Dicas para evitar problemas, melhorar o manejo e métodos de prevenção
Apesar de pouco comentada, a saúde do casco é crucial para a produtividade e bem-estar dos bovinos, seja em rebanhos de corte ou leite. Problemas nos cascos podem, por exemplo, impactar a locomoção, reduzir a capacidade de alimentação e, como resultado, diminuir a produção e a fertilidade dos animais.
Dentre as enfermidades oriundas do manejo incorreto dos cascos dos bovinos, a claudicação está associada a queda na taxa de concepção e menor ganho de peso. Além disso, a dor crônica gera estresse e pode reduzir a imunidade, tornando os animais mais suscetíveis a outras doenças.
Diante desse cenário, o médico veterinário da Consapec, Péricles Ricardo Lacerda e Silva, aborda, de forma prática, os principais problemas, dá algumas dicas de cuidados preventivos e também orienta sobre as ferramentas adequadas para um bom casqueamento.
Problemas recorrentes
Dentre os principais problemas nos cascos de bovinos, o especialista destaca
as úlceras de sola e de linha branca, que são causadas, principalmente, por traumas mecânicos e pressão excessiva. “Esses traumas frequentemente surgem em pisos irregulares ou em superfícies com pedras e cascalho. Lesões localizadas na sola ou na linha branca do casco podem resultar em sangramentos e desconforto significativo, afetando a movimentação do animal”, comenta Silva.
Outros problemas são as dermatites digitais e interdigitais, consideradas infecções cutâneas comuns e altamente prevalentes. A dermatite digital, em particular, ocorre frequentemente em ambientes úmidos ou sujos e é causada por bactérias. O acúmulo de umidade amolece os cascos e facilita a entrada de patógenos, favorecendo infecções.
Considerado uma das infecções mais graves, o flegmão digital é causado pela bactéria Fusobacterium necrophorum, que provoca necrose tecidual. É uma infecção agressiva e dolorosa, frequentemente associada ao acúmulo de sujeira e à superlotação em confinamentos. “O tratamento exige antibióticos injetáveis, já que o sistema imunológico do animal tem dificuldade em combater essa bactéria por conta própria”, orienta o veterinário.
Ele destaca também as laminites, que podem ocorrer devido ao acúmulo de resíduos orgânicos e umidade, principalmente em sistemas de confinamento intensivo. Esse problema é agravado pela exposição prolongada a superfícies úmidas e com alta concentração de resíduos, além de estresse e falta de descanso adequado.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico das lesões de casco depende da observação, da localização e do aspecto das feridas. Lesões mecânicas, como úlceras, geralmente demandam a remoção da pressão sobre a área afetada. Já as infecções bacterianas, como dermatite e flegmão, precisam de antibióticos tópicos ou injetáveis.
Em casos de infecções cutâneas, produtos com minerais orgânicos são recomendados para evitar resistência antimicrobiana. “Tratamos aliviando o ponto, onde houve excesso de pressão, como uma intervenção local. Fazemos com lâminas apropriadas para fazer esse alívio da pressão”, explica o especialista.
Frequência de Casqueamento
A frequência de casqueamento varia de acordo com o tipo de rebanho e as condições ambientais. Para bovinos de corte, por exemplo, é recomendado a cada três meses para animais de alto valor, como touros reprodutores. Para o gado de campo com menor exposição a traumas, essa frequência pode ser reduzida.
Já para o gado de leite, o veterinário comenta que, o ideal é a cada quatro meses, embora muitas fazendas realizem apenas duas vezes ao ano. Essa prática ainda é suficiente para controlar a incidência de lesões em sistemas de manejo intensivo.
Prevenção e Manejo
Conforme ressalta Silva, prevenir doenças de casco envolve manter os animais em um ambiente seguro e confortável. Sendo assim, algumas medidas preventivas incluem controle de umidade e limpeza do ambiente, além de evitar superfícies ásperas e obstáculos, pois o contato com pedras e cascalho pode causar traumas mecânicos. É essencial evitar superfícies irregulares nos locais onde os animais transitam.
Outra dica preventiva é a prática do pedilúvio para o controle de infecções. “O pedilúvio é eficiente para desinfetar e proteger contra dermatites e flegmão digital, mas é menos relevante para problemas mecânicos dos cascos”, observa o especialista.
O excesso de estresse e a superlotação também podem forçar os animais a passarem mais tempo em pé, aumentando a pressão sobre os cascos. Sendo assim, acomodar os animais em espaços adequados e ambientes confortáveis promovem o descanso e reduzem o risco de doenças de casco.
Como escolher a melhor ferramenta para o casqueamento
A utilização de ferramentas adequadas é importante para a segurança e a eficiência do casqueamento. Esmerilhadeiras com discos específicos para casco são populares, permitindo cortes mais precisos e ágeis. Em alguns casos, bretes de contenção com sistemas de pistão podem facilitar o manejo, porém, é necessário cautela para evitar desconforto ao animal.
“É extremamente importante que a pessoa seja capacitada a trabalhar com essas ferramentas e discos, para evitar acidentes às pessoas, como também aos animais”, alerta o veterinário, que aproveita para esclarecer sobre a diferença entre os discos e suas especificações.
Os discos abrasivos, segundo ele, são aqueles geralmente feitos de material de lixa, semelhantes aos discos tradicionais de esmerilhadeira. Sua principal função é realizar um trabalho mais delicado e com menor agressividade ao casco. Porém, devido à menor capacidade de corte, eles são indicados para operações que demandam mais cuidado e menor urgência.
Já os discos com lâmina, que permitem uma operação mais rápida em comparação aos abrasivos, são aqueles que apresentam lâminas de corte com altura e agressividade variáveis, o que influencia diretamente a profundidade e a precisão do corte. “Quanto maior a altura da lâmina, maior será a capacidade de corte, tornando o trabalho mais eficiente”, explica Silva.
Entretanto, conforme lembra o veterinário, embora o disco com lâmina ofereça um ganho significativo de velocidade, é necessário que o operador receba treinamento adequado, pois seu manuseio exige precisão e habilidade, o que demanda tempo de aprendizado.
Vantagens do uso dos discos com lâmina
Na avaliação do profissional, um dos principais benefícios do uso de discos com lâmina é que eles não causam aquecimento excessivo na superfície do casco, ao contrário dos discos abrasivos. O aquecimento pode causar desconforto e até agressões físicas na unha do animal, impactando negativamente sua saúde.
Além disso, a ausência de aquecimento proporciona uma operação mais saudável para o animal, evitando danos e, consequentemente, contribuindo para auxiliar na preservação da estrutura do casco.
Esses pontos reforçam os benefícios dos discos com lâmina, destacando-se principalmente pela eficiência e pelo menor impacto físico, oferecendo uma alternativa mais saudável e produtiva para a operação de casqueamento.
“Fazer o cuidado preventivo com o casqueamento dos animais garante a eles bem-estar para que possam expressar ao máximo suas características produtivas. É um sinal importante de um rebanho saudável”, finaliza o veterinário.