Ana Elisa Fernandes de Souza Almeida, presidente do CFMV, graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia em três mandatos (2008 a 2009; e de 2013 a 2019). Presidente da Sociedade de Medicina Veterinária da Bahia (de 1999 a 2006; e em 2019).

Foi a primeira mulher a ocupar um cargo na Diretoria Executiva do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), no cargo de vice-presidente, na gestão 2020-2023, sendo, consequentemente a primeira mulher a presidir o órgão.

ABB _ Como a primeira mulher a presidir o Conselho Federal de Medicina Veterinária, como você se sente ao assumir esse importante desafio?

Ana Elisa _ É uma responsabilidade muito grande e também uma quebra de paradigmas. Mas sempre encarei isso de maneira natural, como consequência de um trabalho que realizo desde que iniciei a minha carreira. A Medicina Veterinária, historicamente, era uma profissão de predominância masculina, o que tem mudado de um tempo para cá. Hoje, somos 58% do total de profissionais atuantes. Então, nada mais justo que o interesse feminino e a participação das mulheres nos cargos de direção cresçam também. A confiança que os meus colegas depositam em mim muito me orgulha, me alegra e me motiva a continuar me dedicando não só à Medicina Veterinária, mas também à Zootecnia e a participar de atividades como representante dessas profissões. A participação feminina no CFMV já é uma realidade. Temos ao nosso lado cinco mulheres que se tornaram conselheiras e estão realizando um trabalho belíssimo. Duas delas, inclusive, já foram presidentes de conselhos regionais.  E, atualmente, contamos também com cinco mulheres na presidência de conselhos regionais em todo o país.

ABB _ A legislação que regula o Sistema CFMV/CRMVs talvez precise de modernização. Qual a visão da atual gestão sobre como aprimorar esse mecanismo para melhor atender às necessidades da profissão?

Ana Elisa _ A missão do CFMV é promover a valorização e o desenvolvimento da Medicina Veterinária e da Zootecnia, assegurando a qualidade dos serviços prestados à sociedade. Alinhado a essa missão, o CFMV compreende que a legislação que regula o Sistema dos Conselhos é fundamental para garantir a excelência na atuação dos profissionais e a proteção da saúde pública e do bem-estar animal.

Em relação à legislação, concordamos que, em alguns aspectos, há espaço para modernizações que tornem o Sistema mais eficiente e adaptado às novas realidades do mercado e da sociedade. No entanto, é essencial que qualquer mudança legislativa preserve os princípios de ética, responsabilidade e qualidade que norteiam nossas profissões.

Em relação ao financiamento do Sistema dos Conselhos, é importante destacar que os recursos são utilizados para garantir a fiscalização do exercício profissional, a formação continuada, a promoção de pesquisas e o desenvolvimento de políticas públicas. A transparência na gestão desses recursos é um dos valores fundamentais do CFMV, assegurando que cada centavo seja empregado para fortalecer a profissão e proteger a sociedade. Temos muito orgulho de sermos transparentes. Não há nenhum ato sequer do Conselho que não se torne público e acessível a todos. Qualquer informação pode ser checada no Diário Oficial da União e no Portal da Transparência. A transparência do CFMV foi reconhecida no Tribunal de Contas da União, coma nota máxima entre todos os conselhos profissionais. Estamos falando do Índice Integrado de Governança e Gestão Públicas do TCU. Isso é muito importante! E para que essa avaliação seja mantida e a gente continue melhorando, é importante o envio de comentários, críticas e sugestões por meio da Ouvidoria para consolidar um canal de interação entre o CFMV, a sociedade e o Estado.

Portanto, enquanto reconhecemos a necessidade de atualizações na legislação, é crucial que essas mudanças sejam realizadas de forma a garantir que o CFMV e os Conselhos Regionais continuem a cumprir suas missões de maneira eficaz, com o poder e os recursos necessários para assegurar a qualidade dos serviços veterinários e zootécnicos no Brasil.

ABB _ O Brasil tem um número expressivo de faculdades de Medicina Veterinária, superior ao total de outros países. Algumas dessas instituições, inclusive, oferecem ensino à distância. Quais desafios e oportunidades isso representa para a formação de novos profissionais? O que o CFMV pode fazer para garantir a qualidade desses cursos?

Ana Elisa _ A questão da Educação e da qualidade do ensino das profissões é algo que muito nos preocupa. Só na Medicina Veterinária, o Brasil tem mais de 400 cursos. Então, a gente observa que o cenário requer um olhar ainda mais cuidadoso. Por isso, desde os primeiros dias, temos estreitado as relações com o Ministério da Educação, com o Inep e com outros agentes do setor para que o CFMV amplie sua participação consultiva nesses ambientes. Uma das conquistas mais recentes é a suspensão por parte do MEC de novos cursos na modalidade EaD até março de 2025. A decisão do ministério vem na esteira de uma série de pedidos e encontros propostos pelo CFMV com argumentos para que a Medicina Veterinária ficasse de fora do rol de cursos de graduação que poderiam ser ministrados à distância. A gente não pode imaginar que um aluno que esteja longe, sem contato com a parte prática da profissão, consiga prestar um serviço satisfatório à sociedade. O EaD é uma ferramenta inclusiva, mas precisamos ter uma série de critérios e cuidados. As discussões têm avançado e estamos confiantes no processo.

Também estivemos com o Inep para discutir o modelo de avaliação presencial de cursos de graduação. A partir de setembro, a gente vai integrar uma comissão instalada pelo instituto para cooperar na análise dos locais de ensino. As instituições precisam estar adequadas para garantir ao futuro profissional todo o conhecimento necessário que é exigido pelo mercado de trabalho. Quando agimos dessa forma, além de valorizar as profissões, estamos cuidando do bem-estar animal, da sociedade e do ambiente. Cabe destacar que nem o Conselho Federal de Medicina Veterinária, nem qualquer outro conselho profissional tem ingerência em qualquer dos processos estabelecidos pelo Ministério da Educação.

ABB _ Os Conselhos poderiam desempenhar um papel mais amplo e ativo no desenvolvimento da Medicina Veterinária e da Zootecnia, além da fiscalização do exercício profissional? Quais iniciativas são vistas como possíveis e desejáveis para fortalecer a nossa área?

Ana Elisa _ A valorização profissional é uma questão central para o Sistema CFMV/CRMVs. Várias iniciativas têm sido implementadas para promover essa valorização entre os profissionais da área. Uma das mais recentes é a articulação junto ao Senado para a criação da Caixa de Assistência, cujo Projeto de Lei foi protocolado. A partir desta criação, médicos-veterinários e zootecnistas terão acesso a uma série de benefícios, entre os quais estão compra de equipamentos, assistência médica, hospitalar e dentária, bolsas de estudos e auxílio-funeral. Outras ações incluem educação e capacitação, reconhecimento e premiações, melhoria das condições de trabalho, campanhas de conscientização, iniciativas de saúde única, incentivo à pesquisa e desenvolvimento, proteção ao bem-estar animal e comunicação e transparência. Essas ações combinadas refletem o compromisso do Sistema com a valorização dos profissionais da Medicina Veterinária e Zootecnia, buscando fortalecer a profissão e garantir que seus membros sejam devidamente reconhecidos e valorizados pela sociedade. Enfrentamos diversos desafios significativos para o futuro. Alguns dos principais são: atualização e aperfeiçoamento das normas; educação continuada; valorização da profissão; fiscalização e ética profissional; bem-estar animal; integração com outras áreas da Saúde; digitalização e inovação; sustentabilidade e responsabilidade ambiental; apoio à adaptação ao mercado de trabalho e empreendedorismo por causa das constantes mudanças; e representatividade e participação dos profissionais.