Por Sávio Freire Bruno* e Karina Rodrigues Cordeiro**

Introdução

O falcão-de-coleira (Falco femoralis) é uma ave de rapina da ordem Falconiforme e da família Falconidae, de porte médio, e seu corpo apresenta proporções adaptadas à caça em voo rápido. Possui asas longas e pontiagudas e cauda proporcionalmente comprida, características que favorecem manobras ágeis durante perseguições aéreas (Del Hoyo, 1994).

Distribuição Geográfica

Este falcão possui uma ampla distribuição, indo desde o sudeste dos Estados Unidos até a Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina. É residente na maior parte do território brasileiro, sendo dificilmente encontrado na porção amazônica do país (Granzinolli, 2002). É uma ave campestre que habita áreas abertas como cerrado, campos, várzeas e também zonas urbanas. Nas áreas urbanas onde reside, frequentemente pousa sobre postes, fios de eletricidade e bordas de edifícios.

Características Anatômicas

O Falco femoralis apresenta dimorfismo sexual em relação ao tamanho dos exemplares, ou seja, nesta espécie as fêmeas são maiores que os machos, o que é muito comum entre aves de rapina. O macho desta espécie pesa entre 208g e 334g e mede entre 35cm e 37cm; já a fêmea pesa entre 310g e 500g e mede entre 44cm e 45cm (Favretto, 2021).

Possui uma aparência leve e alongada. Em relação à plumagem, o indivíduo adulto exibe coloração cinza-escuro nas partes superiores, abrangendo coroa e nuca, e também nas listras malares, que partem dos olhos para baixo. Na face, possui faixas brancas supra-oculares que se unem na nuca. Exibe bochechas, peito e garganta também na tonalidade branca (Fig.1). O dorso, parte superior das asas e a escápula são de cor cinza-azulado, e a cauda é preta com listras brancas (Fig. 2), padrão que se repete na parte de dentro de suas asas. O ventre se apresenta nas cores cinza-azulado e laranja desbotado (Fig. 1). O bico é cinza-escuro com cere amarela. Os olhos são marrom-escuros com anel periocular amarelo, e os tarsos e pés são amarelo-alaranjado (Keddy-Hector; Pyle; Patten, 2020).

O falcão-de-coleira jovem apresenta nas partes superiores – onde no adulto a coloração é branca – uma cor castanho-claro com um tom canela (Keddy-Hector; Pyle; Patten, 2020). O dorso, parte superior das asas e a escápula se exibem na cor cinza escuro com um fundo castanho. A cere e o anel periocular são cinza desbotado.

Fig.1: Falcão-de-coleira adulto e sua plumagem característica. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, setembro de 2024. Foto: Sávio Freire Bruno

Hábitos Alimentares

É uma ave de rapina que observa as suas presas a partir de galhos de árvores ou outros poleiros, em locais altos ou baixos. Sua dieta consiste de aves, insetos como besouros, pequenos vertebrados como morcegos, lagartos, aves, roedores e ocasionalmente serpentes (Favretto, 2021). Também caça nas fronteiras de incêndios florestais, predando animais que estão fugindo da fumaça (ICMBio, 2008).

Entre as estratégias de caça adotadas pelo falcão-de-coleira, é relativamente frequente a aproximação ao lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), no intuito de capturar presas (Silveira et. al., 1997) que eventualmente escapem das investidas do lobo (Fig. 3). De acordo com Nascimento e Menq (2016), é possível observar relações interespecíficas semelhantes entre o falcão, as seriemas (Cariama cristata) e as emas (Rhea americana), nas quais a ave de rapina se aproveita do deslocamento dessas espécies, que acabam espantando insetos e facilitando sua captura.

Fig.2: As partes superiores das asas e a escápula do falcão-de-coleira são cinza-azulado, e a calda tem listras pretas e brancas. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, setembro de 2024. Foto: Sávio Freire Bruno.

Comportamento Reprodutivo

Em sua maioria, as aves desta espécie se utilizam de ninhos abandonados de outras espécies para fazer a postura dos seus ovos. Geralmente, enquanto a fêmea choca os ovos e protege o ninho, o macho fica responsável por prover alimento. Esta dinâmica se mantém mesmo após a eclosão dos ovos. A reprodução ocorre geralmente no final da estação seca e início da chuvosa, entre agosto e setembro, com ninhadas com média de três ovos (Granzinolli et al., 2002).

Fig. 3 – Pousado sobre um arbusto, o falcão-de-coleira observa o lobo-guará na sua movimentação em busca de uma presa. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, fevereiro de 2023. Foto: Sávio Freire Bruno.

Principais Ameaças

O falcão-de-coleira não consta na lista oficial de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção (MMA, 2022). Na lista vermelha da IUCN (2018), está categorizado como menos preocupante (LC). Apesar disso, no Brasil o Falco femoralis sofre com a caça indiscriminada e com a perda de habitat. Dados relacionando atropelamento de fauna e o falcão-de-coleira ainda são pouco conhecidos. De acordo com o ICMBio (2008), o falcão-de-coleira tem sido ameaçado pela degradação de seu habitat natural, a exemplo do Cerrado, devido à intensa pressão para a expansão da fronteira agropecuária, com enfoque nas culturas de soja e milho (ICMBio, 2008) e outras monoculturas extensivas.

Referências bibliográficas

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DEL HOYO, J.; ELLIOTT, A.; SARGATAL, J. (orgs.). Handbook of the Birds of the World: New World Vultures to Guineafowl. v. 2. Barcelona: Lynx Edicions, 1994.

FAVRETTO, M. A. Aves do Brasil. v. 1: Rheiformes a Psittaciformes. Florianópolis: Clube de Autores, 2021.

GRANZINOLLI, M. A. M. et al. Reprodução do falcão-de-coleira Falco femoralis Temminck, 1822 (Falconiformes: Falconidae) no município de Juiz de Fora, sudeste do Brasil. Biota Neotropica, v. 2, n. 2, p. 1–6, 2002.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Coordenação-Geral de Espécies Ameaçadas. Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina. Brasília: ICMBio, 2008. 136 p. (Série Espécies Ameaçadas, 5).

KEDDY-HECTOR, D. P.; PYLE, P.; PATTEN, M. A. Aplomado Falcon (Falco femoralis). In: BILLERMAN, S. M. et al. (orgs.). Birds of the World. Ithaca: Cornell Lab of Ornithology, 2020.

NASCIMENTO, J. M.; MENQ, W. Associação de forrageio entre o falcão-de-coleira (Falco femoralis) e aves terrícolas em áreas de pastagem no centro-oeste do Brasil. Atualidades Ornitológicas, n. 192, p. 24–25, 2016.

Silveira, L.F.; Lopes, E.V.; Costa, T.V.V. 2025. Falco femoralis. Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade – SALVE – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Disponível em: https://salve.icmbio.gov.br Digital Object Identifier (DOI): https://doi.org/10.37002/salve.ficha.29823.2 – Acesso em: 11 de set. de 2025.

SILVEIRA, L.; JÁCOMO, A. T. A.; RODRIGUES, F. H. G.; CRAWSHAW, P. G. JR. Hunting association between the Aplomado Falcon (Falco femoralis) and the Maned Wolf (Chrysocyon brachyurus) in Emas National Park, Central Brazil. The Condor, v. 99, n. 1, art. 25, 1997. Disponível em: https://digitalcommons.usf.edu/condor/vol99/iss1/25. Acesso em: 22 out. 2025.

WIKIAVES – A Enciclopédia das Aves do Brasil. Falcão-de-coleira (Falco femoralis). Disponível em: https://www.wikiaves.com.br/wiki/falcao-de-coleira. Acesso em: 21 out. 2025.

 

*Sávio Freire Bruno é Professor Titular do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense; Colaborador do Curso de Ciências Biológicas e do Curso de Ciência Ambiental (UFF). Professor do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Biossistemas (UFF).
**Karina Rodrigues Cordeiro é Acadêmica do Curso de Ciência Ambiental, Universidade Federal Fluminense.
Revisão de texto: Eduardo Sánchez.
Foto de capa: Falcão-de-coleira (Falco femoralis). Por Sávio Freire Bruno. Parque Nacional da Serra da Canastra, MG, fevereiro de 2023.