Histórico

Uma das atividades esportivas seculares do planeta, o turfe, do inglês turf“, surgiu com objetivos principais de: promover corridas equestres, usar o cavalo em competições esportivas e entretenimento, fomentar, selecionar e aprimorar o cavalo de corrida em todos os hipódromos do mundo. De uma forma geral, envolve todo um sistema de criação, local de corrida, grandes prêmios, treinamento, público e apostas (Wikipédia).

Considerado o esporte preferido dos reis, príncipes e imperadores, esse antigo esporte hípico teve iniciação empírica na Grécia Antiga com descrição pela primeira vez de corridas de carros (bigas) atreladas ao cavalo. Coube a Homero, no seu poema épico Ilíada, descrever a primeira corrida de carros tracionada a cavalo realizada diante das muralhas de Tróia em homenagem fúnebre ao rei Pátroklos: (Livro 23) Ilíada. (ALENCAR, R.C. Raia Leve, 2006).

Da antiguidade aos dias atuais, o turfe foi o esporte que mais evoluiu e se aperfeiçoou no mundo. Primeiramente, na sequência do seu desenvolvimento e progresso, houve a preocupação com a formação da raça e seleção do cavalo de corrida, o que aconteceu durante os séculos XVII e XVIII, na Inglaterra, com o cruzamento dos garanhões Darley Arabian, Bierley Turk e Godolphin Barb, todos importados do Oriente Médio e África com matrizes inglesas selecionadas, dando origem ao PSI ou thoroughbred (tecnologianocampo.com.br. 2020).

Após o reconhecimento da nova raça, com a criação do primeiro Stud Book na Inglaterra, 1793, já no início do Séc. XVIII, o turf ganhava novo impulso através do monarca Jacob I, grande fomentador e incentivador de corridas, com a criação dos hipódromos de Croydon (Londres), Epson (Surrey) e Newmarket (Suffolk), todos na Inglaterra. Salienta-se que nessa época, o turfe torna-se o esporte preferido dos ingleses que lotavam os hipódromos na busca de lazer e entretenimento. Frequentar os hipódromos com lugares cativos nas tribunas de honra era privilégio das elites da sociedade inglesa e oportunidade para demonstrar poder, distinção e opulência social.

Consagrado como esporte das elites e burgueses que envolvia grandes somas de dinheiro em apostas, havia a necessidade de regulamentar os páreos nos hipódromos para proteger os cavalos de doping e os apostadores de fraudes, o que só aconteceu no ano de 1771, por iniciativa dos Reis Jorge IV, Guilherme IV e Carlos II membros da realeza, com a aprovação do Primeiro Código de Corridas. (ALENCAR, R.C. Raia Leve,2006).

Da Inglaterra, onde foi criado oficialmente, o turfe se expandiu por toda a Europa, América do Norte e Austrália criando fama, conquistando público e fazendo ídolos e heróis.

2.0 – Feitos gloriosos do turfe mundial

Com quase dois séculos de existência e atividade esportiva desde a primeira corrida oficial de cavalo realizada em Leger Stakes, inglaterra, 1830, até os dias atuais, uma pequena amostra do extraordinário legado do turfe ao esporte mundial pode ser visto nos itens a seguir:

Foto: Kelwin De Souza – Vista panorâmica do Hipódromo de Meydan-Dubai. O mais moderno e luxuoso racecourse do mundo

2.1 – Maiores hipódromos do mundo

2.1.1 Oriente Médio. Dubai, Hipódromo de Meydan Racecourse. Construído e inaugurado em 2010, em Dubai, o maior e mais moderno hipódromo do mundo ocupa uma área de 7.500 milhões de metros quadrados num complexo esportivo orçado em USS 2 bilhões de dólares e capacidade de 60.000 expectadores. Com pistas de areia e grama em circuito misto, curva e reta, o luxuoso prado possui ainda um Museu do Cavalo de Corrida, homenageando o turfe mundial. (es.m.wikipedia.org). 

2.1.2 Inglaterra. Condado de Berkshire, Hipódromo de Ascot Racecourse. Pertencente à família real britânica, o mais famoso e tradicional hipódromo da Inglaterra foi inaugurado em 1711 pela rainha Anne. Sua pista é de grama em circuito plano e onde se desenvolve, também, corridas com obstáculos. A primeira corrida em Ascot foi denominada “Her Majesty’s Plate”, realizada em 11 de agosto de 1711, com uma bolsa de 100 guinéus. A prova turfistica mais importante é a Ascot Gold Cup, que ocorre durante o evento Ladies Day.

2.1.3 Estados Unidos. Lousville, Kentucky, Hipódromo de Churchill Downs. Localizado no Kentuck, o mais tradicional hipódromo americano foi inaugurado em 1875 por Samuel Churchill, membro da nobreza americana e de Kentucky. Com área de 60 ha e capacidade para 170.000 expectadores, o circuito principal é oval medindo 1.600 metros de comprimento por 36 metros de largura. Sua principal prova turfística é o Derby Kentuck, distância de 2.000 metros, disputada em pista de areia, e que faz parte da Tríplice Coroa. Também denominada “Os dois minutos mais excitantes do esporte”, acontece no primeiro sábado do mês de maio de cada ano. (pt.m.wikipedia.org).

2.1.4 Austrália. Melbourne, Vitória, Hipódromo de Flemington Racecourse. Principal hipódromo australiano, o Flemington Racecourse se notabilizou no mundo por sediar a Melbourne Cup, a competição mais valiosa do turfe, bem como a corrida mais longa (3.200 metros), e o maior prêmio mundial ao vencedor. A primeira corrida foi realizada em março de 1840. O circuito tem um formato de pêra com pistas em grama e areia, uma circunferência de 2.312 metros e uma reta de 1.300 metros, chamada reta “seis”. O Flemington sofreu reformas estruturantes no ano 2000 nos setores de arquibancadas e tribuna de honra. A sua capacidade atual é de 120.000 expectadores, e seu maior evento turfístico é o Victoria Derby Day.

2.2 – Os fantásticos cavalos de corrida do Séc. XX

Nesse item, cronologicamente, registra-se uma seleção de cavalos, grandes campeões, que com suas extraordinárias performances fizeram história no turfe internacional nos principais prados do mundo no Séc. XX.

2.2.1 Man O’War. Puro sangue Inglês (PSI) americano, castanho, nascido em 29 mar 1917, por Fair Play x Mahubah, proprietário Samuel D. Riddle e treinador Louis Feustel, Stud Nursery Lexington/Kentucky. Durante sua curta carreira de 2 temporadas (1919-1920), venceu 20 das 21 carreiras que disputou estabelecendo sete recordes para várias distâncias. Em 1920, ganhou o Preakness Stakes e o Belmont Stakes, mas seu dono se recusou a inscrevê-lo no Derby Kentucky, negando ao Man O’War a oportunidade de ganhar o que mais tarde ficaria conhecido como a Tríplice Coroa Americana. Por sua inigualável façanha hípica, várias revistas esportivas especializadas, incluindo The Blood-Horse, Sports Ilustrated, ESPN e Associated Press, votaram em Man O’ War como o melhor cavalo de corrida americano do século XX. Em 1957, foi incluído no National Museum of Racing and Hall of Fame. Ganhou a notável quantia de USS 249.465 em prêmios. Morreu em 1º de novembro de 1947. (em.m.wikipedia.org).

2.2.2 Seabiscuit. PSI americano, baio, nascido na Fazenda Claiborne, Lexington/Kentucky, em 23 maio de 1933, por Hard Tack x Swing On, proprietário Charles Howad e treinador Tom Smith. Considerado uma lenda no turfe americano, Seabiscuit foi o cavalo de corrida mais premiado até a década de 1940, com um rateio de US$ 437.730 dólares. Das seis temporadas que participou (1935 -1940), venceu 33 clássicos dos 89 que disputou, inclusive a Tríplice Coroa Americana (1937). Foi tema de livros e filmes. Em 1947, entrou na galeria do National Museum of Racing’s Hall of Fame em 1988.

2.2.3 Seatle Slew. Um dos dois únicos cavalos americanos a ganhar a Tríplice Coroa Americana, por duas vezes, “Massacre de Seattle” nasceu em fevereiro de 1974 na fazenda White Horse Acres, Lexington/Kentucky, por Bold Reasoning x My Charmer, proprietário Miheu e Karen Taylor. Cavalo do ano americano de 1977 e campeão dos 2, 3 e 4 anos, foi considerado pela revista especializada americana Blood Horse o nono maior cavalo de corrida americano de todos os tempos, entre os cem listados nos USA. Em 1977, por ter ganho a Tríplice Coroa Americana, invicto, nasceu a “Slewmania”, forma de como os amantes do turfe americano lotavam os hipódromos para aplaudir as corridas vencedoras do seu ídolo e herói. A Slewmania era uma febre e uma paixão desenfreada pelo grande campeão americano. Morreu em Kentuck, USA, aos 28 anos de idade. Deixou uma formidável fortuna para seus proprietários de US$ 1.208,726.

Foto: Estátua em homenagem a Secretariat, considerado o melhor cavalo de corrida dos últimos 50 anos: Diary of na OTTB

2.2.4 Secretariat. Biggest Red, Grande Vermelho. Nascido na fazenda Meadow, Doswell/Virgínia, em 1970, alazão, produto do cruzamento entre Bold Ruler x Somethingroyal, proprietário Christopher Chenery, treinador Lucien Laurin, venceu a Tríplice Coroa Americana de 1973, após 25 anos, corrida de Belmont, com 31 corpos de diferença do segundo colocado, fato inédito em grandes prêmios da Tríplice Coroa, é considerada uma das maiores corridas da história do turfe. Considerado o cavalo mais importante da metade do Séc.XX, Secretaritat foi considerado também o cavalo do ano de 1973 e impressionava pela velocidade de arremate do fim das corridas. Nas três corridas que fazem parte da Tríplice Coroa Americana, 1973, (Kentucky Derby, Preakness Stakes, Belmont Stakes) bateu o record de tempo em todas elas. Secretariat foi introduzido no Natural Museum of Racing and Hall of Fame em 1974. Morreu em 1989, com 19 anos, e deixou para seus proprietários a invejável soma de US$ 1.316.308 dólares (em.m.wikipedia.org).

2.3 – Os maiores jóqueis de todos os tempos

Faz-se nesse item, uma justa, merecida e honrosa homenagem aos três melhores, maiores e vitoriosos jóqueis de todos os tempos no mundo.

2.3.1 Sir Laffit Alejandro Pincay Junior. Panamenho, nascido no Panamá em 29 dezembro de 1946, aprendeu a montar com seu pai, também jóquei, nas pistas do Panamá e Venezuela, 1966. Radicado nos USA, começou sua carreira em Arlington Park, Chicago, onde venceu, no inicio da carreira, oito carreiras de onze que participou. Durante sua carreira, que durou cerca de 37 anos (1966 -2003), foi agraciado com vários prêmios, sendo os principais: 1970, ganhou o prêmio George Voolf Memorial Jockey, que homenageia um jockey cuja carreira e conduta pessoal exemplificam o melhor exemplo entre os competidores de corrida de cavalo. Em 1996, foi homenageado com o Prêmio Memorial Mike Venezia pelo “extraordinário espírito esportivo e cidadania”. Ele ganhou o Prêmio Eclipse de melhor jockey em cinco ocasiões, e foi o principal jóquei dos Estados Unidos sete vezes. Encerrando sua exitosa carreira no ano de 2003, com 9.530 vitórias, considerado como o 3º maior jóquei de todos os tempos, Laffit foi introduzido no “National Museum Racing and Hall of Fame”. (em.m.wikipedia.org).

2.2.2 Sir. Russel Avery Baze. Canadense nascido na cidade de Vancouver, em 7 de agosto de 1958, o vice campeão mundial de corrida de cavalo, com 12.842 vitórias, iniciou sua famosa carreira turfística no hipódromo de Walla Walla em Washington, em 1974, e venceu sua primeira carreira em Yakima Meadows nessa metrópole americana com apenas 16 anos. Durante sua longa carreira de 42 anos dedicada ao turfe manteve uma rivalidade ferrenha de liderança com seu amigo e colega Laffit Pinkay. Baze se aposentou com 57 anos, e obteve 12.842 vitórias, das 53.578 vezes que montou, em quatro décadas de atividade. Foi tema do filme “Story of a Jockey, Baze Lost in the fog”, do cineasta  Kyle Kaenel. Foi distinguido em 1999 com os  prêmios George Woolf Jockey Award e Eclipse Special Award. Como grandes homenagens foi incluído no United States Racing Hall of Fame (1999) e Washington Sports Hall of Fame (2000). Aposentou-se em 2016. (em.m.wikipedia.org)

2.2.3 Sir Jorge Antonio Ricardo. Filho do vitorioso jóquei brasileiro, o catarinense Jorge Alfredo Ricardo, nasceu no Rio de Janeiro, em 30 setembro de 1961, e aos 15 anos de idade, sob orientação de seu pai, mestre e professor, entrou para a Escola de Aprendizes, no Jóquei Clube Brasileiro, Gávea- RJ. Em 16 novembro de 1976, conseguiu sua primeira vitória no dorso do cavalo Taim. Em 1977, iniciou sua exitosa carreira profissional. Consagrado e referenciado internacionalmente, J. Ricardo, como é conhecido no mundo do turfe, com mais de 47 anos de carreira (1977-2022), recordista mundial com 12.845 vitórias, quebrou o recorde mundial de todos os tempos no grande prêmio de San Isidro, Argentina, 4º páreo, 4ª feira, 7 de fevereiro de 2018, vencendo a prova montando Hope Glory, (horse, 2018).

Atualmente, com 13.216 vitórias, 31 de julho de 2022, e montando nos principais hipódromos do Brasil e Argentina, Ricardinho, em plena atividade, conseguiu inserir seu nome no Hall mundial da fama, vencendo os famosos jóqueis Russel Baze e Laffit Pinkay, seus principais rivais competidores.

Do seu vasto, glorioso e inigualável “Curriculum Vitae” distinguem-se:

Gran Premio Asociación Latino Americana de Jockey Clubes e Hipódromos (1991, 1994, 1996, 1998, 2007);  Grande Prêmio Brasil (1992/1994 ); Grande Prêmio de São Paulo (1994/2005); Gran Premio Carlos Pelegrini (1994/2003); Gran Premio Joaquim S. de Anchorena (2006) e Gran Premio Internacional José Pedro Ramirez (2007).

Brazilian Champion Jockey (1982/2006). (en. m.wikipedia.org, 2022).

 3.0 – O Turfe no Brasil 

O turfe, como atividade esportiva, econômica, social e lazer, chegou ao Brasil no início do Séc. XIX, oriundo da Inglaterra, em quatro grandes cidades do país: Rio de Janeiro-RJ (1825), Recife-PE (1860), São Paulo-SP  (1876) e Porto Alegre-RS, (1881). Dos prados e hipódromos iniciais implantados naquela época, até a metade do Séc. XX, o turfe ganhou popularidade e projeção esportiva e social dando origem aos maiores hipódromos do país como: Jóquei Clube Brasileiro/Hipódromo da Gávea; Hipódromo Cidade Jardim, São Paulo e o Hipódromo Cristal, Porto Alegre.

A historiografia do turfe no Brasil confunde-se com a história do Jóquei Clube Brasileiro-JCB, agremiação equestre desportiva que no seu progresso e evolução institucional passou por mudanças de locais, diretorias e transformações patrimoniais, assim registradas: 1847, fundação do Clube de Corridas, bairro São Francisco Xavier e Presidente Luiz Alves de Lima e Silva, o Conde de Caxias; 1868, refundado por um grupo de comerciantes liderados pelos Dr. Costa Ferraz e Conde Hersberg com o nome de Jockey Club. Por desentendimento administrativos com o Grupo dirigente do Jockey Club, o renomado engenheiro Paulo de Frontin, dissidente, resolve fundar em 1884 o Derby Clube, local onde hoje é o Maracanã. Em 1870, é criado o primeiro stud book no Brasil, apenas para cavalos nascidos no país. Em 1873, há o primeiro páreo destinado à raça puro-sangue inglês no Brasil. Em 1875, surgem os páreos denominados Grandes Prêmios. O primeiro Grande Prêmio que chamou a atenção foi o Grande Premio Cruzeiro do Sul, disputado no Jockey Club a partir de 1883, com similitudes ao Derby de Epson. O Derby Club passou a apresentar o Grande Prêmio internacional Rio De Janeiro, em 1885. Em 1903, o Jockey Club inicia os páreos chamados Clássicos. Em 1932, os dois principais clubes turfísticos da cidade do Rio de Janeiro, Derby Club e Jockey Club, fundiram-se constituindo o atual Jóquei Clube Brasileiro-JCB, com corridas no Hipódromo Brasileiro, construído na Gávea e rebatizado Hipódromo da Gávea. Atualmente, o maior evento de corrida de cavalo do Brasil é o famoso e tradicional “Grande Prêmio Brasil”, criado em 1933, pelo presidente do JCB, Lineu de Paula Machado, e realizado no primeiro domingo de agosto de cada ano, no Jóquei Clube Brasileiro. (História do Turfe, wikipedia).

Foto: JCB – Jockey Club Brasileiro – Hipódromo da Gávea – Rio de Janeiro. Mais belo, charmoso e tradicional templo do turfe do Brasil

 

Edino Camoleze – Med Vet Mil – Cel R/1, MS Tecnologia de Alimentos; Zoogeografia da América do Sul; Acadêmico Titular da ABRAMVET . E mail: edino0644@gmail.com
Foto de capa: Revista horse – 7 de fevereiro de 2018. Ricardo bate o recorde mundial de vitórias (12.845) no Hipódromo São Isidro/Argentina, montando Hope Glory