Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade, pandemia mundial do século XXI, mais do que duplicou desde 1980. Em 2014, mais de 1,9 biliões (39%) de adultos tinham excesso de peso, 600 milhões (13%) dos quais eram obesos. Mais preocupante ainda quando se observa que 41 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos têm excesso de peso ou são obesas.

O conceito de obesidade leva implícito um transtorno prejudicial para a saúde do animal, sendo esta, capaz de aumentar a incidência de algumas enfermidades. A obesidade pode provocar distúrbios como Hiperlipidemia, alterações ortopédicas,alterações cardiovasculares, alterações respiratórias, resistência insulínica e diabetes mellitus (DM).

Com o isolamento social, muitas pessoas acabaram interrompendo a sua rotina de atividades físicas ou até mesmo de uma vida mais ativa em situações do dia a dia. Além disso, o estresse gerado pelo clima de incertezas provocado pelo novo coronavírus também levou parte da população a descuidar da alimentação, seja por ansiedade ou pelo conforto proporcionado por alguns pratos ricos em carboidratos. E pasmem, até os animais de companhia também foram afetados.

Atualmente, mais de 50% da população mundial de cães e gatos sofre com a obesidade e sobrepeso, sendo essa a condição clínica mais importante nos dias de hoje. Após o início da pandemia do novo Coronavírus, observamos uma radical mudança no cenário doméstico dos lares brasileiros. Os chefes de família estão trabalhando remotamente (home-office) ficando mais em casa, os filhos não estão indo mais para as escolas, está ocorrendo o distanciamento social e as atividades ao ar livre estão super restritas.

Com isso, os animais estão mais sedentários e confinados, além de estarem convivendo boa parte do dia-a-dia na companhia de toda a família, o que até o início do ano não ocorria. Sendo assim, a obesidade e o sobrepeso são tendências naturais a ocorrerem, caso não haja uma percepção adequada perante os proprietários e tutores.

 

Os proprietários contribuem significativamente para o ganho de peso em seus animais, por meio de falhas no ajuste das necessidades alimentares individuais, dificuldade de reconhecer a obesidade de seu animal, oferta de petiscos ignorando o seu valor energético, permissão do comportamento de súplica por alimento e prática insuficiente de exercícios (MARKWELL & BUTTERWICK, 1994).
Estudo recente, que avaliou a opinião de mais de 200 proprietários sobre a condição corporal de seus animais, verificou que estes subestimam em 20% ou 30% o sobrepeso de seus cães (SINGH, et al., 2002).

De um modo geral, a obesidade dificulta a avaliação clínica de um animal. Num exame físico a um paciente obeso, a auscultação torácica, a palpação abdominal e os exames complementares de diagnóstico, especialmente a ultrassonografia, são de difícil execução.

O manejo alimentar inadequado em nosso país, predispõe enormemente a obesidade. Observa-se que a ração permanece sempre disponível, e no horário das refeições o animal na maioria das vezes, recebe alimento caseiro, o que conduz a um superconsumo de calorias. Super importante ressaltar que as endocrinopatias correspondem a no máximo 5% da obesidade canina.Os latinos, aí incluem-se os brasileiros, tendem a agradar seus animais oferecendo porções extras de alimentos, petiscos ou sua própria refeição. Muitas destas pessoas têm o entendimento de que “animal saudável” é o que come bem, o famoso “gordinho”. São estes costumes, combinados a uma rotina de falta de exercícios, pode trazer consequências graves para a saúde do animal.

Para os que ainda não podem sair de casa, uma dica é tentar novas maneiras de interação dentro de casa com brinquedos para ambientes internos que muitas das vezes, ajudam a estimular a mente e exercitar o corpo do cão. É bem sugestivo também colocar o alimento em comedouros interativos que desafiam o animal a “conquistar” sua refeição, além de diminuir a velocidade de consumo. Enfim, melhor se reinventar do que ter que medicar.

 

Diogo Alves da Conceição.
Vice-presidente do CRMV-RJ
Vice-presidente da ANCLIVEPA-RJ
Acadêmico Titular da Academia de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (AMVERJ).