A Cinomose é uma doença infectocontagiosa causada por um Morbillivirus. Geralmente, os animais acometidos são cães, mas outros mamíferos também podem ser afetados, como o lobo guará e os grandes felinos. Devido à combinação da perda da imunidade passiva provida pela mãe e realização incorreta da vacinação, os animais mais jovens são os mais acometidos. A doença é transmitida através de secreções (saliva, lágrimas etc.) e excreções (fezes, urina etc.) do animal, possibilitando a sua rápida disseminação. Geralmente o controle é difícil pois além do vírus ser eliminado por várias vias, essa eliminação ocorre por até 90 dias após a cura clínica.
O vírus causa uma doença sistêmica, sendo os sistemas respiratório, digestório e nervoso os mais acometidos, desse modo, os sinais clínicos cursam com falta de apetite, desidratação, tosse, vômito, diarreia, convulsões, perda dos movimentos nos membros posteriores, hiperqueratose e outros. Vários animais que são curados convivem com as sequelas da doença durante toda a vida.
Quanto ao diagnóstico, diversos métodos são possíveis, desde a avaliação clínica até a detecção de anticorpos (ELISA), antígenos (RT-PCR) e estruturas dentro das células que sejam características (Imuno Histoquímica).
O principal mecanismo de prevenção é a vacina, sendo esta muito eficaz, com capacidade de gerar respostas imunes duradouras e proteger os animais na fase mais crítica para ocorrência da doença (3 aos 6 meses).
Quanto ao tratamento, não há disponibilidade de antiviral veterinário no mercado capaz de prover resposta efetiva contra o agente da doença, tampouco protocolos preestabelecidos que norteiam o tratamento de suporte. Atualmente, faz-se terapia sintomática e com soro hiperimune, que na fase neurológica da doença, ajuda a melhorar a imunidade do hospedeiro fazendo a soroneutralização do vírus.
E as nanopartículas?
Nos últimos anos, a prata vem sendo estudada por seu efeito microbicida, já tendo sido registrado sua ação, por exemplo, sob culturas virais do Herpesvírus humano e da Hepatite B humana, em que ela foi capaz de impedir a ligação dos vírus com a célula e sua consequente entrada.
Um estudo clínico desenvolvido no México com pacientes caninos acometidos pelo vírus da Cinomose, foi possível avaliar a eficácia do tratamento com nanopartículas de prata em pacientes de dois hospitais veterinários locais. Os animais foram divididos em quatro grupos , como se segue:
- Grupo 1a: Animais diagnosticados com Cinomose que ainda não tinham desenvolvidos sinais neurológicos, tratados com terapia de suporte e tratados com as nanopartículas.
- Grupo 1b: Animais diagnosticados com Cinomose que ainda não tinham desenvolvidos sinais neurológicos, tratados com terapia de suporte e que não foram tratados com as nanopartículas.
- Grupo 2a: Animais diagnosticados com Cinomose que tinham desenvolvidos sinais neurológicos, tratados com terapia de suporte e tratados com as nanopartículas.
- Grupo 2b: Animais diagnosticados com Cinomose que tinham desenvolvidos sinais neurológicos, tratados com terapia de suporte e que não foram tratados com as nanopartículas.
Utilizando protocolo padronizado de tratamento para todos os cães e fazendo o teste de modo randomizado duplo-cego, pode -se observar a eficácia do tratamento usando as nanopartículas de prata, principalmente em animais que ainda não haviam desenvolvido a forma nervosa da doença. A maior parte dos animais nesse grupo se recuperou sem que houvesse sequelas, entretanto, para os animais cujos sintomas neurológicos já estavam instalados, e aqueles que não receberam o tratamento com as nanopartículas, a taxa de sucesso foi significativamente menor, demonstrando resultados promissores no tratamento com essa terapia, sobretudo quando diagnosticada antes dos sinais nervosos.
Os autores ainda discutem sobre a importância de uma imunidade fortalecida aliada ao tratamento, pois aqueles animais em que a resposta imune foi sobreposta pela ação do vírus, o tratamento foi ineficaz, assim, se nota a importância de um diagnóstico rápido e no início da manifestação da doença, dando maiores chances ao paciente.
Novos estudos ainda se fazem necessários, entretanto, a terapia com nanopartículas nesse primeiro ensaio clínico obteve resultados muito relevantes, que podem significar uma nova fronteira no tratamento de uma doença incapacitante e muitas vezes letal.
Referências
ÁVILA, Carlos Manuel de. Revisão de literatura: Cinomose canina. 2021. 27 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2022.
BOGDANCHIKOVA, Nina et al. Silver nanoparticles composition for treatment of distemper in dogs. International Journal of Nanotechnology, v. 13, n. 1-3, p. 227-237, 2016.
GASTELUM-LEYVA, F. et al. Evaluation of the Efficacy and Safety of Silver Nanoparticles in the Treatment of Non-Neurological and Neurological Distemper in Dogs: A Randomized Clinical Trial. Viruses 2022, 14, 2329. 2022.