raiva é uma enfermidade grave, com alta taxa de mortalidade.

É fundamental esclarecer, no entanto, que ataques a seres humanos são muito raros, estando relacionados a locais onde há carência de outras formas de alimentação. Ainda é importante destacar que espécies de morcegos de hábito não hematófago, quando infectados pelo vírus da raiva, são também capazes de transmiti-la através da mordida a outros animais, incluindo o homem, no entanto é um evento de ocorrência rara. Quando necessário, programas para o controle das populações de D. rotundus são realizados, com a finalidade de reduzir a ocorrência e controlar a raiva em determinada localidade.

Morcegos-vampiro possuem grande importância no ecossistema. Fezes (denominadas guano) deixadas por estes animais são uma importante fonte de nutrientes para pequenos invertebrados residentes no interior de cavernas, que por sua vez são alimento para outros animais, colaborando com a manutenção das cadeias alimentares em um local pobre em oferta de nutriente. Estas fezes também podem ser utilizadas como fertilizantes para outros fins. Estudos também tem sido realizados para pesquisar se substâncias anticoagulantes presentes na saliva destes morcego podem ter aplicação terapêutica.

Fotos: Fábio Azevedo Khaled Abdel Rahman

Summary: Wild Animals – Vampire bat.  For more information contact: aline.sustentabilidade@gmail.com.