O segmento equestre é um mundo como qualquer mundo de qualquer negócio específico. Tem suas características próprias, seu universo de profissionais e aparatos, seus desenhos particulares e modelos de negócios dentro do mercado. É um mercado amplo, onde ao mesmo tempo em que a paixão pelo cavalo é comum, a segmentação interna é ampla e inacreditavelmente diversificada.
Quem cria uma determinada raça vive dentro de um universo totalmente focado somente naqueles interesses. Um vizinho que crie outra raça vive em outro mundo, mas sempre todos têm o cavalo como fonte principal de motivação. A evolução ou desenvolvimento do Brasil como país vem mostrando em todos os mercados uma sinalização de amadurecimento, de desenvolvimento.
Com os cavalos não é diferente. Estamos hoje experimentando transformações interessantes do ponto de vista de conceitos, filosofias de trabalho, abordagens empresariais e situações do dia a dia que estão fazendo cada vez mais com que quem vive deste mercado tenha que mudar, se adaptar. Para que tudo isto seja aplicado de forma consistente, como nos países já maduros em cavalos, devemos passar um pouco por fatores históricos que nos levam a pensar nosso mercado.
História
Historicamente falando o Brasil não tem nem idade nem tempo suficiente de ser maduro em termos de conhecimento, técnicas e conceitos. Em um país de aproximadamente 500 anos, podemos considerar que a utilização do cavalo é muito recente comparada à Europa e mesmo EUA, e ainda de uma forma diferente destas localidades.
Enquanto as descobertas e guerras foram feitas a cavalo, no Brasil a utilização do cavalo veio de forma diferente. Sim, nas fazendas o cavalo trabalhava no dia a dia, mas muitas vezes em situações que não demandavam de conhecimento amplo, pois não era o cavalo meio de sobrevivência, mas sim na maioria das vezes de trabalho diário. Assim, por exemplo, quando um cavalo não trabalhava bem, era trocado. Quando um cavalo não atendia às necessidade do patrão, também era descartado. Isto fez com que se criasse no Brasil uma característica interessante: por não ter o cavalo como meio exclusivo de sobrevivência, a maioria das pessoas que andam a cavalo o fazem historicamente por esporte ou lazer. E, desta forma, não criou-se no Brasil a chamada cultura equestre em termos de conhecimentos amplos sobre Cavalos.
Mercado
Caminhando por esta estrada, temos a melhora da economia nacional a partir dos anos 90, e com isto mais pessoas procurando o cavalo como alternativa de lazer. Aumentam-se os praticantes das modalidades equestres em geral, há um incremento considerável no mundo das cavalgadas de finais de semana e com isto os ciclos de possíveis baixas começam a ocorrer com menos frequência, tornando o mercado do cavalo brasileiro mais forte economicamente falando. Insumos, equipamentos, prestação de serviços e toda a cadeia começa e enxergar, ainda que timidamente, uma opção interessante de mercado.
Mas, ainda que como um resquício da própria história passada, quem abastece o mercado economicamente o faz sem critérios qualitativos, ao contrário, quantitativos. A criação explode com mais cabeças do que a demanda em algumas raças, há uma invasão de produtos e equipamentos de baixa qualidade técnica, somente focados no “cliente pessoa” e não no “cliente cavalo” como deve ser e como é nos mercados já maduros. As importações chegam a galope, oferecendo uma grande leva de cavalos medianos. O mercado de cavalos mostra-se promissor, encantador e principalmente como uma oportunidade de se ganhar dinheiro. Talvez uma falsa verdade, ou uma verdade com restrições.
Obstáculos
Diante de todos estes novos componentes, alguns fatores ainda seguem sendo “obstáculos” no mercado. Aumentamos o volume geral em detrimento do aumento das pessoas que entraram para o nosso mercado, mas estas pessoas não têm conhecimento sobre cavalos, e precisam disto. Então, temos muita gente gastando muito com o cavalo, mas com pouco conhecimento. E isto reflete diretamente na evolução do nosso mercado, pois sem o conhecimento toda a cadeia sofre. Exemplos como equipamentos bonitos e de baixa qualidade técnica ainda são rotineiros no nosso mercado.
O mesmo ocorre com cavalos, que muitas vezes são considerados excelentes somente pelas linhagens genéticas, sem uma análise criteriosa de aspectos morfológicos. Assim, há atualmente uma evolução mais baseada em erros e acertos, experiências custosas e um certo empirismo do que poderíamos ter. Um segundo fator de extrema importância e mudança no contexto do nosso mercado tradicional para o atual é que mais de 70% de quem participa deste mercado como cliente (ou seja, que abastece financeiramente o mercado) são pessoas que querem o cavalo como hobby, e estão envolvidos com o cavalo há menos de 6 anos em média. Isto faz toda a diferença, pois estes entram com necessidade de conhecimento, precisam de profissionais altamente qualificados e têm, em média as referências visuais e de sensações mais fortes do que as técnicas nas tomadas de decisões cotidianas.
Então, por parte dos profissionais, empresas e prestadores de serviços, há que se ter uma enorme mudança na forma de atender estas pessoas. Um vendedor não vende mais ração, mas sim bem-estar, saúde, economia e qualidade. Por quê? Porque quem compra atualmente não compra ração. Compra satisfação em ver seu cavalo feliz, saudável e bem tratado. É o que podemos chamar da migração do cavalo de animal de produção quase que para o mercado “pet”.
Grande futuro
Este artigo pode parecer pessimista ou mesmo negativo, mas não o é. Ao contrário, é uma constatação percebida por muitos, e, além disto, uma oportunidade de reflexão e principalmente de planejamento do futuro do mercado. Quando comparamos nosso mercado equestre à Eurpoa ou EUA, devemos também constatar que estes são economicamente maduros, com pouco crescimento e sem muitas perspectivas de crescimento amplo. Todos os consumidores já têm tudo o que precisam, e somente existe a reposição sem entradas novas no mercado.
Da mesma forma, a tecnologia vem sendo encarada como o principal concorrente para a entrada de novos adeptos ao mundo dos cavalos, tanto na Europa com nos EUA. Em palestras que assisti na Federação Equestre Alemã, em março, deste ano, uma das reais preocupações expostas foi a da baixa taxa de renovação do quadro de associados.
E, por este e tantos outros cenários inversos encontrados no Brasil, vemos que temos um grande futuro no segmento. Acredito primeiramente que precisamos aumentar consideravelmente o volume de oportunidades de conhecimento. Cursos, palestras, workshops, seminários, já vêm sendo realizados em escala consideravelmente boa. O volume de profissionais estrangeiros ministrando cursos e participando de eventos no Brasil é muito grande. E isto mostra uma evolução grande do nosso mercado.
Mas ainda é pouco, pois pensando o segmento como um todo, analisamos que somente uma parcela das pessoas pode participar destes eventos especiais. É preciso formar profissionais.
Formação profissional
Quando falamos em formação profissional para o segmento, nos vem à mente o Médico Veterinário, o Zootecnista, o Engenheiro Agrônomo. Profissões nobres e tradicionais, de extrema importância para o segmento equestre, e que fazem parte da cadeia de produção do cavalo, assim como são os tradicionais solucionadores do mercado.
Mas, para este novo cliente, precisamos de mais. Um bom veterinário não pode se ocupar de cargos no dia a dia dos cavalos, mas sim do atendimento clínico destes, assim como os outros profissionais. Então, acredito que o próximo passo do Brasil será criar as reais profissões técnicas que o mercado precisa. Formar tratadores, ferradores, instrutores, treinadores, enfermeiros, administradores.
As chamadas profissões técnicas são essenciais como parte da evolução e amadurecimento do mercado. Por quê? Porque ao se formar técnico com certificação por entidades de renome, cria-se uma profissão. E, com a certificação de empresas e instituições de renome no mercado pela qualidade, conteúdo vai valer muito. Este vem sendo o papel da Universidade do Cavalo. Oferecer formação e capacitação nas profissões técnicas do dia a dia do mercado de cavalos. Em cursos de longa duração, tratadores, treinadores, instrutores, gestores em equinocultura vêm sendo apresentados ao mercado e conseguindo importantes colocações em diversos e diferentes centros equestres. Entram como conhecedores específicos em um segmento dentro do segmento do cavalo. São formados academicamente, em aulas diárias em cursos que vão de 15 dias a 4 ou 5 anos.
Nossa principal função é colocar no mercado as profissões que mais hoje fazem falta, e por isso nossos cursos não possuem pré-requisitos ou necessidade de muito conhecimento. Queremos formar quem quer trabalhar no mercado. São diversas opções e muitas oportunidades de trabalho. Conhecimento pode não ser a única chave para o sucesso e evolução do nosso mercado, mas com certeza é uma das mais importantes.
Mais informações: www.uccavalo.com.br